“Ai, ai, ai, ai, tá chegando a hora… O dia já vem raiando meu bem e eu tenho que ir embora…”. Foi assim a despedida da Espanha da Copa do Mundo, ao som da velha e cansada marcha de carnaval. Apesar da preguiça, os campeões do mundo venceram a Austrália por 3×0 ontem na Baixada (com o maior público até agora) e encerraram a passagem pelo Brasil e por Curitiba, onde ficaram concentrados no CT do Caju.
Diferente dos outros jogos, a chegada à Arena, apesar do trânsito mais intenso, foi bastante tranquila. Não havia nem o frenesi do primeiro jogo de Copa, nem uma invasão coordenada, como foi a dos equatorianos. Os australianos chegavam embalados pela cerveja consumida de forma industrial, os espanhóis mais tímidos e os brasileiros na expectativa de pelo menos um bom jogo.
As filas demoraram a se formar, apesar do movimento constante. Nem mesmo nas mais disputadas barracas de patrocinadores a espera era grande. Era possível, com a boa vontade de alguns seguranças, passar para áreas inicialmente proibidas para torcedores ou jornalistas. Nas ruas do perímetro Fifa, muitos carros estacionados. Um jogo de Copa com “padrão Brasil”.
A maioria, de novo, vestia amarelo. Apareceu australiano de tudo quanto era jeito – inclusive um vestido de Crocodilo Dundee, e um só de crocodilo. Entre os espanhóis, destaque para um toureiro cheio de estilo – se bem que a seleção estava mais para um toureiro desastrado, que tropeçou na areia e ficou pronto para levar uma chifrada.
Meia hora antes da partida, aumentou consideravelmente o movimento. Mais um mar amarelo nas imediações da Arena, que ficou evidente dentro do estádio – eram australianos e brasileiros unidos contra a Espanha. A empolgação era tanta que os gritos de “olé” começaram aos dois minutos do primeiro tempo. Só que a Espanha, apesar de tudo, tem talento. E num lance precioso de Iniesta, Juanfran cruzou e Villa fez de letra. Uma espécie de amostra daquela seleção que poderia ter sido e não foi.
A partir do final do primeiro tempo, a atenção estava mais fora do que dentro do campo. Apesar do bom ambiente de antes, houve discussões, brigas e torcedores retirados das cadeiras (ver matéria na página 18). No gramado, Austrália e Espanha faziam o tempo passar, num final melancólico de Copa do Mundo para as duas seleções. Os gols de Fernando Torres e Mata apenas finalizaram a tarde. Uma cena apenas ficou para a história – aos prantos, David Villa deixou a Arena após encerrar sua carreira na seleção campeã do mundo.