No futebol, os 28 anos começam a marcar o ocaso da carreira de um jogador. No atletismo, a idade ainda permite sonhos de uma considerável evolução. É nisso que aposta a lançadora paranaense Neuciane Celestino de Azevedo, que dois anos antes de completar o 30.º aniversário luta contra as dificuldades para atingir grandes metas: disputar o Pan de 2007, no Rio de Janeiro, e quem sabe, as Olimpíadas de Pequim, um ano depois. Objetivos que dependem de patrocínio e dedicação total ao esporte – algo impossível para quem ainda não se livrou do semi-amadorismo.
Natural de Goioerê, no oeste do Estado, e vivendo em Curitiba há nove anos, Neuciane é polivalente nas provas de lançamento – disputa competições no dardo, disco e peso. A especialidade é o dardo, prova que ganhou três vezes nos Jogos Abertos do Paraná, competindo por Londrina, e na qual conquistou o 5.º lugar no último Troféu Brasil.
Os resultados não animaram os patrocinadores.
A atleta recebe apenas R$ 150 mensais como ajuda de custo de sua equipe, de Londrina. Muito pouco para pagar faculdade de Educação Física, gastos pessoais e material de treinamento – um dardo de competição, por exemplo, custa cerca de R$ 1.600,00. Assim, ela é obrigada a fazer bicos para sobreviver, como o de frentista num posto de gasolina e o emprego temporário atual, como vendedora da loja de cosméticos Body Store, num shopping da capital. Nas horas vagas, treina no Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná.
Uma rotina nada produtiva para quem pretende disputar um Pan-Americano dentro de um ano e meio. Neuciane já alcançou a marca de 45m no arremesso de dardo, e precisa melhorar pelo menos dez metros para representar o Brasil numa competição deste porte. "Não faço musculação, treino cansada porque chego a pé, não tenho médico, nutricionista nem equipamentos adequados. Se conseguisse tudo isso e treinasse em tempo integral, poderia disputar o Pan e até as Olimpíadas", desabafa a atleta, que chegou a abandonar o esporte por dois anos, desanimada com a falta de incentivo.
Todo o esforço, porém, tem uma inspiração: Sueli Pereira dos Santos, possivelmente o maior nome do atletismo feminino já surgido no Paraná. Bela e vaidosa, Sueli foi capa da revista Playboy nos anos 80, quando era recordista sul-americana da prova. "Conheci pessoalmente a Sueli, que me incentivou bastante. Quando eu soube que ela conseguiu a melhor marca da carreira com 35 anos, tive mais vontade de continuar", diz Neuciane.
Hoje, a atleta sabe que o auge em sua especialidade pode chegar até os 38 anos, em alguns casos. Assim, sentindo-se uma principiante, ela espera uma chance de tornar o Paraná um Estado com tradição de grandes lançadoras.
