Praia Brava, fim de tarde, sol quase indo, mas ainda forte. Bem próximo, o Quiosque do Pirata, com gente bonita, música "lounge", o som é do Buddha Bar by DJ Ravin.
Florianópolis (AE) – Nesse cenário, o verão em Florianópolis é mesmo irresistível. Dá para entender a importância de às vezes viver num dolce far niente. Encostado na areia branca, separado apenas por um trapiche, no alto do condomínio Águas da Brava, no terraço da cobertura, o ex-número 1 do tênis mundial, Gustavo Kuerten, tem uma visão privilegiada. De longe avista as ondas grandes. É hora de pegar a prancha e cair no mar.
"Coloca aí, as ondas são de dois metros", diz Guga com um sorriso de um misto de orgulho, por ter isso tudo em sua terra natal, e satisfação, por estar aproveitando, finalmente, o que a fortuna lhe proporcionou. "Há 15 anos não passava um verão em Floripa."
O cabelo está mais claro -parafinado, talvez – e, sem camisa, mostra que está forte. Guga vem fazendo fisioterapia e academia. Na raquete só vai pegar depois do Carnaval, reiniciando os treinos com Larri Passos. Não quer apressar sua volta. "Aprendi muito com a primeira cirurgia e tirei minhas lições", diz o tenista, cauteloso. "Apenas bati uma bola nos últimos dias, para o médico observar meus movimentos."
A volta às quadras vai sofrer mais um atraso. "Só lá por abril", diz o tenista, que ainda não definiu se jogará a partir do dia 4 em Valência, ou um pouco mais para frente, no dia 11, no Masters Series de Montecarlo. "Mas não quero colocar muitas expectativas, pois assim posso apreciar melhor as vitórias que vierem, ter prazer nos bons resultados." O prazer vai ser um ponto importante nesta volta ao tênis para Guga. "Vou ter um ano decisivo. Se conseguir jogar com prazer, sem dores, posso definir quantos tempo ainda tenho pela frente." Mas, se a lesão incomodar, o destino do tenista poderá ser outro.
Tetra
Apesar de duas cirurgias e dos vários meses afastado das quadras, Guga ainda quer o tetracampeonato de Roland Garros. Sabe que sua técnica é eficiente e orgulha-se de ter sido o único da temporada passada a vencer Roger Federer em um torneio do Grand Slam. Por isso, com o físico em ordem, basta treinar algumas semanas e partir para os torneios no saibro, onde já foi rei.
"Roland Garros é a minha meta. Quero chegar lá no melhor da minha forma", diz e já emenda nos comentários de Roger Federer, que revelou seu desejo de vingar-se do brasileiro. "Ele (Federer) está numa fase em que tudo encaixa perfeitamente e tem dado tudo certo, quando enfrenta um top ten. Faz lembrar aquela minha época em que só perdi três ou quatro partidas nas quadras de saibro. Ganhava um torneio atrás do outro. Agora, acho que não consigo repetir isso, mas acho que ainda posso jogar de igual para igual."
Antes de entrar na fase rígida de treinamentos, Guga isolou-se no norte da ilha de Florianópolis, na Praia Brava. Logo cedo, se avistar boas ondas, vai surfar, ou deixa para o final da tarde. E como diz o seu técnico Larri Passos, "tenho certeza de que o Guga vai jogar bem este ano. Está surfando, fazendo o que gosta e vai voltar aos treinos com a cabeça boa, pois está muito motivado".
Além do surfe, Guga costuma ainda dar uma corridinha na praia. Normalmente não é incomodado pelos locais e pode freqüentar o Quiosque do Pirata para tocar seu contrabaixo, como fez no início da semana. Nestes últimos dias, porém, teve de abrir mão da rotina. Com a chegada do Carnaval e de muitos argentinos e outros turistas, o assédio tirou sua tranqüilidade. Fica então na piscina do prédio, vivendo seus dias com a namorada Letícia.
Só que não se animou com o espírito casamenteiro de Lleyton Hewitt, que depois de desmanchar com Kim Cljisters, já pediu a atriz australiana Bec Cartwright em casamento. "Casar agora? Não, só depois de parar de jogar. Não vou casar para ficar viajando o ano todo." As atenções de Guga estão muito ligadas ao tênis. Ficou feliz com a possibilidade de Larri Passos assumir o cargo de capitão da Copa Davis.
"É o melhor nome, com certeza", garantiu o jogador. "Acho que a própria CBT vai ganhar mais prestígio. Afinal, tem muitas empresas querendo investir no tênis, mas precisavam de uma entidade séria. Acho que para a CBT vai ser importante contar com o Larri."
Apesar de todo esse apoio, Guga não irá acompanhar a equipe no confronto diante da Colômbia, em Bogotá, como chegou a ser comentado. "Acho que a situação da CBT não é para isso. Mais importante do que minha presença é economizar dinheiro, viajar só com o técnico, mais cinco jogadores, para ter um reserva e pronto".
