A ?quase tragédia? que aconteceu em Cianorte com o desabamento de parte das arquibancadas tubulares provocou uma rápida reação nas entidades envolvidas no caso. No início da noite de ontem, o presidente do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-PR), Bôrtolo Escorsin, determinou a interdição preventiva do Estádio Albino Turbay.
Escorsin afirmou que os fatos são de suma gravidade e os responsáveis devem ser punidos. A decisão do magistrado está baseada nos artigos 9.º (parágrafo 3.º) e 35.º do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD).
O presidente do TJD também pediu à FPF que encaminhe ao tribunal os laudos da vistoria realizada em novembro pelo Corpo de Bombeiros e Polícia Militar, além do parecer da Comissão de Vistorias da FPF.
À tarde, a Comissão de Vistorias da FPF havia interditado apenas a estrutura tubular, que será desmontada.
Antes, entretanto, haverá investigação para apurar parte das arquibancadas cederam durante a partida de quarta-feira contra o Galo Maringá.
Por volta dos 20 minutos do segundo tempo, quando Leandro Temporim marcou o gol da vitória do Leão do Ivaí sobre o Galo, um setor das arquibancadas tubulares não resistiu à comemoração dos torcedores (ali ficam as facções organizadas) e acabou desabando. Vinte e duas pessoas foram levadas por ambulâncias do Corpo de Bombeiros para a Santa Casa de Cianorte – três continuam internadas. E o pânico tomou conta do estádio, com alguns torcedores exigindo o final do jogo, o que não aconteceu.
Do final do jogo até a tarde de ontem, foram aparecendo as falhas da história. Ainda na noite de quarta-feira, o Corpo de Bombeiros informou que não foi consultado sobre a montagem da estrutura metálica, e portanto não havia liberação oficial para utilização daquelas arquibancadas. A diretoria do Cianorte disse que vai processar a empresa responsável – pois detém os laudos do engenheiro que supervisionou a obra.
No final do expediente da FPF, o Cianorte informou através de ofício que prestou todo atendimento aos feridos. O clube também enviou cópia da ART (Atestado de Responsabilidade Técnica). A guia é recolhida em benefício do CREA-PR e serve como comprovante de que um engenheiro liberou a obra.
Inquérito
A Polícia Civil anunciou que abrirá inquérito para definir os responsáveis. E a FPF, em nota oficial, interditou parte do Albino Turbay e informou que a estrutura não estava lá no dia da vistoria.
A avaliação do estádio do Cianorte aconteceu em 13 de novembro do ano passado. Participaram, além da Comissão de Vistoria da entidade, o Corpo de Bombeiros, a Polícia Militar e a Vigilância Sanitária. ?Quando estivemos lá, nos falaram que geralmente colocavam uma estrutura metálica nos jogos mais importantes. E naquele dia não havia nada?, conta o presidente da comissão, Cirus Itiberê da Cunha. ?O que aconteceu foi que não nos informaram que haviam colocado as arquibancadas?, completa o dirigente.
Segundo Luiz Carlos Bersani, diretor do Cianorte, as arquibancadas foram colocadas alguns dias antes do início do campeonato. ?Fazemos isso desde 2003. As modulares são montadas antes do estadual e retiradas após o término do campeonato?.
O que pode ser considerado um dos ?pecados capitais? da história – caso informada, a Comissão de Vistoria teria a obrigação de avaliar o terreno e a estrutura. ?Houve imprudência?, resume Cirus Itiberê. Com a forte chuva que assolou o Vale do Ivaí no final da tarde de quarta, o dirigente crê que o terreno não oferecia condições para sustentar as arquibancadas metálicas. ?Provavelmente a chuva desestabilizou o terreno,
e na hora em que houve a comemoração a estrutura não resistiu?, diz o presidente da comissão.
Estatuto do Torcedor protege feridos
Os torcedores que se feriram no desabamento de parte da arquibancada metálica do Estádio Albino Turbay podem usar o Estatuto do Torcedor para fazer valer seus direitos.
E a Polícia Civil começa a busca pelos responsáveis.
Ontem mesmo investigadores estiveram no Albino Turbay fotografando o local do acidente. Amanhã, peritos de outras cidades chegam a Cianorte para avaliar o terreno e a estrutura. Apesar de o estádio não estar lotado, boa parte dos 2.180 pagantes estava no setor metálico, destinado às torcidas organizadas. Nas próximas semanas serão ouvidos os envolvidos, desde representantes da Prefeitura até os feridos.
E os que sofreram com a queda e acabaram parando no hospital podem iniciar desde já a busca por seus direitos.
O artigo 16 do Estatuto do Torcedor, que versa os deveres e direitos de organizadores e assistentes de eventos esportivos, diz que é dever da entidade responsável pela organização da competição ?contratar seguro de acidentes pessoais, tendo como beneficiário o torcedor portador de ingresso, válido a partir do momento em que ingressar no estádio?.
Isto significa que clube e Federação são responsáveis por este seguro – e, em segunda análise, são responsáveis pela integridade física dos torcedores. Cianorte e FPF também ficam responsáveis por apresentar, segundo o artigo 23 do Estatuto, ?os laudos técnicos expedidos pelos órgãos e autoridades competentes pela vistoria das condições de segurança dos estádios a serem utilizados na competição?.
Fica claro que caberia ao clube informar a Comissão de Vistoria a instalação de arquibancadas tubulares.
Revolta
Os que nada sofreram, mas viram o desespero dos feridos, não resistiram, e ainda durante o jogo entre Cianorte e Galo Maringá gritaram ?queremos estádio?. O Albino Turbay teve que sofrer adaptações para ser aprovado pela Comissão de Vistoria. Uma delas foi a montagem de novas cabines de imprensa (foto) , pois a que fica no setor social não comportaria muitos jornalistas. Em 2004, foi construída uma série de camarotes? de estrutura metálica, que ficam no setor oposto às sociais.
