Ex-jogadores investem na carreira administrativa

Roberto Dinamite no Vasco, Branco no Fluminense, Antônio Carlos no Corinthians… Em todo o País, cada vez mais ex-jogadores estão trocando as chuteiras pela cartola.

Os cargos e funções podem ser diferentes, mas o desafio de repetir nos bastidores o mesmo sucesso dos gramados persegue os novos “craques” da administração.

A nova tendência chegou com força total à dupla Atletiba. No Atlético, o ex-zagueiro Edinho Nazareth é o novo “dono da bola”. Após uma completa reformulação no CT do Caju, ele assumiu o cargo de diretor de futebol.

Um desafio inédito para quem disputou três Copas do Mundo como jogador, já foi técnico e empresário. O Coritiba aposta em Paulo Jamelli. Ex-meia no São Paulo, Santos, Atlético-MG, Corinthians, Japão, Espanha e na seleção brasileira, ele dá seqüência no Coxa à carreira de gerente de futebol. Função que assumiu pela primeira vez no Grêmio Barueri, logo no dia seguinte ao que pendurou as chuteiras.

Em entrevistas exclusivas à Tribuna, Edinho e Jamelli contam como está sendo a experiência e quais seus planos e objetivos à frente do futebol dos principais clubes do estado.

“Dormi jogador e acordei gerente”

Paraná-Online – Vários ex-jogadores estão se tornando dirigentes. É uma nova tendência?

Jamelli – É uma tendência que começou na Europa. O que se chama lá de manager, que é o secretário técnico, são todos ex-jogadores. Hoje, quando chegam ao final da carreira, os atletas já estão se preparando. Muitos estão indo para essa função, que antes nunca foi remunerada. Com a profissionalização, é necessário ter um especialista, que esteja 24 horas no clube. Os clubes estão vendo que necessitam de uma pessoa que tenha passado pelo outro lado. Por já ter jogado, o ex-atleta sabe entender o jogador, numa negociação ou qualquer problema que aparece.

Paraná-Online – Por que demorou tanto para isso acontecer?

Jamelli – Os clubes ainda são muito paternalistas. Sempre fica o mesmo presidente muito tempo. Então ele tem sua maneira de trabalhar, seus colaboradores de confiança. Mas chegou num momento que é necessário ter profissionais em todas as áreas.

Paraná-Online – Como foi sua passagem do campo para essa nova função?

Jamelli – As coisas mais difíceis na carreira de um jogador são quando ele se machuca e quando ele pára. Comigo, aconteceram simultaneamente. O meu joelho não me deixava jogar mais. Quando eu fiz a primeira cirurgia, fiquei muito tempo parado e comecei a me preparar, fazer cursos. Parei de jogar num domingo, quando acabou o campeonato paulista, e na segunda-feira comecei a trabalhar no Grêmio Barueri como gerente. Dormi jogador e acordei gerente.

Paraná-Online – Como foi a vinda para o Coritiba?

Jamelli – Eu não conhecia ninguém aqui. Tinha apenas o contato de jogar contra. Foi através de uma sondagem, quando me ligaram perguntando se eu tinha interesse em vir. Vim para cá, fiz uma entrevista e fizemos um acordo bem rápido.

Paraná-Online – Você chegou num momento conturbado, com a saída do Edison Mauad e do Tonico Xavier. Como foi esse começo?

Jamelli – Meu mercado sempre foi o paulista. Ao chegar no Paraná, num clube grande, numa situação de êxito, com uma diretoria nova, você cai meio de pára-quedas. Acho que isso foi bom. Cheguei livre de qualquer vício ou tendência. Para mim, todas as pessoas eram iguais. Não sabia se era oposição ou situação. Tendo essa análise fria, é mais fácil enxergar onde há problemas ou não.

Paraná-Online – Quais seus objetivos imediatos e em longo prazo?

Jamelli – Imediato é ganhar do Palmeiras, depois do Figueirense e acostumar esse time a vencer. Em longo prazo é fazer o time chegar à Lib,ertadores, se possível ser campeão. No ano que vem, que é o centenário, montar um grande time. Segurar o máximo de jogadores que conseguirmos e vender alguns, porque o clube precisa, e fazer a reposição. Sabemos que vamos perder o Keirrison. Vamos tentar descobrir outro. Assim como qualquer outro que venha a sair. Fora isso, montar uma estrutura melhor no CT, para as categorias de base e aqui no Couto.

Paraná-Online – Já começou a planejar a temporada 2009?

