Era um jogador técnico e com ótima visão de jogo. Mas era calado e observador, virtude essencial em um treinador. Esta é a recordação que o ex-treinador Valdir Espinosa tem a respeito de Alejandro Sabella, técnico que levou a Argentina a uma final de Copa depois de 24 anos.
Sabella foi jogador de Espinosa no Grêmio entre 1985 e 86. Há mais de uma década não se veem, mas a relação dos dois voltou a ser lembrada após a classificação da Argentina na última quarta-feira, nos pênaltis, sobre a Holanda. Na entrevista coletiva, Sabella fez uma menção à sua época de jogador no Grêmio, citando a “ocupação de espaço”, traduzida hoje por time compacto. “Fiquei superfeliz com a lembrança”, disse Espinosa, por telefone, à reportagem. “Poxa, o técnico que vai disputar uma final de Copa do Mundo, dá uma entrevista como aquela e se recorda dos tempos do Grêmio.”
Espinosa foi pego de surpresa com menção. Ele disse que foi jantar após assistir o jogo da Argentina. “Foi um dos poucos momentos que me desliguei do futebol nessa Copa”, disse. Mais tarde, quando acessou as redes sociais, já via postagens de amigos sobre a citação de Sabella. Segundo Espinosa, a última vez que ele conversou pessoalmente com Sabella foi no início dos anos 90, quando o técnico da Argentina era auxiliar técnico. “Na época de jogador, mesmo sendo observador, um cara sempre atento, não imaginava que um dia ele seria treinador”, afirmou.
Sabella, um habilidoso meia canhoto, chegou ao Grêmio em 1985 – antes havia enfrentado o próprio Grêmio defendendo o Estudiantes pela Libertadores. Ou seja: Sabella chegou no Grêmio já campeão do mundo sob comando de Espinosa. A “ocupação de espaços” a que se referiu Sabella é o que hoje chamam de “time compacto”, diz Espinosa. “Isso é algo que já se fazia lá atrás, nos anos 80, é que agora mudam de nome.” Sabella se recordou, durante a entrevista coletiva, de uma conversa com Espinosa num jogo do Grêmio contra o River Plate. “Ocupar espaços é uma história tão velha que nem sei dizer. Eu disse que vai ganhar quem ocupar melhor os espaços. A prova disso é a Alemanha.”
Na final de domingo, Espinosa vai torcer pela Argentina, ao contrário da maioria dos brasileiros. Pesaram a relação de amizade com Sabella e o gosto, o apreço, pelo futebol argentino. “A Argentina tem uma grande seleção.” Seria a maneira de Sabella conquistar um título que ele não pode alcançar em 86, quando a Argentina de Maradona foi campeã do Mundo. Carlos Bilardo, então treinador, não levou Sabella ao Mundial do México.
Por anos, Sabella foi auxiliar técnico de Daniel Passarella. Como técnico, sua carreira é curta. Assumiu o Estudiantes em 2009 e poucos meses depois conquistaria a Libertadores da América, vencendo o Cruzeiro. Esse trabalho o credenciou para virar treinador da Argentina, cargo que assumiu em 2011.
VEXAME – Espinosa lamentou a derrota do Brasil por 7 a 1 para a Alemanha, mas afirmou que não acredita que o futebol brasileiro irá mudar depois do vexame histórico. “As coisas têm de mudar? Tem. Mas ouço isso há anos e não acontece nada. Falam que o modelo é a Alemanha, mas lá tem 300 centros de treinamentos, escolinhas.”
Para ele, o Brasil tem, primeiro, recuperar seu estilo, voltar “a ser Brasil”. Espinosa disse ainda que a maioria dos treinadores tem obsessão por números e que só pensa em anular o adversário em vez de propor jogo. “Tenho certeza que os jogadores brasileiros sabiam tudo sobre a Alemanha, todos os números, mas não sabiam o que fazer com a bola. Era só chutão. Não sou contra computar, números, mas não podemos ficar só analisando isso, quem correu mais, quem correu menos.”