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Em encontro de amigos, Rivellino e Ademir da Guia celebram os 100 anos do Dérbi

Ademir da Guia escolheu com cuidado a jaqueta que levaria para uma entrevista especial ao jornal O Estado de S.Paulo no estádio do Pacaembu, em São Paulo. Caso esfriasse, o ídolo palmeirense estava munido com o casaco azul escuro, antigo, e tirado do armário só porque ia rever com o amigo corintiano Rivellino. A causa do encontro era nobre, pois os dois relembraram a rivalidade centenária que, ironicamente, os leva a ter mais de 40 anos de amizade.

Neste sábado, 6 de maio, o Corinthians, de Rivellino, e o Palmeiras, de Ademir da Guia, completam 100 anos do primeiro jogo. A história começou com um 3 a 0 do clube alviverde, no antigo Palestra Itália, e, permeada pelo clima do disputa, não apresenta consenso nem no retrospecto. Para os alvinegros, foram disputados 352 clássicos. Já nas contas dos palmeirenses, aconteceram 10 partidas a mais.

Para marcar a data histórica, o jornal O Estado de S.Paulo reuniu a dupla no Pacaembu, estádio onde mais vezes foi disputado o clássico, com 151 jogos. Ademir da Guia, quem mais entrou em campo no dérbi, 57 vezes, se apressou a contar para Rivellino, a origem da jaqueta que trazia.

A peça foi um presente da patrocinadora do palmeirense para a disputa da Copa do Mundo de 1974, quando os dois foram colegas de seleção brasileira. Rivellino se espantou com a informação e brincou que, se tivesse guardado alguma roupa daquela época, não mais lhe serviria.

Os dois foram os capitães das equipes na histórica final do Campeonato Paulista de 1974. O Morumbi recebeu o maior público do clássico, 120 mil pessoas, e viu o Palmeiras ser campeão. Rivellino e Ademir repetiram o gesto daquela tarde com o cumprimento e a troca de camisas.

A dupla fez da entrevista um bate-papo para relembrar histórias curiosas e lamentar que talvez hoje em dia não se tenha o mesmo ambiente descontraído quando Corinthians e Palmeiras jogam. O clássico, aliás, já teve 11 mortes de torcedores por conflitos e para a tristeza dos dois ídolos não é mais disputado com a presença das duas torcidas.

Rivellino e Ademir da Guia concordaram ao dizer que Corinthians e Palmeiras só se tornaram potências porque um sempre quis superar o outro. “Era emocionante jogar o clássico. Quando era semana de jogo, tudo era um pouco a mais. Se você tinha o prêmio de um valor…”, contava Ademir da Guia, quando foi interrompido por Rivellino: “O bicho era sempre dobrado se ganhasse”, completou.

O começo da história centenária mais une do que separa os rivais. Os dois eram os únicos clubes paulistanos de origem popular na década de 1910, quando o futebol era da elite. As provocações entre as torcidas nos primórdios parecem tolas hoje em dia. Os palmeirenses já chegaram a atirar osso e a levar um galo ao estádio para debochar dos adversários.

Rivellino, por sua vez, comentou que, quando jogava, as brincadeiras já tinham um pouco mais de maldade. “Uma vez o Luis Pereira tirou uma bola de cabeça, mas ele tinha dentadura e ela caiu. Eu fui dar um bico na dentadura, mas ele foi antes e botou na boca, mesmo cheio de grama”, relembrou.

Apesar disso, o corintiano relembrou do respeito pelo Palmeiras ao citar parentes que torcem pelo clube alviverde e rir quando o amigo Ademir da Guia lhe contou durante a entrevista sobre a relação familiar com o rival alvinegro.

“Meu pai (Domingos da Guia) sempre falava para mim: ‘Ademir, joguei quatro anos no Corinthians e não fui campeão’. E eu falava: ‘Pai, calma que eu vou ser campeão no Palmeiras’”, brincou o ídolo palmeirense.

O ano comemorativo da rivalidade tem feito as diretorias dos clubes organizarem ações de marketing pela data. O Corinthians, por exemplo, realiza evento neste sábado com ex-jogadores no Parque São Jorge. Pela manhã, no Museu do Futebol, os jornalistas Celso Unzelte e Paulo Vinícius Coelho vão lançar o livro Derby Corinthians x Palmeiras: 100 anos de rivalidade com histórias e curiosidades dos encontros.

Neste ano, os rivais vão se encontrar mais duas vezes pelo Campeonato Brasileiro, em clássicos nas novas arenas. Ademir da Guia e Rivellino vão acompanhar as partidas com saudosismo e a lamentação porque agora, aposentados, não podem trocar as camisas entre si, mas apenas manter guardados os artigos do tempo em que desfrutaram dos aspectos sadios desta rivalidade centenária.

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