Muitos craques surgiram assim, forjados na dificuldade. E a temporada 2007 acabou sendo uma prova de fogo para Gabriel. Nas mãos do goleiro, de apenas 20 anos, foram depositadas as esperanças dos paranistas em se manter na elite nacional. Não deu, mas não foi por falta de aplicação e trabalho do garoto. O melhor em campo em boa parte dos jogos derradeiros do clube no ano, Gabriel conquistou a camisa 1 e o time para 2008 começa ?com ele e mais dez?.
A renovação do seu contrato foi a prioridade para a diretoria, que definiu sua permanência no Tricolor por três anos. Um gesto que permitirá a Gabriel a busca por um objetivo traçado ainda no gramado de São Januário: a volta à primeira divisão. Ainda sob o abalo emocional da queda – Gabriel não conseguiu conter as lágrimas – o goleiro já prometia: ?hoje, fracassamos, mas quero estar presente, daqui a um ano, na volta do Paraná à elite?, disparou o jogador.
Curitibano de nascença, não se poderia esperar outra reação do goleiro. Afinal, o Paraná sempre foi o seu clube de coração, dos tempos de escolinha até se tornar profissional. No último dia 28 de dezembro, ele completou 20 anos e diz ter planos ambiciosos para a sua carreira. ?Recolocar o Paraná ao lugar que merece é só o primeiro passo. Depois, quero ir para o exterior, conseguir destaque na profissão e quem sabe chegar à seleção?, afirma Gabriel. Personalidade não lhe falta.
Afinal, foi assim que ele encarou a condição de terceiro goleiro, aproveitando os treinos com o preparador Renato Secco e a convivência com Flávio, para evoluir – e muito – ao longo da temporada. Com a saída de Marcos Leandro, emprestado ao Botafogo, as portas começaram a se abrir. E não pararam mais. Flávio já não tinha mais a mesma regularidade de tempos passados e lesões incomuns do Pantera permitiram a Gabriel assumir o posto de titular. Posição que não mais largaria.
?O ano para mim foi muito bom. Mesmo com o rebaixamento, amadureci e estou pronto para a responsabilidade que está me sendo dada?, garante a revelação paranista. Uma nova realidade para Gabriel, que agora inicia uma nova fase, de maior cobrança. Afinal, a revelação de 2007 é hoje uma realidade, o novo dono da camisa 1 é uma referência do time junto à torcida. Tudo por conta da identidade de Gabriel com o Paraná, um goleiro com o coração vermelho, azul e branco.
Temporada 2007 foi espetacular pro atacante
Valquir Aureliano |
Josiel brilhou no Brasileirão. Vendido ao futebol árabe, rendeu bons dividendos ao clube. |
Mais do que artilheiro, ele foi ?o? jogador do Paraná Clube em 2007. Num ano que terminaria marcado pelo fracasso, com o rebaixamento à Série B, Josiel escreveu seu nome na história do Tricolor. Aos 27 anos, completados em agosto, o centroavante chegou ao estrelato. Comandou de ponta a ponta a artilharia do Brasileirão e fechou o ano como o grande goleador da maior competição do País. Uma pontaria certeira que não foi suficiente para impedir a queda do representante paranaense, mas que rendeu dividendos ao clube, com sua transferência para os Emirados Árabes.
Com passagens tímidas por Juventude e Brasiliense, Josiel chegou à Vila Capanema de forma discreta. Uma das muitas apostas do então diretor de futebol Durval Lara Ribeiro. Também discreto era o discurso do atacante, que nunca foi de prometer gols, mas sim muito empenho. ?Sou um guerreiro?, resumia o atleta quando indagado sobre as suas qualidades. E, se os gols foram conseqüência deste comportamento ou não, a verdade é que Josiel se tornaria a referência do Paraná no ano.
Não ao acaso, já que disputou a maior parte dos jogos da equipe, no Paranaense, na Libertadores e no Brasileiro. Mais do que isso: foi o artilheiro do Tricolor em todas elas, fechando o ano com 31 gols e garantindo presença na lista dos maiores artilheiros do clube em todos os tempos.
Se disputasse mais uma temporada com a camisa azul, vermelha e branca e com a mesma eficiência, Josiel encostaria em Adoílson, até hoje o segundo maior goleador do clube, com 78 gols, atrás somente de Saulo, o recordista máximo, que balançou as redes adversárias 104 vezes.
Josiel, é possível afirmar, ?encaixou como uma luva? na versão 2007 do Paraná. Em especial no início da temporada, quando formou com Dinelson e Henrique um trio que agregava tudo o que um ataque precisa: habilidade, velocidade e precisão. Na Libertadores, o camisa 9 fez três gols. Marcou outros oito no Estadual, mesmo sendo preservado em grande parte dos jogos. Mas o ponto alto de Josiel estava reservado para o Brasileiro.
O goleador aproveitou o sprint inicial do Tricolor e foi marcando gols. Foram sete só nas cinco rodadas iniciais. O bastante para Josiel despertar a atenção dos marcadores rivais. Vigiado de perto, o jogador também esbarrou na falta de criatividade do time. Aos poucos, o Paraná travou, mas mesmo assim o goleador seguiu à frente de seus mais diretos concorrentes, até fechar o ano como artilheiro do Brasil, craque da seleção da CBF e primeiro jogador do Paraná Clube a conquistar uma Bola de Prata, troféu oferecido pela Revista Placar.
