O esquema que levou Onaireves Moura e mais oito pessoas para a cadeia continua funcionando na Federação Paranaense de Futebol (FPF). O repasse de parte da renda dos jogos para a Comfiar, considerado fraude financeira pela Justiça, segue acontecendo e pode complicar também a atual diretoria da entidade.
Nos borderôs de todos os jogos da Copa Paraná aparecem discriminados o desconto de 5% da renda bruta em nome da ?FPF/Comfiar?, além de outros 5% discriminados apenas com a inscrição FPF. No último fim de semana, em seis jogos válidos pela nona rodada do segundo turno, um total de R$ 353,40 foi descontado das rendas em nome da Comfiar. O baixo valor é proporcional ao pequeno público das partidas. A maior renda foi de R$ 3.530,00, de Iguaçu e Londrina.
Para o delegado-chefe do Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce), Sérgio Sirino, o desconto mostra que o esquema continua de pé. ?O sistema usado hoje é o mesmo que levou à prisão do Moura. Vamos informar o Poder Judiciário e podem haver novos desdobramentos?, afirma.
A Comfiar (Comissão Fiscalizadora de Arrecadação) foi criada para burlar penhoras judiciais contra a FPF. ?Como a verba que entra para a FPF estaria comprometida, uma parte era depositada para a Comfiar, não comprometendo todo o dinheiro?, explica Sirino.
O atual presidente da FPF, Aluízio Ferreira, não sabe explicar a manutenção dos descontos em nome da Comfiar. ?Se está acontecendo isso, tem que mudar. Deve ser do costume que tinha. A Comfiar é uma empresa que está praticamente extinta?, diz Aluízio.
Já o advogado da entidade, Vinícius Gasparini, diz que a prática é normal. ?Isso foi aprovado pelos clubes no arbitral da Copa Paraná. A Comfiar está administrando o campeonato e está sendo tudo contabilizado. Isso foi informado à polícia e não há problema nenhum?, justifica.
Porém, o delegado-chefe do Nurce não tem a mesma opinião. ?Isso é a prova de que o crime financeiro segue sendo praticado?, afirma Sérgio Sirino.
Fantoches
Outro fato que pode complicar a atual direção da FPF é a influência direta de Moura na entidade, mesmo após seu afastamento pela Justiça Desportiva. ?Mesmo afastado da Federação, ele continuava agindo e usando a instituição como antes. Temos as provas de que isso estava acontecendo?, garante Sirino.
O delegado não revela quais são as provas, mas adianta qual pode ser a conseqüência. ?Vários funcionários e dirigentes da época do Moura ontinuam na FPF. Acredito que a Justiça pode decretar uma intervenção e nomear uma nova diretoria?, conclui.
Comfiar sempre leva sua parte
Torneio que define um representante do Estado na Série C do ano que vem e na Copa do Brasil de 2009, a Copa Paraná é um total fracasso de público. Estádios vazios e arrecadações irrisórias se repetem a cada rodada da competição. Mesmo assim, as rendas das partidas são alvo do esquema que desvia recursos da FPF.
No último fim de semana, seis jogos foram disputados, pela nona rodada do segundo turno. No total, 1.214 pessoas foram aos estádios, uma média de 202 pessoas por partida. A renda total chegou a R$ 7.068,00, dos quais R$ 353,40 foram descontados em nome da Comfiar.
O Real Brasil, último colocado na competição, é também o lanterna nas arquibancadas. No último sábado, o Real enfrentou o J. Malucelli em São José dos Pinhais. Apenas nove pessoas pagaram ingresso, proporcionando uma renda de R$ 45,00. A Comfiar ficou com 5%, ou R$ 2,25.
