A Suíça, primeiro adversário do Brasil na Copa do Mundo, tem um objetivo claro no torneio: disputar a segunda vaga do Grupo E contra Sérvia e Costa Rica para poder, pelo menos, passar para as oitavas de final. Mas os seus jogadores não escondem que vão entrar em campo com o sonho de criar uma surpresa para a seleção brasileira na estreia.

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Longe da realidade da Granja Comary, em Teresópolis (RJ), do outro lado do Oceano Atlântico, apenas uma barra de ferro separava o público do gramado, enquanto os poucos seguranças se limitavam a emprestar canetas para permitir que os atletas pudessem dar autógrafos.

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Nesta semana, o jornal O Estado de S.Paulo visitou a primeira base de treinos do time suíço no pacato vilarejo de Freienbach. Encontrou um clima de festa de cidade pequena com a presença de crianças, comes e bebes, sem qualquer tipo de isolamento dos jogadores da seleção. O treinamento, por exemplo, foi acompanhado quase que de dentro do campo por familiares e torcedores.

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A partir desta segunda-feira, a Suíça vai para uma nova sede, na região de Lugano. Mas enquanto os jogadores começam a se reunir para a fase final de preparação, a atmosfera de tranquilidade pouco dava a entender que ali estava uma seleção a caminho de uma Copa do Mundo e no grupo do pentacampeão Brasil. No total, 10 jornalistas acompanhavam a seleção e, ao longe, os sinos tradicionais das vacas suíças podiam ser ouvidos entre um grito do treinador e o barulho do chute da bola.

Se nos bastidores a comissão técnica insiste que vencer ou pelo menos empatar com o Brasil é uma possibilidade, a ordem é a de evitar comentários sobre o time de Neymar durante a preparação. “Brasil? O que é isso?”, brincou o treinador Vladimir Petkovic ao ser questionado pelos jornalistas sobre as suas expectativas para o primeiro jogo.

Membros da comissão técnica explicaram à reportagem que Vladimir Petkovic não quer criar um clima de expectativa entre seus jogadores nem resumir a participação da Suíça na Copa do Mundo ao confronto contra Neymar. A meta é a de concentrar o time para uma preparação intensa e pensar em cada um dos jogos. Entre os amistosos antes do Mundial, os suíços jogarão contra a Espanha no dia 3 de junho.

O objetivo não é apenas se transformar em uma espécie de sensação do Mundial. Mas o de evitar, na fase de mata-mata, uma eliminação precoce contra a Alemanha, atual campeã do mundo. O cruzamento das equipes após a fase inicial coloca o segundo colocado do grupo do Brasil no caminho do primeiro classificado da chave dos alemães. A Suíça, portanto, quer fugir dessa situação. Para que isso ocorra, só há um caminho: superar o Brasil na fase de grupos.

Os jogadores confirmam que, por enquanto, o treinador não conversou com eles sobre a estreia, no dia 17 de junho, em Rostov. “Nosso técnico ainda não nos falou do Brasil”, revelou Steven Zuber, meio-campista do Hoffenheim. “Ele nos pede para estarmos focados em nós mesmos e em nossa preparação. O objetivo é que tenhamos nosso melhor desempenho possível”, disse. “Acho que sobre o Brasil, o treinador falará apenas na última semana antes da partida”.

Mas ao ser questionado sobre qual seria um resultado realista contra o Brasil, Steven Zuber deixou claro que a Suíça vai entrar para ganhar. “Um resultado realista veremos quando entrarmos em campo. Queremos vencer todos os jogos e por isso estamos indo para a Rússia”, afirmou. “Claro, nossa primeira meta é a de superar a fase de grupos”.

A Suíça se classificou para o Mundial na repescagem contra a Irlanda do Norte após boa campanha na fase de grupos. Nico Elvedi, zagueiro do Borussia Mönchengladbach, também destaca o trabalho de seu time. “Temos um bom elenco e vamos mostrar isso em campo”, disse. “Vamos entrar para vencer”, garantiu.

FERROLHO – Um dos pontos fortes da Suíça é seu caráter compacto – realidade que o time do técnico Tite sofre para superar. Foi assim diante de rivais europeus. Nico Elvedi confirma que esse é, de fato, um dos principais atributos de seu time. No treino acompanhado pela reportagem, Vladimir Petkovic deu ênfase sobre a solidez de sua defesa, exigindo atenção máxima dos jogadores. Segundo um dos membros da comissão técnica, a ordem é a de não dar liberdade a times como o Brasil.

Para os suíços, Neymar não é o único com quem eles devem se preocupar. “O Brasil não tem elos fracos”, disse Nico Elvedi. “O time tem os melhores jogadores em cada uma das posições. Será muito difícil. Mas o futebol reserva belas surpresas em Copas do Mundo”, afirmou.

Para Steven Zuber, não se pode resumir o time brasileiro pelo desempenho de Neymar ou em sua recuperação. “A força do Brasil é o conjunto. O Brasil é o Brasil e não Neymar”, disse.

Em 2017, o time helvético teve uma das melhores defesas das Eliminatórias, sofrendo apenas sete gols em 12 partidas. E isso em um grupo no qual teve de enfrentar duas vezes a seleção de Portugal. A Suíça acabou na segunda posição na chave. Mas com uma larga vantagem sobre o terceiro colocado. O time venceu 10 partidas, empatou uma e apenas foi derrotado pela seleção de Cristiano Ronaldo, em Lisboa. Com tal perspectiva, os suíços consideram que seria um “desperdício” enfrentar a Alemanha logo nas oitavas de final.

Entre os jogadores, alguns confrontos dos últimos Mundiais são usados como exemplos de que a pequena Suíça pode sim criar uma surpresa para o Brasil. Em 2010, o time bateu no primeiro jogo a Espanha, que terminaria como campeã do mundo na África do Sul. Em 2014, em São Paulo, esteve perto de um resultado histórico contra a Argentina de Lionel Messi.

Na única vez que enfrentou o Brasil em Copas do Mundo, a seleção suíça empatou por 2 a 2, em duelo disputado no estádio do Pacaembu, em São Paulo, em 1950.