As competições da Paralimpíada de Pyeongchang começarão no final da noite desta sexta-feira (no horário de Brasília) e dois brasileiros farão história pelo País pelo simples fato de participarem de provas do esqui cross-country. Após ir aos Jogos do Rio como cadeirante no atletismo, Aline Rocha será a primeira mulher do Brasil a estar presente em uma edição dos Jogos Paralímpicos de Inverno, sendo que nunca uma atleta da nação competiu nos dois principais eventos dos esportes adaptados no mundo. Já Cristian Ribeira, de apenas 15 anos, será o mais jovem entre os mais de 650 competidores do grande evento na Coreia do Sul.

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Além dos dois esquiadores, o Brasil será representado em solo sul-coreano pelo snowboarder Andre Cintra, que foi aos Jogos de Inverno de Sochi, na Rússia, em 2014, quando o Brasil estreou na competição gelada no esporte paralímpico. Agora, o País celebra novos ineditismos em termos de representatividade com feitos que premiam grandes histórias de superação para Aline, de 27 anos, e para o adolescente Cristian.

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Nascida na cidade de Pinhão, no interior do Paraná, a esquiadora sofreu um grave acidente de carro, quando tinha 15 anos, que lhe causou uma lesão medular e a perda do movimento das pernas. Porém, a tragédia acabou se transformando na porta de entrada para o seu ingresso no esporte paralímpico, no qual passou a praticar o atletismo em um clube de Joaçaba (SC), onde morava. Lá, ela conheceu o atual marido e técnico, Fernando Orso, que lhe incentivou a participar de corridas em cadeira de rodas.

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A partir dali, Aline colecionou vitórias em provas que realizou, entre elas conquistas consecutivas na Corrida Internacional de São Silvestre, e depois ainda conseguiu índices para disputar os 1.500m, os 5.000m e a maratona na classe T54 (para cadeirantes) da Paralimpíada do Rio. E, apenas após este grande evento de 2016, ela começou a se aventurar na neve, onde aproveitou as habilidades motoras que a prática do atletismo lhe deu para se adaptar com sucesso ao esqui cross-country. Na Coreia do Sul, a paranaense estará nas provas de 12km (neste sábado), do sprint (na terça-feira) e de 5km (no dia 17).

“Para mim, ser a primeira mulher a defender o Brasil é uma honra imensa e também uma grande responsabilidade. Espero que a minha participação sirva de inspiração para que mais mulheres se motivem e se interessem a ingressar nestas modalidades, que não são tão difíceis como parecem, para que possamos ter mais representantes nas próximas edições da Paralimpíada de Inverno”, afirmou Aline, em entrevista por telefone ao Estado, direto de Pyeongchang, durante a sua reta final de preparação para os Jogos.

“Com certeza, eu me sinto abençoada pelo que a vida me reservou. Eu detestava esportes na minha infância. Hoje a minha vida é o esporte, não me vejo sem ele, e isso não teria sido possível se não fosse o acidente. O acidente pode ter me tirado as pernas, mas o esporte me deu asas e hoje eu voo pelo mundo inteiro. Então tinha que ter sido assim. Eu vivo e respiro do esporte e não me vejo de outra forma”, destacou a brasileira, que mirar ficar no Top 10 da prova de longa distância e alcançar semifinais ou finais das outras disputas que fará na Coreia do Sul.

E Aline revelou que espera poder estar presente nos Jogos Olímpicos de Verão de 2020, em Tóquio, e depois na Paralimpíada de Inverno de 2022, em Pequim, assim como nas edições seguintes destes eventos. “O meu maior sonho como atleta era participar dos Jogos Paralímpicos do Rio, foram vários anos de treinamento e competições para conseguir o índice mínimo para estar nos Jogos. E até 2016 eu não esperava estar em uma Paralimpíada de Inverno. Então, ser a primeira mulher brasileira a participar destes dois eventos é algo indescritível, uma alegria imensa. E espero seguir este ciclo de dois em dois anos por muito tempo”, projetou.

21 CIRURGIAS DEPOIS – Se Aline fará história pelo Brasil com 27 anos na Coreia do Sul, o precoce Cristian Ribera será o caçulinha entre todos que competirão neste evento paralímpico de inverno. E isso depois de ter sido submetido a nada menos do que 21 cirurgias. As operações ocorreram para correções nas pernas, sendo a última delas há pouco mais de quatro anos.

O rondoniense nascido em Cerejeiras, cidade que fica a 730km da capital Porto Velho, nasceu com artrogripose, uma doença congênita que afeta as articulações, e viu o esporte entrar em sua vida aos 4 anos, quando adotou a natação para ajudar na sua fisioterapia. E depois praticou tênis, capoeira e atletismo, antes de ser apresentado ao esqui cross-country há apenas três anos, graças a uma parceria da Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN) com a Fundação Agitos, braço desenvolvedor do Comitê Paralímpico Internacional, a fim de difundir e fomentar a prática da modalidade no país.

E rapidamente ele se adaptou ao sit ski (esqui adaptado para quem não tem mobilidade nas pernas), sendo que só foi participar de sua primeira competição oficial no final do ano passado. Em fevereiro deste ano, ele atingiu a melhor pontuação (48,19) registrada por brasileiros no esqui cross-country em uma etapa da Copa do Mundo na Finlândia e seus bons resultados lhe asseguraram a vaga na Paralimpíada de Inverno.

“A sensação de estar em uma Paralimpíada com 15 anos é inexplicável porque estar ao lado dos melhores do mundo não é um dever tão fácil. E isso é fruto de um grande trabalho, de um belo treinamento, que vem dando resultado e mostrado a sua força”, comemorou Cristian, em entrevista ao Estado. “Essa força desde cedo veio pela prática porque eu sempre estive envolvido no mundo do esporte. Com quatro anos eu já comecei a natação para tratamento, a princípio, e fui me apaixonando cada vez mais e aí eu ingressei no atletismo. Ando de skate, que foi um meio de transporte pra mim. E até hoje é emocionante pra mim e até hoje o esporte é muito bom pra mim em tudo na vida”, reforçou.

O adolescente, por sua vez, já projeta metas ousadas para quem chegou como o mais jovem competidor em Pyeongchang. “Não tenho nem cinco meses de experiência em competições, mas consegui ótimos resultados, que foram bem expressivos. E esses resultados só criam mais expectativas e espero cumpri-las bem. As minhas metas são em primeiro lugar melhorar minhas marcas pessoais, que tenho apresentado nas Copas do Mundo, e chegar ao Top 10 das minhas provas. É uma grande honra estar competindo com 15 anos, mas não vai adiantar nada se com 15 anos eu não conseguir bons resultados e não melhorar minhas marcas”, enfatizou.

Na Coreia do Sul, o garoto disputará três provas individuais, de 15km (no sábado), de 1,1km (na próxima terça-feira) e de 7,5km (no dia 17), além de um revezamento ao lado de Aline Rocha, também no dia 17.