O estímulo dado pela condição de sede da Olimpíada, aliado ao forte apoio estatal aos esportes, poderá levar a China a ultrapassar os Estados Unidos e assumir a liderança no número de medalhas dos Jogos de Pequim, aponta análise estatística realizada pela empresa de consultoria PricewaterhouseCoopers. De acordo com o estudo, os chineses podem terminar a disputa com um total de 88 medalhas, uma a mais do que a previsão para os norte-americanos. Já o Brasil tem potencial para chegar a um resultado melhor que o de Atenas, em 2004, e elevar seu total de medalhas de 10 para 12.
O autor do estudo, John Hawksworth, analisou a performance de todos os países nas últimas cinco edições da Olimpíada e também levou em consideração fatores como tamanho da população, renda per capita, história política e papel do Estado no apoio aos esportes. O trabalho não pretende prever o resultado da competição, mas definir o número de medalhas que cada país pode conseguir levando-se em conta a análise de todas essas variáveis.
Por esse critério, o Brasil ficou abaixo do seu potencial na última Olimpíada e tem condições de melhorar seu resultado em Pequim, especialmente se for considerado o recente crescimento econômico do país, afirma Hawksworth.
Mas, de todos os participantes dos Jogos Olímpicos, a China é quem pode dar o maior salto no número de medalhas, com um aumento de 25 em relação à Olimpíada de Atenas. "O papel do Estado no apoio aos esportes é muito forte e há um sentimento de orgulho nacional na obtenção de uma boa performance", disse Hawksworth, ao comentar sobre a performance chinesa em Pequim.
O maior prejudicado com a ascensão chinesa seriam os Estados Unidos, que podem ver seu total de medalhas cair de 103 em Atenas para 87 em Pequim. A simulação estatística aponta ainda que a Rússia ficará em terceiro lugar no ranking, com 79 medalhas, 13 a menos do que conseguiu há quatro anos.
Na avaliação de Hawksworth, a China e os países que pertenciam ao antigo bloco soviético, incluindo Cuba, têm vantagens em relação aos demais em razão do apoio governamental aos atletas. "Isso demonstra que esporte é uma área onde o planejamento e a intervenção do Estado podem produzir resultados, que persistiam em Atenas, mais de uma década depois do colapso do antigo regime soviético", observa o estudo.
O impacto de ser o anfitrião dos Jogos foi relevante no caso da Austrália, que conquistou 58 medalhas na Olimpíada de Sydney, em 2000, comparadas às 49 obtidas pelos australianos nos Jogos de Atenas, em 2004. Hawksworth ressalta, porém, que o efeito foi menos evidente na Grécia, que subiu ao pódio 16 vezes em 2004, apenas 3 vezes do mais que em 2000. Ainda assim, a diferença é de 20%, o que é relevante do ponto de vista estatístico.
"Em geral, o número de medalhas ganhas aumenta com a população e a riqueza econômica de um país, mas menos do que proporcionalmente: Davi pode às vezes derrotar Golias na arena olímpica, ainda que superpotências como Estados Unidos, China e Rússia continuem a dominar o topo do quadro de medalhas", conclui o estudo.