Com a cara boa, Guga disse que está muito motivado para voltar às quadras. Está à espera de um novo contrato de roupas – no ano passado jogou de branco ou com a marca da Head – para não ter muitas preocupações e colocar todo o foco no que mais gosta: jogar e vencer.
Tenista foi um "descobridor" de novos points
Florianópolis (AE) – Nos tempos sem grana, andando de carona, com a prancha debaixo do braço, Gustavo Kuerten, em suas aventuras atrás de ondas, descobriu verdadeiros pedaços do paraíso na ilha de Florianópolis (SC). Na época tudo era um sonho impossível. Mas agora, com a fortuna ganha nas quadras, Guga revelou seu faro investidor em empreendimentos imobiliários. Em Florianópolis, as pessoas costumam dizer que onde o tenista investe o negócio é bom.
Como investidor, Guga associou-se à construtora Hantei, dirigida pelo seu irmão Rafael. Seu palpite vale ouro. Desde criança sonhava com um lugar na Praia Brava. Hoje, o condomínio Águas da Brava está entre os melhores e mais luxuosos da região, que há alguns anos era até de difícil acesso.
Em Florianópolis, todos sabem onde Guga tem casa, apartamento, ou está construindo e o que anda fazendo. Os colunistas sociais da cidade são sempre bem informados. O badalado Cacau Menezes, do Diário Catarinense, tem o ibope alto e não deixa escapar uma, sempre atento a qualquer novidade.
Assim, para saber onde o Guga está, basta perguntar para descobrir, por exemplo, que vem construindo uma casa em outro canto da ilha, no sul, uma região que não tem a mesma sofisticação do norte, mas conta com belos cenários. Num deles, o Morro das Pedras, está erguendo uma mansão, como dizem em Florianópolis. Falam ainda que passou o réveillon com a família neste local.
Os mais antigos moradores dizem que, por causa do vento, o sul da ilha demorou a ser habitado. Os mais endinheirados preferiam ir para o norte, distante do centro, mas com natureza exuberante e praias irresistíveis.
A ilha tem muitos encantos. Mas Guga tem talento. E seu faro o levou ao continente para uma região de pescadores, no município de Governador Celso Ramos. Mais um paraíso, em que construiu uma casa de quatro andares, envidraçada, com vista para o mar e de onde pode se ver sua adorada ilha de Floripa. Costuma ir a esta casa de lancha.
Nos planos de Guga, através da construtora Hantei, estão ainda em vista empreendimentos no Santinho – praia ao norte – e no Parque São Jorge, região agradável da cidade, próxima à Lagoa da Conceição, também muito perto da casa de sua família. (CLM)
Catarinenses preparam os "sucessores"
Florianópolis (AE) – Para não viver só das lembranças de Guga, Santa Catarina transformou-se na capital do tênis brasileiro. O Instituto do Tênis, com sua principal base montada em Itajaí, no Itamirim Clube, está com um programa arrojado de preparação de tenistas profissionais. E com estrutura e investimentos, além de bons conhecimentos técnicos, prepara juvenis para a carreira profissional. Bem próximo, em Camboriú, existe outro instituto, o de Larri Passos, este de caráter bem mais social.
Em Itajaí, dois ex-tenistas, Ivan Kley e Marcos "Bocão" Barbosa, cuidam da parte técnica e recentemente estiveram viajando com uma equipe de 12 atletas para alguns dos principais eventos juvenis, como o Orange Bowl, em Miami. Tudo com apoio e logística, como cuidados técnicos, hospedagem, transporte e alimentação.
O Instituto do Tênis é presidido por Renato Traldi, apaixonado por tênis e com profundos conhecimentos em investimentos financeiros. Parece ser o nome certo para o tipo de programa que realiza. O sistema é curioso e lembra o utilizado pela federação catalã de tênis, como disse um dos diretores do instituto, Moacyr Werner Filho.
"O Instituto do Tênis, além de auxiliar na formação, financia a carreira do tenista. O dinheiro dado aos jogadores terá de ser pago depois, quando se tornar profissional, com um percentual de seus ganhos", explicou. "Este é o caso da tenista Nanda Alves, que já está devolvendo o que ganhou."
Em Camboriú, no Instituto Larri Passos, o técnico de Guga utiliza sua bem estruturada academia para um programa mais social do que propriamente esportivo. São 78 crianças carentes que recebem vários tipos de apoio. Existe até uma sala completa de dentista, para cuidar da saúde bucal. Há ainda nutricionista, treinadores, cozinha bem cuidada, enfim, tudo para preparar as crianças para o esporte e a vida.
Larri conseguiu até um acordo com uma escola próxima, Energia, com bolsas de estudos. "Não acredito que nenhum deles se transforme em profissional", diz Larri, muito mais preocupado em dar um futuro às crianças do que ver um profissional em tênis. Apesar disso, há crianças que em apenas alguns anos de aprendizado já mostram habilidade e não seria surpresa se algum deles se transformasse em profissional. (CLM)