A situação financeira dos quatro grandes clubes de São Paulo piorou nos últimos cinco anos e todos atingiram o maior endividamento líquido de sua história. Essas são as principais conclusões de um estudo exclusivo feito pela consultoria BDO sobre os balanços financeiros de Palmeiras, Santos, São Paulo e Corinthians divulgados na última quinta-feira.
O endividamento líquido dos quatro clubes mais que dobrou nos últimos cinco anos. Em 2010, a soma das dívidas totalizava R$ 652 milhões. Este ano, atingiu R$ 1, 3 bilhão – um aumento de 109%. O desempenho ruim nos últimos anos joga os clubes em uma situação ímpar. Todos estão devendo mais do que já deveram em toda sua história. O Santos apresenta a maior dívida (R$ 373 milhões), seguido do São Paulo (R$ 340 milhões), Palmeiras (R$ 332 milhões) e Corinthians (R$ 313 milhões).
As receitas também diminuíram entre 2013 e 2014, com exceção do Palmeiras. Na média, os clubes diminuíram os investimentos no futebol pela primeira vez desde 2010.
Para Pedro Daniel, gerente da divisão de Esportes da consultoria BDO, os números apontam uma consequência direta: o atraso no pagamento de salários para funcionários e fornecedores deve se manter nos próximos períodos. Ele ressalta, no entanto, que cada clube tem peculiaridades que dificultam uma análise global para todos. “O primeiro passo é conhecer o consumidor/torcedor para desenvolver ações capazes de gerar novas receitas”, afirmou.
No Corinthians, o balanço publicado na quinta-feira evidencia o agravamento da crise. “A dívida é alta principalmente se analisarmos que as receitas tiveram uma queda”, disse o especialista. “As perspectivas não são animadoras a curto prazo. O Corinthians terá de buscar outras fontes de receita, como patrocínio e os programas de fidelidade”. Um dia após a divulgação do balanço, o clube relançou seu programa de sócio-torcedor comensalidades a partir de R$ 9.
Antes exemplo de boa saúde financeira, o São Paulo também vive uma situação complicada. No balanço, a diretoria admite ter aumentado o endividamento bancário em 62% no último ano, situação que faz o clube pagar cerca de R$ 8 milhões por mês com juros e amortização, segundo apurou a reportagem. O clube tricolor foi quem teve o maior recuo em receita no último ano, e lista como causas a diminuição da venda de atletas, a dívida com os bancos e a necessidade de honrar os custos firmados em contratos antigos.
O clube já projeta um cenário negativo para 2015, e prevê encerrar o ano com um déficit de R$ 54 milhões.
“Os quatro clubes vivem um drama financeiro e geram receitas não condizentes com os custos. A má administração dos recursos vai obrigá-los a economizar”, disse o consultor de marketing e gestão esportivo Amir Somoggi.
Para o especialista, nem mesmo o Palmeiras tem muito a comemorar. O clube apresenta dados melhores que os rivais, principalmente na comparação entre os dados da receita no intervalo do último ano. O aumento se deve à intensa negociação de jogadores.
Por outro lado, os dados neste segmento estão em descompasso com o crescimento do custo de departamento de futebol. Em um ano, a equipe aumentou em 51% o gasto neste setor, principalmente para se reforçar para a retorno à Série A. Quem bancou boa parte do investimento foi o presidente Paulo Nobre, que emprestou para o clube R$ 115 milhões. “É ruim o presidente ter esse poder financeiro sobre o clube, porque fica um débito para pagar”, disse Somoggi. Por contrato, o Palmeiras tem 15 anos para devolver o investimento ao dirigente.
No caso do Santos, a crise financeira já afetou o time no começo do ano, quando alguns jogadores entraram na Justiça para exigir pagamentos atrasados. Segundo Pedro Daniel, o clube sofre com dívidas pelos empréstimos bancários e tem como grande obstáculo o baixo potencial de arrecadação com a Vila Belmiro.
Enquanto Palmeiras e Corinthians desfrutam de novas arenas e o São Paulo se apoia na grande capacidade do Morumbi, o estádio santista virou vilão. De acordo com o especialista, o clube alvinegro deveria mandar mais jogos em outros locais para poder alavancar o lucro com bilheteria.