Se for levada em conta a análise que o espião da Alemanha fez sobre o Brasil, não há nem a necessidade de se disputar a final. O time de Luiz Felipe Scolari já é campeão do mundo. Michael Skibbe, auxiliar técnico e braço-direito de Rudi Voeller, viu a partida entre Brasil e Turquia, na quarta-feira, em Saitama, no Japão, e disse que os brasileiros têm excelentes atacantes, um meio-de-campo forte e dois zagueiros eficientes em bolas altas.
Seul (AE) – “O Brasil tem um excelente futebol, sabe jogar pelos dois lados e tem três atacantes extraordinários, Rivaldo, Ronaldo e Ronaldinho, que vai voltar na final”, observou. Segundo o auxiliar de Voeller, a Alemanha terá dificuldades para pôr em prática sua jogada mais forte, a bola cruzada na área, porque os “defensores brasileiros Lúcio e Roque Júnior são muito bons nas bolas altas”.
Na realidade, esse discurso vem sendo adotado por todos os componentes da comissão técnica da Alemanha. Querem jogar o favoritismo para o lado do rival e diminuir a pressão de seus atletas, jovens em sua maioria.\
Mas em nenhum momento conseguem esconder a auto-confiança, ou em algumas ocasiões arrogância, alemã.
Skibbe fez questão de lembrar que seu time respeita, mas em hipótese nenhuma teme o Brasil. “Também temos uma boa equipe e sabemos fazer jogadas pelo chão, como mostramos diante da Coréia.” Em sua opinião, as duas equipes têm filosofia ofensiva e vão buscar o gol o tempo todo. A Alemanha, porém, só marcou um gol por jogo a partir das oitavas-de-final. A média na competição é boa, quase 2,5 por partida, por causa da goleada sobre a inexpressiva Arábia Saudita, na primeira rodada, por 8 a 0.
Nesta sexta e no sábado, Voeller vai exibir teipes dos jogos do Brasil e alertar principalmente para as jogadas pelas laterais, com Roberto Carlos e Cafu. O trio de ataque brasileiro não receberá marcação especial. O sistema de marcação alemão já é muito forte. Seguramente os três terão dificuldade em furar o bloqueio do adversário.
Klose está com dores
Seul
(AE) – O goleador da Alemanha e vice-artilheiro da Copa, Klose, que já marcou 5 gols, está com dores dores na costela e preocupa, afirmaram membros da comissão técnica da seleção. Tudo, porém, não passa de blefe. O atacante, de apenas 24 anos, está confirmado para enfrentar o Brasil. Ontem, participou do treinamento que o elenco realizou em Seul.O atacante Jancker não treinou ontem, por causa de dor de garganta e um pouco de febre. Passou a tarde descansando no hotel, mas poderá ficar à disposição do técnico Rudi Voeller.
A delegação alemã viaja hoje para Yokohama e faz um treino no período da tarde no Japão. Amanhã, fará o reconhecimento do gramado do estádio de Yokohama para o jogo de domingo. Na manhã de segunda, a equipe retorna à Europa.
Neuville enfrenta o amigo
Eduardo Maluf
Seul
(AE) – Oliver Neuville, atacante de 29 anos, terá pela frente um amigo, com quem treina diariamente na Alemanha. Trata-se do zagueiro Lúcio, da seleção brasileira. Ambos atuam juntos no Bayer Leverkusen e vão apostar tudo nessa decisão de domingo. É o jogo de suas vidas, uma oportunidade que pode ser única. O alemão diz que o zagueiro do Brasil é um dos melhores do mundo, mas espera que desta vez seja derrotado.“Somos colegas, nos conhecemos bem, mas espero muito ganhar dele.” Neuville é um dos mais experientes do time, apesar de estar disputando sua primeira Copa do Mundo. Embora a equipe tenha vencido 5 dos 6 jogos, o “meio alemão” -nasceu em Locarno, na Suíça, mas naturalizou-se alemão – ainda não despontou como se esperava. Mesmo assim, vem garantindo a posição entre os 11 titulares. “O ataque ainda não brilhou, mas a defesa está muito bem.”
A defesa é, em sua opinião, o ponto forte da Alemanha e pode desequilibrar em favor da seleção européia. O atleta do Bayer acha que Rivaldo, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho terão poucas chances caso os zagueiros de seu time estejam inspirados como nas últimas semanas. “Se a defesa jogar mais ou menos como nos últimos jogos, o Brasil vai ter sérios problemas.”
O baixinho, de 1, 71m, é um dos queridos do técnico Rudi Voeller. Neuville fala espanhol, italiano, francês, mas tem dificuldade em pronunciar algumas palavras em alemão, porque seus pais costumavam conversar em italiano em casa. Isso deixa Voeller furioso. Quando o ouve falando um alemão “arrastado”, trata de pedir que mude para o italiano.
Final não empolga os alemães
Munique
(AE) ? A euforia contagiante da torcida alemã, terça-feira, depois da vitória sobre a Coréia do Sul, conquistando o direito de disputar a sétima final de uma Copa do Mundo, não teve seqüência nos dias que se seguiram. Ontem eram bastante raros os casos de torcedores que vestiam camisa da seleção alemã ou mesmo automóveis que circulassem com a bandeira do país. Há grande expectativa na Alemanha, sem dúvida, mas ela se manifestará apenas no fim de semana. Por enquanto, nada na capital da Bavária faz lembrar que a nação pode ser tetracampeã do mundo domingo.Não é preciso estar no Brasil para se imaginar que a partida de futebol contra o time do técnico Rudi Voller, em Yokohama, domingo, está orientando o comportamento do brasileiro em geral. Não se pode dizer o mesmo dos alemães. “É só um esporte, não?”, diz Roman Heinel, quando perguntado por qual razão a Leopoldstrasse viveu nesta quinta-feira um dia absolutamente normal. Para ele, os alemães fazem, quase como regra, uma distinção grande. “Cada coisa tem o seu lugar e sua hora.” Se na terça-feira o deslumbre da torcida com a vitória sobre a Coréia do Sul levava o espectador daquelas manifestações todas a questionar a conhecida frieza dos alemães, nesta quinta-feira ele a compreenderia com perfeição.
É certo que a polícia alemã distribuiu um comunicado, quarta-feira, escrito em alemão e turco, ameaçando tirar a carteira de habilitação dos que insistissem em circular pela Leopoldstrasse buzinando. Houve reclamações dos moradores da área e como na Alemanha os direitos dos cidadãos são preservados a polícia interveio. Mas independente de os buzinaços estarem proibidos, outros gestos mais simples e inofensivos, como instalar uma pequena bandeira do país no carro, como a maioria adotou no Brasil, também não foram seguidos.
A TV alemã, ontem, deu destaque ao treinamento da sua seleção, apresentou uma longa entrevista com o técnico, mas o que mais ganhou espaço foi a decisão do primeiro ministro, Gerhard Schroeder, de viajar para o Japão a fim de assistir ao jogo contra o Brasil. Sua assessoria de comunicação teve de dar explicações, afinal tratava não apenas do político, mas de uma grande comitiva. A TV expôs imagens do avião, um Airbus, e fazia as contas do quanto se gastaria com a viagem na “nobre torcida”, questionando a validade da iniciativa.