Dois times formados por 11 jogadores se enfrentam no futebol, mas há, em muitos momentos, um outro adversário comum para essas equipes: a arbitragem. Ao mesmo tempo em que precisam coibir ações ilegais e domar instintos, os juízes se veem em meio a uma tarefa complicada, de adotar as decisões mais corretas possíveis no mínimo de tempo. Em busca do acerto em meio ao caos, ganharam, enfim, um aliado, o assistente de árbitro de vídeo (VAR, na sigla em inglês).
A reportagem do Estado teve a oportunidade de operar um simulador do VAR na sede da Federação Paulista de Futebol (FPF) nesta quinta-feira, às vésperas da sua homologação para utilização no mata-mata do Estadual, e confirmou a percepção de que ele tende a se tornar um recurso de confiança para os árbitros darem sequência ao seu trabalho. E ainda culminando na diminuição da mais aflitiva situação para eles: tomarem uma decisão sem ter a certeza do que estão fazendo.
A possibilidade de maior demora nas marcações de campo pode entrar em conflito com a opção que a tecnologia dá aos árbitros assistentes de vídeo de interferir no jogo, vontade que a reportagem carregou durante toda a simulação do VAR, que pouco lembra o ambiente dos estádios de futebol, sempre pulsantes.
O sistema possui muito barulho por causa da comunicação constante entre o árbitro assistente de vídeo – função desempenhada pela reportagem -, seus assistentes e os operadores de replay. E, à minha frente, os dois botões que podem alterar os rumos de um campeonato: o vermelho, para comunicação com o juiz, e o verde, para marcar os lances duvidosos, que poderão ser alvo de revisão.
A tentação de acioná-los é justificável. Afinal, a velocidade com que se desenrola uma partida de futebol aumenta o potencial de infrações que podem ocorrer, provocando o desejo de não deixar a situação sair do controle, algo praticamente impossível no futebol. E o nível de concentração no jogo precisa ser máximo.
Errar, portanto, é fácil. E para lidar com algo tão intrínseco ao ser humano, o futebol decidiu adotar alguma robotização. É sedutor acionar as diversas câmeras para rever os lances – serão até 19 na reta final do Paulistão – para tomar decisões sobre um esporte até então tão analógico como o futebol.
Os árbitros reconheceram que a postura será mais cautelosa para se apitar ou levantar a bandeira durante os jogos com o VAR . “Vamos esperar e segurar um pouco mais”, disse Emerson Augusto de Carvalho, o mais experiente assistente do futebol paulista.
O VAR só pode ser usado em quatro situações: lances de gol/não gol, pênalti/não pênalti, cartão vermelho e erro de identificação na aplicação de cartões. Para ser adotado no Paulistão, o sistema será homologado sábado, no Morumbi, em jogo entre atletas da base do São Paulo. Domingo, os protocolos e procedimentos vão ser testados no mesmo local, no jogo entre São Paulo e Red Bull Brasil, mas sem comunicação com o juiz de campo. Será o passo final para a entrada do futebol paulista na era da tecnologia. E para a tentativa de se controlar o caos a partir das câmeras.