São Paulo – Mais do que fazer cálculos, estudar geometria, conhecer aerodinâmica e traçar estratégias, é de psicologia que um engenheiro de Fórmula 1 precisa entender. Saber interpretar o que sente um piloto depois de algumas voltas é a chave para uma boa relação com aquele que, na pista, tem de traduzir num bom tempo tudo aquilo que foi feito nos boxes.

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?A dupla piloto-engenheiro é a mais importante da F-1. Se eles confiam um no outro, é meio caminho andado?, define Frank Dernie, da Williams. Mas se não há tal confiança, a maionese desanda, como conta Ricardo Zonta. ?No meu primeiro ano de F-1, nem eu entendia nada, nem meu engenheiro. Éramos dois \\, e por isso as coisas não deram certo na BAR?, lembra o hoje piloto de testes da Toyota.

A rotina no relacionamento entre piloto e engenheiro, num fim de semana de GP, começa na quinta-feira, quando acontece a primeira reunião a portas fechadas. Os dois conversam sobre a pista, a temperatura, os pneus disponíveis, eventuais novas peças que serão usadas naquele circuito e estratégia de corrida. A partir desse papo, estabelece-se um acerto, ou ?set up?, básico para o início dos treinos na manhã seguinte.

Nas práticas, o entra-e-sai dos boxes é intenso em todas as equipes. Duas voltas, pára, conversa, mexe, pista de novo, mais cinco voltas, pára, mexe mais, acerta aqui, arredonda ali… Pelo rádio, o piloto vai ?narrando? suas voltas ao anjo da guarda do lado de lá da mureta, relatando onde o carro sai de frente, onde sai de traseira, se está equilibrado nas freadas, se vai bem nas curvas de alta, se vai mal nas de baixa. Acabou o treino, nova reunião, agora diante dos computadores com os dados de telemetria: pontos de aceleração, frenagem, marchas usadas, onde se perdeu tempo, onde se ganhou.

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Quanto mais precisas as descrições sobre o comportamento do carro, melhor. ?A arte de interpretar o que eles dizem e a partir disso tirar as conclusões certas é o segredo?, testemunha Mike Gascoyne, da Toyota. ?Do ponto de vista do engenheiro, piloto bom não é necessariamente o mais rápido, mas aquele que sabe onde está perdendo tempo numa volta. Qualquer piloto sabe dizer o que é preciso para um carro ficar mais rápido. Mas como só dá para resolver um problema por vez, é muito mais útil aquele que tenta solucionar primeiro a saída de traseira numa chicane, para ganhar tempo na reta seguinte, do que aquele que te conta uma história sem fim sobre tudo que aconteceu a ele numa volta?, diz Dernie.

?Num fim de semana de GP não há tempo para papo furado. Tudo tem de ser rápido, porque se você se concentra na coisa errada, perde muito tempo?, resume Sam Michael, diretor-técnico da Williams. Ele elogia Nick Heidfeld, considerado por muita gente como um dos pilotos mais precisos na descrição do comportamento de um carro. ?Nick analisa cada curva e transmite suas impressões com calma e serenidade. Tem consciência de que é apenas um piloto, e não se comporta como um engenheiro amador. Para um engenheiro, é o piloto perfeito?, concorda Mario Theissen, da BMW, que deve levar o alemão para a equipe da montadora no ano que vem ? a BMW comprou a Sauber.

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