Márcio Araújo é um profissional "diferente". Ele foge ao tipo básico do treinador de futebol – mais contido nos gestos, evitando declarações polêmicas e preferindo a conversa franca à gritaria. O técnico já preferiu ficar com a família a ter projetos mais longos em vários clubes. Márcio também é um especialista em motivar o grupo, o que foi rapidamente percebido nos primeiros dias de sua segunda passagem pelo Coritiba (a primeira foi em 1999). Nesta conversa, ele confessa que escolheu voltar para Curitiba e que está empolgado em dirigir o Coxa novamente, além de detalhar como pretende ajudar o time a sair do perigo do rebaixamento.
O Estado – Acompanhando a sua carreira, percebe-se que você gosta de trabalhar em Curitiba.
Márcio Araújo – Eu gosto demais desta terra. E, em 1999, quando trabalhei aqui, foi um dos melhores lugares que trabalhei na minha vida. Eu quis vir para o Coritiba. Havia uma outra equipe querendo me contratar, que me ligou várias vezes. E eu não quis conversar, queria vir para o Coritiba, estou aqui porque quis. E isto independente de salário, nem conversei isto.
O Estado – Os jogadores falam na recuperação da auto-estima. Como se consegue isto?
Márcio – Acho que isso foi a associação do trabalho da Flávia (Focaccia, psicóloga), da Tânia (Delezu, nutricionista), do Oscar (Yamato), o trabalho da comissão técnica toda, do presidente. E mudou o astral deles porque mostramos que eles tinham condições de melhorar. E é ótimo trabalhar isto, porque tem gente que pensa que não há mais saída, quando se tem uma saída. Eu cresço com o crescimento deles, eu cresço com a reação deles, eu aprendo mais com eles.
O Estado – Qual é o valor, para o elenco, de um técnico visivelmente satisfeito em trabalhar no clube?
Márcio – Estar feliz transcende o que você fala. É o teu rosto, é a tua alegria de viver. Por isso que eu falo em entusiasmo. Há gente que olha para mim e pensa que eu não tenho problemas. Mas eu tenho sim, tenho situações a serem resolvidas, estou longe dos meus filhos (dois, de 13 e 17 anos)…
O Estado – E você preza muito a família.
Márcio – É difícil, porque a gente sabe a importância que tem para os filhos. E há tantos outros problemas. Mas o entusiasmo de vencer não pode deixar de existir. E ainda mais aqui no Coritiba, lugar onde eu queria trabalhar de novo.
O Estado – Você tomou a atitude de chamar os jogadores que estavam afastados para treinar com o grupo principal?
Márcio – A gente precisa colocar para trabalhar quem não está jogando. Alguns atletas voltaram porque é importante somar todo mundo neste momento. Não vai dar para treinar sempre assim, mas não podemos deixar de dar atenção para eles.
O Estado – O que você tem a dizer para o torcedor que espera sair do sofrimento?
Márcio – O torcedor precisa entender que ele é parte importante neste momento. Ele vai sempre torcer pelo que nós vamos oferecer. Quem dá o subsídio somos nós, com ânimo, com entusiasmo. E o resultado vem junto. O que a gente promete é esta postura, esta vontade, e isto sempre será repassado para os jogadores. Não temos que ter medo de ninguém, nem receio de nada.
