Uma das grandes esperanças do Brasil na luta por medalhas na Olimpíada de Pequim, o nadador Thiago Pereira, de 22 anos, tem como referência no esporte um ícone do automobilismo: Ayrton Senna da Silva. O piloto brasileiro de Fórmula 1, três vezes campeão do mundo, morreu num acidente durante o Grande Prêmio de San Marino de 1994, em Ìmola, mas continua vivo na memória do jovem astro brasileiro das piscinas, que o tem como um ídolo.

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"Eu queria ser uma pessoa e um atleta como ele", declarou Thiago Pereira, mostrando emoção ao falar do ídolo Senna. "Não tive a oportunidade de vê-lo pessoalmente, mas é a minha referência no esporte brasileiro. Carrego comigo a seguinte frase dele: ‘É irreal pensar que vou vencer sempre, mas sempre espero que a derrota não venha no próximo final de semana’."

Assim como Senna, Thiago Pereira se orgulha do País e do seu povo. Visto com idolatria por milhares de crianças, ele se preocupa bastante com sua imagem. O nadador faz de tudo para transmitir somente bons exemplos para a nova geração. "Penso duas vezes no que vou falar e fazer. Mesmo sem perceber, virei um espelho. É uma responsabilidade gostosa", admitiu.

Por conta do sucesso repentino – principalmente depois das oito medalhas conquistas nos Jogos Pan-Americanos do Rio, em julho passado -, sua vida obviamente mudou. Mas ele garante que a fama não subiu à cabeça. "Sou o mesmo Thiago que nasceu em Volta Redonda (cidade a 130 quilômetros do Rio)", avisou o nadador.

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Porém, o nadador Thiago Pereira não é mais aquele que começou, aos 12 anos, no Clube dos Funcionários de Volta Redonda e, quatro temporadas depois, se transferiu para Belo Horizonte, a fim de defender o Minas Tênis Clube. Hoje, por conta de seu currículo repleto de vitórias, é visto com respeito e admiração pelos seus rivais.

Tamanha valorização não veio por acaso. Nos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007, Thiago Pereira inevitavelmente roubou a cena: conquistou oito medalhas e tornou-se o maior vencedor individual em uma edição da competição – o brasileiro superou o antigo recorde do norte-americano Mark Spitz. Outra façanha foi em 18 de novembro de 2007, durante uma etapa da Copa do Mundo de Natação, em Berlim, quando ele quebrou o recorde mundial dos 200 metros medley, em piscina curta, com o tempo 1m53s14.

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Sua evolução é nítida. Ele obteve seis índices olímpicos para Pequim, mas quer concentrar forças em duas provas principais, nas quais tem mais chance de medalha: 200 e 400 metros medley. Durante o Troféu Maria Lenk, que terminou neste domingo, no Rio, Thiago Pereira deu uma prova de seu domínio na natação brasileira, ao conquistar seis medalhas de ouro.

Nos Jogos de Pequim, no entanto, Thiago Pereira terá um desafio muito maior. Mesmo porque, suas provas contam também com o norte-americano Michael Phelps, o grande fenômeno da natação atual. "Não é tão fácil (derrotá-lo). Phelps é o melhor do mundo, mas uma coisa é fato: ninguém ganha para sempre. Vencê-lo depende do momento e do dia. Se tudo der certo, vai", afirmou o brasileiro, mostrando confiança. "Phelps é favorito, mas não é certo que será o campeão."

Em ano de Olimpíada, a dedicação é total. Numa rotina impiedosa, Thiago Pereira acorda por volta de 6 horas, come pouca coisa e vai treinar – a alimentação reforçada só faz depois da atividade Na vida noturna: nada de badalações. Prefere dormir cedo e seguir com o bom ritmo que mantém nos treinos.

"Daqui a seis anos, vou poder sair à noite, mas não sei se vou poder disputar uma Olimpíada. Então, na verdade, apenas adio minha juventude. Não chamo isso de sacrifício", explicou Thiago Pereira.

Agora, após a disputa do Troféu Maria Lenk, ele vai com a seleção brasileira para Sierra Nevada, na Espanha, cuja altitude é de 2.400 metros acima do mar. Em seguida, encara um torneio na Europa e, enfim, retorna ao Brasil – já bem próximo do embarque para Pequim. "A ansiedade e o nervosismo vão bater forte", admitiu Thiago Pereira. "Mas sei me tranqüilizar. Ganhei maturidade."