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Negociação de Cristian |
Foi só a transferência do meia Cristian para o Palmeiras ser anunciada para a polêmica em torno do atleta voltar com intensidade nos corredores do Paraná Clube e da S.M. Sports. O ex-diretor de futebol do Tricolor Durval Lara Ribeiro contesta os números da transação e alega que "alguém pode estar levando dinheiro ilícito no negócio". Diretoria do clube e empresários Sérgio Malucelli e Odário Durães rebatem as denúncias, num verdadeiro "tiroteio" entre ex-parceiros.
O presidente José Carlos de Miranda diz não ver nada de ilegal no processo e que Vavá está "querendo aparecer". Malucelli vai mais longe e assegura que Cristian só não ficou vinculado exclusivamente ao Paraná porque o ex-dirigente não honrou um cheque de R$ 50 mil. Ao quitar esse valor, Odário Durães passou a deter o maior percentual dos direitos federativos do atleta. Resumindo: fosse num cassino, quem apostou, ficou com o lucro.
Vavá sustenta que os empresários não têm 70% dos direitos federativos de Cristian. Um documento assinado por Miranda mostra o contrário, mas o conselheiro assegura que a negociação acordada verbalmente foi modificada após a sua saída do clube, no final de agosto do ano passado. Ribeiro foi o responsável pela contratação de Cristian, mas todo o processo mostra aspectos nebulosos.
Neste novo capítulo, a bronca está no percentual das partes, pois Vavá garante que a divisão deveria ser meio a meio. Sua palavra, porém, é a única sustentação que possui, já que não há documento acordando essa divisão. Para se entender o caso, é preciso voltar alguns meses no tempo, a partir da saída de Cristian do Ituano.
Durval Ribeiro descobriu o jogador através de indicações. Cristian era um mero reserva no time do interior paulista e não tinha bom relacionamento com o empresário Oliveira Júnior, dono do Ituano. Só que, Paraná e Oliveira já não mais tinham diálogo. O Tricolor, até onde se sabe, devia dinheiro ao empresário ainda das transações de Caio e Pierre, em 2003. Sem poder entrar no circuito, o Paraná orientou Cristian a negociar pessoalmente a sua rescisão contratual, o que acabou sendo feito por R$ 50 mil.
Só que este valor foi adiantado por Sérgio Malucelli, que não quis ficar com o meia. Era exigência de Durval Lara Ribeiro que o jogador fosse vinculado ao Paraná. "Minha empresa só negocia se o atleta estiver registrado pelo Iraty", justifica o empresário. Vavá deixou como garantia um cheque pessoal, mas não quis bancar o jogador e explica o porquê: "Eu sempre trabalhei com lisura. Não quis me envolver comercialmente no negócio e nunca tive percentual de jogador algum".
Para complicar, Cristian chegou lesionado – se apresentou no dia 2 de junho e só estreou no dia 20 do mês seguinte. Nenhum conselheiro quis pagar a dívida com Malucelli e, quando relações ficaram estremecidas –
o Paraná dispensara vários jogadores da parceria -, o empresário passou a cobrar os R$ 50 mil. Foi então que Vavá convenceu Odário Durães a comprar o jogador. "No que acordamos, ele teria 50% dos direitos do atleta", afirmou Ribeiro. Odário diz apenas que um documento assinado pelo presidente do Paraná define a divisão em 70%/30%.
Miranda mostra, sem restrições, este contrato – que nada tem a ver com o registro do jogador na CBF – em papel timbrado do Iraty. Indagado sobre o fato de este documento ser datado de 1.º de setembro de 2004 (três meses após a chegada de Cristian ao Paraná), o presidente explica que o acordo só foi firmado após Durães ter pago os R$ 50 mil a Malucelli, exatamente 90 dias após o início do imbróglio. "Chamei o Vavá diversas vezes para reuniões, mas ele não comparecia e apenas mandava avisar que a divisão era meio a meio", comentou Miranda. "Mas, todos os outros envolvidos, até Cristian, diziam o contrário, por isso firmamos este acordo."
O presidente encerra dizendo que no final, a transação para o Paraná – desde que concluída -será muito boa. O clube só gastou com Cristian em salários e receberá alguns milhares de reais (comenta-se algo em torno de R$ 350 mil). Além disso, pelo acordo que está sendo firmado, o Tricolor continuará tendo 30% de qualquer transação que venha a ser feita com Cristian nos próximos seis meses.
Malucelli garante parceria
O empresário Sérgio Malucelli assegura que a "atitude impensada" de Vavá não afetará em nada a parceria entre Paraná Clube e SM Sports. "O acordo foi feito para mais uma temporada e não tenho que me preocupar com ele, que nem parte mais faz do clube", disparou. O empresário acredita que apesar dos percalços, o processo terminou bem em 2004, com a manutenção do clube na primeira divisão e algumas transações que garantirão retorno financeiro ao Paraná e à sua empresa.
