São Paulo – ?Expulsei aos 83 minutos o gandula André Torresani, por ter segurado a bola demasiadamente, retardando o reinício do jogo. Após ter sido expulso, o referido gandula saiu gesticulando, inflamando a torcida do São Paulo.?
O registro consta da súmula de São Paulo 3 a 1 Corinthians, apitada por Paulo César de Oliveira. O gandula fez tudo isso: demorou para devolver a bola ao campo quando o São Paulo estava na frente do placar, chamou a torcida levantando os braços, comemorou como um torcedor os gols do Tricolor e ainda mandou beijinhos para o técnico do Corinthians, Emerson Leão – que, claro, não gostou nada da provocação.
?Já fui treinador aqui e sei?, disse Leão após o jogo, ainda no Morumbi, onde trabalhou entre 2004 e 2005. ?Esses meandros fazem a diferença. Quanto a aquele gandula que ficou me mandando beijinho, quando fui procurá-lo, ele já devia estar na casa dele.? O goleiro Marcelo, que observou de perto a atuação do gandula, também atirou: ?Os árbitros não observaram nada. Eles (gandulas) estão de sacanagem. Por isso que é gandula?.
Não foi a primeira vez que um gandula virou notícia no Paulistão. No início do mês, o estádio do Comercial de Ribeirão Preto chegou a ser interditado porque o gandula Carlos Marcos dos Reis agrediu com uma barra de ferro o goleiro Marcão, do Botafogo, no clássico da cidade pela Série A-2.
Mulheres à vista? – Garotas universitárias -acima de 18 anos, podem passar a atuar como gandulas. Essa possibilidade é estudada pelo Departamento Técnico da FPF, que analisa os problemas ocorridos domingo com um gandula durante a vitória do São Paulo sobre o Corinthians, no Morumbi. Muitos acreditam que a probabilidade de incidentes com mulheres como pegadoras de bola é muito menor. A idéia pode ser colocada em prática já na próxima rodada da Série A-2, em Ribeirão Preto – amanhã, o Comercial recebe o Oeste.
Os gandulas são escolhidos pelo clube mandante e são torcedores do time da casa. A entidade admite, ao mesmo tempo, aplicar punições mais rigorosas às equipes por problemas envolvendo os pegadores de bola, como a perda do mando de campo.
Corinthians fica na bronca
São Paulo – O Corinthians fez questão de informar ontem que os gandulas escolhidos para pegar bola no Pacaembu, onde o time manda seus jogos, recebem algumas orientações: repor a bola com a mesma velocidade para as duas equipes, não fazer comentários ou gracinhas com jogadores, não chamar a atenção do árbitro nem dos torcedores e jamais prejudicar o bom andamento da partida.
Na cartilha do bom gandula é isso mesmo o que ele aprende em todos os estádios do Brasil.
Lembrando do Felipão
Na prática, a coisa é bem diferente. Quem não se lembra dos tempos do técnico Luiz Felipe Scolari no Grêmio e no Palmeiras? O treinador nunca negou que mandava mesmo os gandulas jogarem mais de uma bola em campo ou ?fazer sumir todas elas.?
A estratégia de Felipão ajudou muito o time, sobretudo na Libertadores, onde os gandulas estão convencidos de que devem mesmo ajudar o clube que os paga. Gandula e goleiro faz cera desde que Charles Muller trouxe uma bola para o Brasil. E assim continuará sendo.
Prejudicado pelos gandulas do Morumbi no clássico de domingo, o técnico corintiano Emerson Leão por pouco não tentou resolver o velho problema com as próprias mãos. Estava tão irritado que descontou tudo na arbitragem, como se ela fosse responsável por isso.
No Pacaembu, os gandulas ?contratados? pelo Corinthians recebem R$ 50 por jogo. São oito. ?Geralmente são pessoas ligadas ao clube, um funcionário, um jogador das bases ou indicação de terceiros. Não são os mesmo sempre?, informou a assessoria do clube.
Na Vila Belmiro, a reposição é quase natural
Agência Estado
Na Vila Belmiro foram registrados inúmeros problemas em jogos, mas jamais com gandulas. Houve a queda de parte das arquibancadas, num clássico entre Corinthians e Santos, na década de 60, e até invasões de torcedores. Mas como na Vila não há fosso entre o campo e o alambrado e nem pista de atletismo, não tem como o gandula retardar a devolução da bola. O alambrado fica quase dentro do campo. É comum ver os próprios atletas buscando a bola.
Seu Valdir Gonçalves, de 78 anos, funcionário do Peixe, é encarregado de selecionar e orientar os gandulas. ?São 6 gandulas, mas dependendo do jogo, podem ser 8. Todos com mais de 18 anos, por exigência da Federação Paulista. Há uns três anos, o Santos escalava jogadores infantis, mas agora não pode?.
Valdir dá preferência a jogadores juvenis ou juniores. Quando coincide com jogos da categoria e não há garotos disponíveis, ele recorre a jovens de fora, todos cadastrados. Cada um recebe R$ 30 ou R$ 40.
Eles chegam uma hora antes do início do jogo e recebem o uniforme – calção, camisa, meias, abrigo, se estiver chovendo, e às vezes até tênis – que não pode ter o símbolo do clube e nem publicidade. A orientação, segundo Valdir, é a mais simples: ?Devolver a bola imediatamente para o campo, de preferência nas mãos do jogador?.
No Porco
Palmeiras, quem faz o recrutamento dos gandulas é o professor de educação física Márcio Aversani. ?Trabalhamos com um grupo de 18 rapazes, a maioria universitários, estudantes de educação física. Não vou ser hipócrita de dizer que não há retardo na devolução da bola. Isso acontece. Mas sempre que ocorre, o garoto é repreendido.