“Imagine se o governo do Rio de Janeiro repassasse o Maracanã para o Vasco, ou para outro time grande da cidade. Você acha que a torcida do Flamengo, por exemplo, não reclamaria e criticaria o acordo?” Foi assim, aos risos, que Ben Fletcher, o executivo responsável pelas estratégias e pelo andamento do legado do Parque Olímpico da capital britânica, explicou a enxurrada de críticas que recebeu após o acerto entre a prefeitura da cidade e o West Ham, clube que passou a mandar os seus jogos do Campeonato Inglês no estádio Olímpico.

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“Aqui em Londres temos muitas equipes grandes, todas com torcidas gigantescas. Tem Arsenal, Tottenham, Chelsea, Crystal Palace, Fulham… esqueci algum? Enfim, esse tipo de crítica a gente entende porque envolve paixão do torcedor. Nós ajudamos apenas um time, o West Ham, e sabíamos que a maior parte da população de Londres não entenderia”, disse Ben Fletcher. Mas os organizadores se prepararam para isso por um tempo.

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De fato, o acordo entre Londres e o clube é benéfico para os “Hammers”, como eles são chamados. O time paga aluguel de 2,5 milhões de libras por ano, o equivalente a R$ 10,5 milhões – um valor irrisório para uma equipe que disputa a Liga Inglesa, cujo orçamento anual é de cerca de R$ 520 milhões. Pelo acordo, o West Ham pode disputar 25 jogos por ano no estádio – a equipe tem 19 partidas como mandante no torneio nacional.

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Neste cenário, a prefeitura de Londres tenta acordo com alguma empresa para exploração dos “naming rights”. Quando o West Ham manda os seus jogos, o local chama-se “London Stadium”. Mesmo se uma empresa topar dar nome à arena, 40% do valor vai para os cofres do time.

“É muito difícil quando a cidade ajuda especificamente um único clube. Certamente você será criticado. Mas é melhor você ter 50 mil, 60 mil pessoas felizes a cada jogo do West Ham, do que deixar o estádio vazio, parado e, por consequência, sem ninguém. Não é só o futebol. Teremos shows, uma série de outros eventos no estádio. E tem mais: o futebol vai atrair outra parte da população, que passará a usar e usufruir dessa estrutura. Não temos dúvidas. Essa é uma outra forma de manter o Parque Olímpico com eventos e com a população usando o seu complexo”, disse Ben Fletcher.

Além do “baixo” valor com o aluguel, o West Ham fica com o dinheiro dos ingressos e com uma porcentagem da venda de comida e bebidas nas lanchonetes oficiais da arena. Logo na entrada do estádio, o clube possui uma megastore, em que comercializa todo tipo de produto, desde camisas oficiais até uniformes antigos, flâmulas, agasalhos e outras lembrancinhas.

O guardião do Parque Olímpico conta que parte de quem critica o acordo torce pelo próprio West Ham. Diz, porém, que a bronca é mais pelo abandono do antigo local das partidas, o Upton Park – estádio onde o clube passou mais de 100 anos.

Eternizado por Bobby Moore, lendário jogador da Inglaterra e maior ídolo dos “Hammers”, o antigo estádio era adorado pelos torcedores, inclusive pelos briguentos da Green Street Elite – a torcida organizada do clube, que leva o nome da rua do antigo estádio e que foi eternizada no filme Hooligans, que mostra o confronto entre os uniformizados com quase todos os outros adversários do país, principalmente contra a torcida do Millwall, o seu maior rival.