Além de emprestar Galvão ao Japão (Sanfrecce Hiroshima), o empresário pretende definir nos próximos dias a transação de Canindé, possivelmente para um clube paulista. "É hora de recuperar um pouco do que investimos", disse. Enquanto a diretoria se mostra satisfeita com o acordo, o responsável pela aproximação entre Paraná e Malucelli faz críticas à parceria. Durval Lara Ribeiro lembra que muitos jogadores "empurrados" pelo empresário só geraram despesas ao Tricolor, que era quem pagava os salários.
"No acerto inicial, eu só queria dois jogadores do Iraty, o Galvão e o Ximba. Mas, tive que aceitar outros tantos para poder contar com o Canindé", disparou. O ex-dirigente mostra a lista de dezesseis jogadores que Malucelli colocou no Paraná, dos quais apenas seis – Vicente, Edinho, Marcel, Fernando, Nelinho e David – chegaram ao final do Brasileiro ainda no grupo. Os outros dez foram dispensados durante a competição: Cláudio, Russo, Wesley, Gilmar, Nilson, Marcelo, Nélio, Alexandre, Chokito e Adriano.
Malucelli rebate apenas dizendo que Vavá só fez uma coisa boa: dar início à parceria. "Hoje, não devo explicações a ele, que está fora do processo. Minha conversa é com o presidente Miranda e com o José Domingos", alfinetou. "Esses ataques não irão afetar o meu relacionamento com o Paraná, que é muito bom. Erros e acertos ocorrem num time de futebol, mas, hoje, o Paraná tem uma base de elenco, que vai ser ajustada durante a temporada, dependendo da necessidade", finalizou Malucelli.
Paulo Campos começa a montar o time
Com o término das avaliações físicas e clínicas, o Paraná Clube dá início aos treinos físicos e técnicos, visando a largada do Campeonato Paranaense. A rigor, o técnico Paulo Campos só pretende realizar um treino tático durante a semana, numa prévia da equipe que ele testará no jogo-treino de sexta-feira, às 20h, em Joinville. Com um grupo reformulado, o Tricolor terá muitas mudanças em relação à equipe que terminou o Brasileiro. A base defensiva será mantida, mas setores de criação e ataque estão completamente alterados.
Não restou um integrante sequer do quarteto de frente, formado por Cristian, Canindé, Marcel e Galvão. Em muitos momentos, estes jogadores fizeram a torcida esquecer outro quadrado mágico que marcou época no clube, quando Marquinhos, Fernandinho, Caio e Renaldo conduziram o Tricolor à sua melhor campanha em um Campeonato Brasileiro. É tempo de recomeçar e com um planejamento bem definido, Paulo Campos diz já ter uma formação básica, utilizando um critério bastante simples.
A prioridade jogadores remanescentes do ano passado, passando por reforços contratados para o estadual e terminando naqueles atletas que ainda estão num período de avaliações. "A partir de agora, cada detalhe será importante. Como há muitos novos jogadores e o tempo é curto, as observações ocorrerão não apenas nos treinos táticos e coletivos", explicou. Ou seja, jogadores que se destacarem nos trabalhos essenciais – como passe e finalização – ganharão pontos importantes para que tenham contratação autorizada pelo técnico.
Na prática, será como nas eternas "peneiradas" para equipes de base. O técnico não demonstra qualquer preocupação com o elevado número de atletas no grupo. "O ideal é trabalhar com no máximo trinta jogadores. Mas, vamos chegar lá", diz, com tranqüilidade. "Dessa quantidade, vou procurar encontrar a qualidade. Vamos ter, com certeza, um grupo forte para esse Paranaense", assegurou. Paulo Campos garantiu que o Paraná não passará pelo vexame de anos anteriores, onde teve que lutar – e muito – para não ser rebaixado no deficitário campeonato estadual.
Enquanto aguarda as renovações de Flávio, Émerson e Canindé, o técnico iniciará os trabalhos com outros jogadores nessas posições. Darci ganha oportunidade na meta e, para a zaga, Paulo Campos tem como opções João Paulo e o recém-contratado Juliano. Com Vicente mantido na lateral-esquerda, a indefinição fica para a outra ala, onde Toni e Vagner vão disputar a posição. Já a sustentação do meio-de-campo fica por conta da dupla Axel-Beto, pois daí para a frente, o "novo" Tricolor é uma incógnita.
É verdade que Wellington Paulista e Maranhão devem formar um ataque que vai primar pela velocidade. Na criação, por uma linha de raciocínio lógica, Paulo Campos deve testar atletas por ele indicados. Neste caso, os jovens André Chu e Alberoni devem formar a dupla de articulação do Tricolor. "Não tenho medo de lançar jovens, desde que estes tenham qualidade. Com personalidade, cada um vai tentar o seu melhor, pois não tenho dúvida de que este elenco está sendo formado com atletas que têm ambição, que querem vencer na vida", comentou o treinador paranista.
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