O governo dos Estados Unidos pediu oficialmente a extradição do ex-presidente da CBF José Maria Marin, preso desde o dia 27 de maio em Zurique, após acusação, juntamente com outros membros da Fifa, de corrupção. O pedido de extradição inclui os demais seis cartolas da entidade que também estão presos na Suíça há um mês, entre eles o ex-presidente da Conmebol, Eugenio Figueredo, e Jeffrey Webb, ex-vice-presidente da Fifa.

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O processo de extradição, porém, promete ser longo e advogados envolvidos no caso revelaram à reportagem que acreditam que Marin poderá ficar na prisão na Suíça até o fim do ano. Nos Estados Unidos, ele foi indiciado por corrupção, lavagem de dinheiro, fraude, por ter recebido milhões de dólares em subornos relativos a contratos comerciais na Copa do Brasil e Copa América. No ano que vem, os EUA vão sediar uma edição especial da Copa América.

Se for condenado, o ex-presidente da CBF, de 83 anos, poderia pegar até 20 anos de prisão nos EUA. A partir desta quinta, a Justiça suíça vai convocá-lo para uma audiência, interrogando o brasileiro sobre os crimes indicados pelos americanos. As autoridades da Suíça, então, darão prazo de 14 dias para que seus advogados contestem a extradição. Esse prazo poderia ser ampliado por mais 14 dias, se solicitado.

A Justiça da Suíça precisará de “algumas semanas” para tomar uma decisão sobre a extradição do brasileiros e dos demais membros da Fifa. Ela apenas poderá ser realizada se os crimes indicados pelos americanos também sejam considerados atos ilegais na Suíça. Numa primeira avaliação, no momento da prisão de Marin, às vésperas das eleições para a presidência da Fifa, os suíços sugeriram que existia fundamento para um pedido de extradição.

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Caso seja aprovada, Marin tem ainda duas possibilidades para apresentar recurso num processo que promete se arrastar. O primeiro seria no Tribunal Penal da Suíça, numa ação que poderia levar dois meses. Caso o ex-dirigente seja derrotado, seus advogados ainda podem recorrer ao Supremo Tribunal da Suíça, o que alongaria o caso por mais três meses. Enquanto isso, Marin dificilmente será autorizado a cumprir prisão domiciliar, apesar da idade avançada.

Na semana passada, a reportagem revelou com exclusividade que outro cartola, Figueredo, entrara com recurso para aguardar a extradição em liberdade condicional. Mas o pedido foi negado, o que mandou um sinal claro aos demais advogados dos indiciados de que seus clientes poderiam ter o mesmo destino. Segundo um comunicado do Departamento da Justiça da Suíça, o pedido de extradição foi entregue pela embaixada dos EUA em Berna na noite da quarta-feira e “dentro do prazo estabelecido pelo tratado bilateral” entre os países.

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“Os pedidos estão baseados no mandado de prisão emitido no dia 20 de maio de 2015 pela Procuradoria dos EUA em Nova York, que investiga a suspeita de corrupção avaliada em US$ 100 milhões (R$ 300 milhões) envolvendo altos funcionários da Fifa”, relata o comunicado de imprensa do governo suíço. “Em troca, esses suspeitos de terem pago propinas – representantes de empresas de mídia e de promoção – receberam direitos para torneios de futebol nos EUA e na América Latina. Esses crimes podem ter sido concordados ou preparados nos EUA, e os pagamento teriam sido feitos por meio de bancos americanos.”

DEFESA – Marin conta com um dos advogados mais conhecidos de Berna, Georg Friedli. As informações de que um de seus aliados políticos no Brasil teria contratado advogados não foi confirmado por Friedli, que deixou claro que eles não poderiam sequer agir no caso da extradição.

O ex-presidente da CBF também não pediu para deixar a prisão para esperar pela extradição em um hospital. Pelas leis suíças, é o médico da penitenciária que determina se um preso tem ou não condições de aguardar a extradição na cadeia. Há duas semanas, Figueredo chegou a alegar problemas de saúde, mas a Justiça suíça barrou qualquer transferência, alegando que suas condições o permitiam continuar na prisão.

Conforme a reportagem revelou, o FBI espera contar com a cooperação de Marin para delatar outros dirigentes esportivos que estiveram envolvidos no escândalo. Na prisão, ele tem direito a uma hora de caminhada por dia e está em uma cela individual. Não usa uniforme e não está autorizado a falar pelo celular nem a ter internet. Mas pode assistir televisão.