O Campeonato Paranaense é uma grande bagunça. E essa bagunça se estendeu de forma triste até o Rio de Janeiro, em um dos dias mais esquecíveis da história do nosso futebol. O dia 6 de abril de 2017 ficará marcado como uma data em que ficou evidente a incapacidade dos nossos dirigentes, principalmente da Federação Paranaense de Futebol, em criar uma competição que tenha pelo menos regras claras. E também que não há quem saiba interpretar a lei, a ponto de criar uma decisão esdrúxula. E nem de escrever a decisão, porque até isso aconteceu.

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STJD minimiza confusão, despacha ofício e rodada do Paranaense está confirmada

Após um dia de tensão e muita confusão, o Campeonato Paranaense chega na sexta-feira (7) sem definição se haverá ou não jogos no domingo (9). O STJD anunciou que o J. Malucelli estava eliminado e que em seu lugar entraria o Rio Branco para enfrentar o Londrina. Mas, no texto do acórdão, divulgado no final da tarde de ontem, o mesmo tribunal informou que o Leão da Estradinha estava incluído na oitava posição, o que mudaria o emparceiramento da competição. Pressionada por todos os lados, a FPF simplesmente não decidiu nada. Só que hoje precisa tomar uma decisão. Nem que seja paralisar o campeonato.

Já se pode dizer que não teremos jogos às 11h de domingo, uma possibilidade que se abria para Coritiba x Cascavel, caso as quartas de final sejam parcialmente mantidas. Jogos, então, só às 16h e 19h30 de domingo e na segunda (10) – ou mesmo terça (11). Além disso, a expectativa de que o STJD se pronunciasse sobre a confusão que ela criou (não sobre as outras) pode ser frustrada, o que aumenta o risco de cancelamento total da rodada.

A zona

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Após o regulamento do Estadual dar interpretação dúbia na regularização dos jogadores e o J. Malucelli utilizar Getterson sem inscrevê-lo no BID por três rodadas, o Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná primeiro tirou 16 pontos do Caçula, e depois devolveu. O caso foi ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva, e enfim nesta quinta-feira (6) foi a julgamento.

A votação durou aproximadamente 1h30. O procurador do STJD, Felipe Bevilacqua, pediu a punição do Jotinha por alegar que o BID precisa ser respeitado, independente do que está no regulamento do torneio. “O Boletim Informativo Diário é um marco que precisa ser respeitado. Entre 500 atletas, (o Getterson) era o único atleta que não estava registrado no BID”, alegou ele, ao abrir o julgamento.

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Na tentativa de defender o clube, o advogado Marcelo Contini lembrou de outros casos em que houve suposta escalação irregular de jogador e o STJD acabou absolvendo o clube envolvido, como o próprio Rio Branco, terceiro interessado no caso, que em 2011 colocou em campo um atleta que foi registrado como outro e acabou levando a decisão do rebaixamento do Paranaense daquela temporada para o tapetão, com o Paraná Clube caindo.

Contini também reforçou o que está escrito no regulamento da edição do Estadual deste ano. De acordo com o artigo 15, “Terão condição de jogo no campeonato os atletas registrados em nome dos respectivos clubes disputantes e constantes do Boletim Informativo Diário-eletrônico (BID-e) da CBF, respeitados os prazos estabelecidos neste artigo”.

O parágrafo 3º completa: “Atletas em retorno de empréstimo podem participar com condições de jogo no Campeonato, desde que não tenham atuado por outro clube no mesmo campeonato, e desde que o processo de retorno seja efetivado no Boletim Informativo Diário-eletrônico (BID-e), até o último dia útil que anteceder a nona rodada do turno único da primeira fase”.

Mesmo assim, o STJD foi unânime. Apesar de admitir que a solução não era a ideal, o relator Paulo Salomão justificou que quando há flagrante de irregularidade, fica impossível não mexer nos resultados em campo.

“Em regra, ao máximo você tenta manter o resultado de campo, a não ser em caso de flagrante regularidade, em você tem que aplicar uma penalidade ao clube”, explicou ele, antes de definir a punição, tentando mexer o mínimo possível na tabela, e sendo seguido pelos demais.

Surpresa

Era uma enorme reviravolta. E uma definição completamente fora de qualquer análise feita até a véspera do julgamento. O STJD ainda se eximia de decidir quem seria rebaixado. Isso mesmo – tirava os pontos e eliminava o Jotinha do mata-mata, mas deixava na mão da Federação a decisão se mantinha o Toledo na degola ou se colocava o time curitibano.