Jamelli – Isso tem que começar a ser feito agora. Tem que manter uma base e apostar nos jogadores revelados aqui. Poucos clubes têm tantos jogadores da casa jogando no time principal. Esse é um trabalho que precisa ser preservado e melhorado. Fora isso, é trazer, junto com a diretoria e a comissão técnica, os jogadores certos, que sejam pessoas responsáveis e possam ajudar o time.

Paraná-Online- Se o time chegar à Libertadores, o planejamento muda?

Jamelli – É claro, mas nunca se pode ter uma diferença muito grande. Se classificar, o que muda são alguns detalhes, alguns luxos, como trazer algum jogador mais caro. São pequenos ajustes. Mas a base do time muda pouco.

Edinho: é a evolução do futebol

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Edinho, no Atlético, na nova carreira.

Paraná-Online- Vários ex-jogadores estão se tornando dirigentes. É uma nova tendência?

Edinho – A lacuna que existia entre a diretoria e a parte técnica era muito grande. No dinamismo do futebol, se está encurtando esse elo entre a diretoria e a comissão técnica, falando a mesma linguagem. Esse cargo faz essa ligação entre os departamentos.

Paraná-Online – Por que demorou tanto para isso acontecer?

Edinho – Pela evolução do futebol. Houve um freio de mão, pois as pessoas não queriam se convencer que isso era importante.

Paraná-Online- Quais seus objetivos imediatos e em longo prazo?

Edinho – O objetivo imediato é sair dessa situação. A posição que estamos é muito desconfortável, pois gera insegurança. O planejamento em longo prazo é colocar o clube numa situação compatível com a estrutura que tem. O Atlético tem que ter a mentalidade, a responsabilidade e a cobrança de ficar entre os primeiros.

Paraná-Online – No futebol, em que a cobrança por resultados é tão imediata, é possível planejar em longo prazo?

Edinho – Todos os times que fizeram esse tipo de planejamento, num futuro bem próximo conseguiram os objetivos. Um equilíbrio em todas as áreas. Para conseguir esses resultados, deve ser feito isso.

Paraná-Online – O que está faltando para que os resultados do time estejam à altura da estrutura do Atlético?

Edinho – Que as pessoas que venham comandar aqui estejam no mesmo patamar de toda a estrutura construída.

Paraná-Online – Você está começando um trabalho de reorganização do departamento de futebol. O que já foi feito e o que falta?

Edinho – A idéia é tentar mudar. Colocar nosso conhecimento e nossa experiência e trazer tudo aqui para dentro.

Paraná-Online – Isso inclui uma nova política de contratações?

Edinho – Acho que mais do que uma política de contratação, é mudar o pensamento, internamente, no sentido de se trabalhar em busca de resultado nas competições.

Paraná-Online – Aproveitar melhor os jogadores que sobem da base também é uma preocupação?

Edinho – Com certeza. Temos que criar espaço para isso. Nossos juniores acabaram de ganhar dois torneios fora do país e temos que levar isso em consideração. Temos que entender que eles estão no nível do Atlético e criar espaço para que eles possam, num futuro bem próximo, entrar no time principal.

Paraná-Online – Já começou a planejar a temporada de 2009?

Edinho – Desde a minha chegada. Mas tem que ser com calma. Lógico qu,e pode haver mudanças no meio do caminho. Mas a idéia é no ano que vem formar uma equipe forte, com planejamento, para disputar principalmente o título brasileiro.

Paraná-Online – A contratação do Mário Sérgio já se enquadra nesse planejamento?

Edinho – Se enquadra nesse planejamento inicial, mas logicamente já pensando em 2009.

Paraná-Online – Você largou a carreira de treinador ou pretende retomar?

Edinho – A princípio não. Onde eu estou, pretendo continuar até o final. Mas se eu não puder continuar aqui, tenho essa possibilidade. Minha idéia é fazer aqui um trabalho a longo prazo. Mas no futebol às vezes o imediatismo te rompe esse pensamento e você acaba tendo que buscar outras situações. Aqui eu estou como diretor. E penso como tal. Mas sou capacitado para treinar também.

Paraná-Online – O fato de você já ter trabalhado como agente de jogadores pode causar algum conflito com sua função no Atlético?

Edinho – Pelo contrário. Isso me capacitou para esse cargo. Deu-me mais experiência e mais conhecimento. Já não sou agente desde 2002, mas fico muito contente de ter passado por essa etapa. Para lidar com os empresários, você precisa pensar como eles. Se eu não soubesse como eles pensam, seria muito mais difícil.

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