Tem mais sujeira embaixo do tapete da FPF
Redação Tribuna e agências
A polícia do Paraná suspeita que o suposto esquema armado pelo ex-presidente da Federação Paranaense de Futebol (FPF), Onaireves Rolim de Moura – preso na última terça-feira -, para desviar dinheiro da entidade tinha um braço que negociava até mesmo o acesso de times de séries inferiores para as superiores, com a compra de resultados. O caso sob suspeição é o do Galo Maringá, que subiu da segunda para a primeira divisão em 2005. Atualmente, o clube uniu-se à Adap, que era de Campo Mourão, e criou o Adap Galo.
?Há depósito de quantia significativa do clube de Maringá que não tem justificativa e não há contabilidade para esse depósito?, disse o secretário da Segurança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari. ?Há alguns indícios de que isso teria sido em decorrência da ascensão desse time da segunda para a primeira divisão do paranaense. As suspeitas são sérias e muito fortes de manipulação de resultados.?
Documentos apreendidos na sede e na loja do clube, em Maringá, foram levados ontem para Curitiba, onde serão analisados. Enquanto isso, o Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce) afirma ter provas de que foram depositados R$ 200 mil. O dinheiro teria sido colocado em uma conta do Colégio Técnico de Futebol do Pinheirão, que se tornou uma empresa à parte. Segundo o delegado do Nurce, Sérgio Sirino, essa empresa foi criada ?única e exclusivamente para burlar o sistema judiciário, que captava direto na conta corrente da Federação para pagar impostos previdenciários, impostos fiscais e dívidas trabalhistas?.
Criado em 2004, o Colégio Técnico de Futebol do Pinheirão teria recebido cerca de 30 jovens, mas o volume de recursos na sua conta chegou a quase R$ 3 milhões.
Em uma nota distribuída na terça-feira, quando a polícia recolheu documentos no clube, o Adap Galo Maringá disse que fez um único depósito, em maio de 2006, na conta do Colégio Técnico, por ela ter sido indicada pela FPF. Segundo a nota, os valores referem-se a ?uma antecipação parcial das despesas e taxas de borderô da Federação Paranaense de Futebol e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), da partida entre Paraná Clube e Corinthians, realizada no dia 14 de maio de 2006, no Estádio Willie Davids, em Maringá?.
Ontem, a assessoria do clube disse que, além desse, houve mais três jogos na cidade, mas não soube informar se o dinheiro foi depositado na conta normal da FPF.
O secretário da Segurança Pública do Paraná determinou, ontem, que o Nurce peça os inquéritos de dois casos investigados pela polícia, pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) em 2005, em que também havia denúncias de manipulação de resultados e na escala de arbitragem do futebol paranaense.
Em um daqueles inquéritos, que não teve prosseguimento, houve a denúncia de que o então presidente da FPF, Onaireves Moura, teria vendido, por R$ 50 mil, o resultado de uma partida para o Ponta Grossa num jogo contra o Prudentópolis, no Campeonato Paranaense de 2000. ?O Nurce está avocando esse inquérito?, explicou Luiz Fernando Delazari.
Acusado agora de desvio de dinheiro, fraude processual, estelionato e apropriação indébita, Onaireves Moura foi preso juntamente com oito ex-diretores e funcionários da FPF e um empresário. Alguns depoimentos já tomados e o início da análise dos documentos recolhidos reforçaram as suspeitas da polícia.
?Alguns depoimentos foram incisivos para robustecer as provas?, disse o delegado Sérgio Sirino. ?Montaram pessoas jurídicas-satélites para captar dinheiro que era destinado à Federação.? A polícia acredita que pelo menos R$ 5 milhões foram desviados da entidade. O advogado da FPF, Vinícius Gasparini, que acompanha os depoimentos, visto que seis dos nove presos são funcionários da entidade, disse que eles estão cooperando com a polícia, ?indicando como as contas eram usadas?.
?As irregularidades que possam ser auferidas serão de responsabilidade do ex-presidente. Os funcionários cumpriam as determinações que eram dadas?, afirmou Vinícius Gasparini. Ele acredita que Onaireves Moura, que ainda não tem advogado, seja o último a depor.