Em relação ao mata-mata, para não precisar mexer nos outros três jogos já homologados das quartas de final, os confrontos ficariam os mesmos, com o Rio Branco, na teoria, subindo para a oitava posição, mas, na prática, entrando como o quarto colocado na classificação geral, somando apenas 11 pontos e enfrentando o Londrina. Ficariam os seguintes jogos: Paraná x Atlético, Coritiba x Cascavel, Cianorte x Prudentópolis e Londrina x Rio Branco.

Enquanto isso, já fervia a sede da FPF em Curitiba. Dirigentes e advogados não sabiam o que dizer. A diretoria da entidade se fechou em uma reunião, e de início sequer sabia se Londrina e Rio Branco jogariam uma ou duas partidas. O Cascavel foi o primeiro a ameaçar não entrar em campo. “Não decidimos ainda se vamos a Curitiba”, disse o presidente do clube, Valdinei Silva. “Não se trata de jogar contra Rio Branco, Coritiba ou Cianorte, mas sim de cumprir o regulamento”, completou. O gerente de futebol do Londrina, Ocimar Bolicenho, foi sintético. “Fizeram uma lambança no Campeonato Paranaense”. E também ameaçou. “Se for definido por um jogo só, o Londrina não vai entrar em campo contra o Rio Branco”.

Mesmo sem ter qualquer tipo de impacto com qualquer resultado, o Foz do Iguaçu saiu atirando. “O chaveamento está errado e tinham que anular a rodada passada. Eles tinham que marcar a rodada novamente. É ridículo substituir uma equipe por outra”, disse o presidente Arif Osman. Já o Rio Branco admitiu surpresa com a decisão do STJD. “A gente realmente esperava enfrentar o Paraná, até pela classificação do Rio Branco na oitava colocação. Mas o Rio Branco acata e vai jogar contra o Londrina”, afirmou o presidente Thiago Campos.

Quem só aceita enfrentar o Tricolor é o Atlético. “Nós já jogamos o primeiro jogo. E seria muito difícil refazer os confrontos das quartas porque nós não temos datas disponíveis no calendário. Seria muito complicado começar tudo de novo”, resumiu o presidente Luiz Sallim Emed. Já o Paraná Clube ficou em silêncio. Mas terminou o dia estudando medidas para interromper o Paranaense.

O J. Malucelli divulgou nota no final da tarde dizendo que aceita a decisão do STJD. Leia a nota do Jotinha:

O J. Malucelli Futebol respeita a decisão proferida pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva na tarde de hoje, embora não concorde com os seus fundamentos. O J. Malucelli tem a plena convicção de que não violou, de qualquer forma e sob qualquer aspecto, o regulamento da competição da qual participa e na qual se classificou dentre os primeiros colocados. Essa, aliás, foi a conclusão do Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná. O J. Malucelli está analisando o resultado do julgamento a fim de avaliar as medidas cabíveis a partir deste momento. Ao ensejo, agradecemos as inúmeras manifestações de apoio recebidas de seus torcedores e dos mais diversos setores da Sociedade e de entidades desportivas.

Para tudo!

A Federação chegou a marcar Coritiba x Cascavel para as 18h30 de sábado (8) quando surgiu a bomba. No texto do resultado do julgamento, o STJD escreveu o que não disse. Leia a íntegra do acórdão:

RESULTADO: “Por maioria de votos, admitida a intervenção do Toledo E.C. e Rio Branco como terceiros interessados, divergindo Dr. Ronaldo Botelho Piacente que não os admitia; por unanimidade de votos, se conheceu do recurso, para no mérito, dar-lhe provimento,  para aplicar ao J. Malucelli a perda de 16 pontos, por infração ao art. 214 , devendo o Rio Branco S.C. ingressar no chaveamento, ocupando o 8º lugar.” Funcionou pelo J. Malucelli Dr. Marcelo Contini, pelo Toledo Esporte Clube , Dr. Paulo Schmitt, e pelo Rio Branco S.C. Dr. Alessandro Kishino 

Aí que ninguém mais entendeu nada. Os dirigentes e advogados de clubes interessados no reinício das quartas de final passaram a pressionar o presidente Hélio Cury a acatar o texto do STJD como ele veio e “zerar a lousa”, recomeçando com Paraná x Rio Branco, Atlético x Coritiba, Cianorte x Cascavel e Londrina x Prudentópolis. Mas também há o lado que não aceita a alteração radical, e o impasse foi formado. Não haverá jogos no sábado. Hoje é a data-limite para que a rodada – seja ela qual for – seja anunciada. Ou que se anuncie a suspensão do Paranaense até que se resolva de vez uma das maiores confusões de que se tem notícia por aqui.