Os melhores jogadores da história do melhor time do mundo. Cabe ao público a tarefa de montar esta superseleção através da votação aberta pelo Real Madrid em comemoração aos 106 anos do clube. Na lista de 100 nomes pré-selecionados por ex-treinadores e estudiosos da história madridista há quatro brasileiros, entre eles um ligado ao futebol paranaense.
Ex-técnico do Atlético em três ocasiões – 1996, 2005 e 06, Evaristo de Macedo foi ídolo do Real-, eleito pela Fifa o maior clube do mundo no século 20 – Madrid entre 62 e 65. Numa época sem globalização e com limite de estrangeiros por clube, brilhar nos gigantes europeus era feito raro entre os brasileiros.
Goleador emérito, Evaristo fez ainda mais: foi herói também no rival do Real, o Barcelona, que defendeu entre 1957 e 62. Até hoje é idolatrado pelas torcidas dos arquiinimigos. Em 2007, foi convidado para as festividades dos 50 anos do Camp Nou, estádio do Barça.
Além de Evaristo, concorrem os brazucas Didi (que jogou 1959-60), Roberto Carlos (1996-2007) e Ronaldo (2002-06). A enquete estará no site oficial do Real (www.realmadrid.com) até 28 de março. Na parcial divulgada ontem, o argentino Alfredo di Stéfano lidera a pesquisa, seguido pelo francês Zinedine Zidane e pelo espanhol Raúl. O único brasileiro que figura entre os dez primeiros é o lateral-esquerdo Roberto Carlos (em 5.º).
Recordista de gols numa só partida pela seleção brasileira (cinco gols num 9 a 0 contra a Colômbia, em 57), Evaristo, que curte aposentadoria da bola no Rio de Janeiro, contou o Paraná-Online histórias deliciosas da época em que desfilava ao lado de craques do quilate de Di Stefano, Puskas, Gento e vários outros no superestrelado Real dos anos 60s.
Paraná-Online: Qual a satisfação de estar entre os melhores da história do Real?
Evaristo: Claro que é motivo de orgulho. Mas acho que a chance de ser escolhido é pequena. O pessoal que vota é mais atual. Mas é bom ter a lembrança.
Paraná-Online: Qual era o peso de Real x Barcelona nos anos 60s?
Evaristo: Além de ser o maior clássico espanhol de todas as épocas, é um jogo cercado de conflitos históricos desde que a Catalunha (comunidade autônoma cuja capital é Barcelona) se insurgiu contra o governo de Madrid. Sempre foram jogos muito difíceis e até hoje ficou esse ranço político.
Paraná-Online: Sua transferência ao Real causou protestos em Barcelona?
Evaristo: Na época havia interesse da Federação em me naturalizar para que jogasse pela Espanha na Copa de 62. O Barcelona também gostaria de abrir espaço para outro estrangeiro. Mas não aceitei perder a nacionalidade brasileira. Nesse meio-tempo o Barcelona trouxe outro estrangeiro e ficou o impasse. Então o Real ofereceu contrato, sem exigir que deixasse de ser brasileiro. Foi colocado ao público que não estava rechaçando o Barcelona e o público entendeu.
Paraná-Online: O Real havia sido penta europeu pouco antes, entre 1956 e 60. Ainda era o grande time do continente?
Evaristo: Peguei o Madrid numa fase descendente. Tanto que me contrataram e trouxeram outros dois espanhóis para levantar a equipe. Mas ainda era um time fortíssimo. Chegamos à final da Copa dos Campeões, em que perdemos para a Inter de Milão (em 1963/64), e ganhamos os 3 campeonatos espanhóis que joguei.
Paraná-Online: Quais dos craques da época de ouro no time?
Evaristo: Peguei Di Stefano nas duas primeiras temporadas, Puskas e os espanhóis, que eram excepcionais: Gento, Santamaría, Zoco, Pachín, Zárraga.
Paraná-Online: Recentemente, o português Eusébio disse que o argentino Di Stefano era melhor que Pelé. Há outros com a mesma opinião. O que acha?
Evaristo: Di Stefano foi o melhor de todos que jogaram comigo. Pelé ganhou imagem muito forte, ajudado pelos franceses que o transformaram em Rei do Futebol (na verdade, Pelé foi eleito Atleta do Século em 1980 em pesquisa promovida pelo jornal francês L?Équipe). Essas comparações são imperfeitas. As épocas e as posições eram diferentes. Mas fico com o consenso mundial pelo Pelé.
Paraná-Online: Como jogava Di Stefano? Era tudo isso que diziam?
Evaristo: Era extraordinário, competitivo. Tinha grande velocidade, intuição, um posicionamento fantástico.
Paraná-Online: Se repetisse a trajetória na Espanha atualmente, sua projeção seria muito maior?
Evaristo: Não resta dúvida. No nosso tempo não havia o videoteipe, ficaram apenas umas poucas filmagens. Hoje a TV leva à nossa casa os melhores momentos dos principais campeonatos.