A seleção brasileira masculina de hóquei sobre grama disputará uma Olimpíada pela primeira vez. Diferentemente do que se pode pensar, não pelo fato de o Brasil ser o país-sede. Acostumada a ser saco de pancada, a equipe nacional passou por uma espécie de batismo para garantir a vaga olímpica: ano passado, a federação internacional da modalidade estabeleceu que o País deveria ficar entre os seis primeiros nos Jogos Pan-Americanos de Toronto para estar na Olimpíada. O Brasil foi mais longe, chegou às semifinais e garantiu a vaga inédita.
Para isso, foi necessária uma mudança de postura e, sobretudo, de investimento. Nos últimos anos, a seleção masculina tem realizado boa parte do treinamento no exterior. Atualmente, a equipe está na Argentina, onde ficará até o fim de maio. As viagens e toda a estrutura são bancadas com dinheiro público. A Confederação Brasileira de Hóquei sobre Grama (CBHG) firmou convênio com o Ministério do Esporte em 2010 e, desde então, já recebeu R$ 6,3 milhões. Além disso, outros R$ 4,7 milhões foram bancados pela pasta a atletas do masculino e do feminino, no programa Bolsa-Atleta. Desde 2010, 511 atletas foram contemplados. Em 2015, o ministério repassou R$ 1,1 milhão a 101 jogadores por meio da bolsa.
O investimento é defendido pela CBHG, que destaca o programa de longo prazo. “O projeto olímpico começou em 2012, no pré-olímpico de Kakamigahara (Japão), quando o Brasil participou pela primeira vez de um processo envolvendo uma participação olímpica”, contou Bruno Patrício Oliveira, gerente geral da CBHG. “O plano procurava fortalecer os atletas brasileiros que atuam no País e buscar brasileiros no exterior”.
No começo, o planejamento se mostrou insuficiente. O País perdeu todas as partidas e terminou o pré-olímpico em último lugar. A CBHG decidiu mudar o foco e passou a investir em temporadas de treinamento fora do Brasil que chegam a ultrapassar dois meses ininterruptos. “Ainda não há no Brasil um nível técnico que permita à seleção se preparar por aqui”, defendeu Oliveira.
Aos poucos, o projeto olímpico começou a dar resultados. Em 2013, a seleção conquistou sua primeira medalha na história do Campeonato Sul-Americano ao terminar em terceiro lugar no Chile. O melhor desempenho veio no ano passado, quando o time encerrou os Jogos Pan-Americanos de Toronto em quarto lugar – em 2011, a equipe nem sequer se classificou para a competição.
A meta na Olimpíada é modesta. “Sabemos de nossas limitações hoje no principal torneio esportivo do mundo”, disse André Patrocínio, capitão da equipe. “Chegaremos com o principal foco de se garantir nas oitavas de final. Depois, esperamos surpreender também.”
SAUDADES – O quarto lugar no Pan de Toronto e a consequente classificação olímpica passaram muito pelo treinamento no exterior. Mais do que bons resultados, porém, as temporadas fora do Brasil também alimentam a saudade dos jogadores da equipe nacional de hóquei sobre grama.
Atualmente, o time está na Argentina, onde ficará até o fim de maio. As viagens e toda a estrutura são bancadas com dinheiro público. A confederação firmou convênio com o Ministério do Esporte em 2010. É bem difícil passar meses longe de casa”, diz André Patrocínio. “Mas, bem ou mal, já nos acostumamos. Temos a internet como aliada para diminuir a saudade, e o grupo todo unido também forma uma grande família.”
Bruno Mendonça, que também está na Argentina treinando com a seleção, afirma que a família, mesmo de longe, é o principal incentivo. “Sabemos da responsabilidade que assumimos com a seleção, e a família tem dado um suporte essencial”. Ele também recorre à internet. “Saudade faz parte do nosso processo de concentração, mas temos alguns recursos, como Skype, WhatsApp e Facebook, que diminuem a distância”, enumera.
Tanto André Patrocínio quanto Bruno Mendonça garantem que o esforço vale a pena, e isso é demonstrado dentro do campo. “Estamos em um nível muito bom. Queremos e treinamos para um dia chegar ao nível dos tops mundiais”, afirmou Patrocínio. “Sabemos das nossas limitações no esporte e da importância dos treinos e concentrações para aprimorar nosso conjunto e diminuir esse gap entre as outras seleções top do mundo”, ponderou Bruno Mendonça.
“Conquistamos nossa vaga dentro de campo, mostrando que o Brasil fez seu trabalho de casa e merece representar a nação. Quem sabe não vem uma surpresa nos Jogos?”, diz Mendonça.