O Tricolor fracassou, mas o torcedor dificilmente se esquecerá do ?tchê?. Um artilheiro de sotaque gaúcho, que ia para os treinos pilchado e não dispensava um bom chimarrão. Josiel, gaúcho de Rodeio Bonito, artilheiro do Brasil e craque do Paraná, em 2007.
Nem pode permanecer em 2008
O Paraná Clube volta às atividades na próxima quarta-feira. Além do volante Léo – único reforço apresentado – e da volta de Eltinho, Joelson e Leonardo, o grupo terá basicamente remanescentes da campanha de 2007. Porém, com uma mudança: grupo enxuto e norteado pelo comprometimento com o clube. É com esses ingredientes que Saulo de Freitas espera montar um time vencedor e capaz de se moldar ao longo do Paranaense e da Copa do Brasil para o grande desafio: a volta à elite nacional.
A diretoria promete anunciar um zagueiro, um meia e um atacante (restariam pequenos detalhes nessas transações) nos próximos dias. Mesmo assim, há um receio.
O grupo é jovem e a falta de experiência pode pesar em momentos decisivos. A rigor, apenas o zagueiro Luiz Henrique e o volante Beto têm maior ?rodagem?. Isso pode determinar a permanência de Nem para a temporada 2008. O jogador já manifestou o desejo de continuar na Vila Capanema e o vice de futebol Durval Lara Ribeiro não descartou essa possibilidade.
Em 2007, o zagueiro não conseguiu repetir a performance de sua primeira passagem pela Capanema. Em 2000, foi o grande capitão da campanha vitoriosa na Copa JH. Sete anos ?mais experiente?, Nem conviveu com lesões e diante das indefinições técnicas sequer conseguiu impor a sua liderança diante de um grupo visivelmente disperso. Vavá Ribeiro deve voltar a conversar com Nem nos próximos dias e, dependendo de ajustes financeiros, pode definir a permanência do xerifão, que no próximo dia 18 de janeiro completa 35 anos.
Paraná despencou no Brasileirão e caiu pra Segundona
Walter Alves |
Cinco trocas de treinadores e a saída de vários jogadores resultaram no rebaixamento do Tricolor, que em 2008 tem um grande desafio pela frente. A torcida ficou com cara de palhaço. |
Ainda sob o efeito da perda do título estadual e da eliminação na Libertadores, o Paraná Clube dava início à sua caminhada no Brasileirão. Zetti foi mantido no cargo e a rigor o clube trouxe três reforços: o volante Adriano, o zagueiro Luiz Henrique e o atacante Vandinho. Pouco depois, Dinelson se desligou do Tricolor para voltar ao Corinthians.
E, para quem estava sob suspeita, o início da temporada foi promissor, com duas vitórias seguidas.
Só que nesse momento, o Paraná sofreria um revés que se mostraria, com o decorrer do tempo, irreparável.
O clube não conseguiu segurar Zetti -que foi para o Atlético Mineiro – nem o restante da comissão técnica. O fato daria início a uma grande ciranda, altamente danosa ao Tricolor.
Ainda mais num campeonato equilibrado e que premia a regularidade. Com Pintado, o time até obteve rendimento razoável, mas com alguns tropeços marcantes.
Mesmo em meio a alguns deslizes, o Tricolor se mantinha entre os primeiros colocados. No fim, ficou provado que durante esse período, o Paraná ?viveu de aparência?. Pintado trocaria o clube pelos dólares dos Emirados Árabes Unidos e aí o time desandou. Gilson Kleina – escolhido pelo então presidente José Carlos de Miranda, contra a rejeição pública – não conseguiu arrumar a casa. O Tricolor parecia mais um caminhão desgovernado… e ladeira abaixo.
Nos oito jogos sob o seu comando, com apenas uma vitória, só dois gols foram marcados. Antes disso, mesmo vivendo da dependência de Josiel, o Paraná se mantinha num bloco de destaque em relação à artilharia. Lori Sandri assumiu então o comando técnico do Tricolor e chegou a esboçar reação. Mas, nesse ponto, era visível a falta de identidade do grupo. Um elenco emocionalmente frágil e sem comprometimento com a instituição.
Reações pontuais só ocorriam em alguns jogos em casa, onde o time era empurrado por sua torcida. No fim, o Paraná fecharia a temporada com a incrível marca de treze jogos seguidos sem vitória (na condição de visitante). Desses, foram 12 derrotas e um empate. Nem mesmo a chegada de Saulo de Freitas adiantou. O quinto treinador da equipe só repetiu os insucessos de seus antecessores. Ao menos com uma novidade: passou a apostar nos pratas da casa, dando espaço para Gabriel, Jumar e Giuliano.
É curioso notar como essa é quase sempre uma regra nos times marcados pelo fracasso. Sem obter resposta dos medalhões, os treinadores tentam virar o jogo com a garotada, apelando para a maior identidade desses jogadores com as cores do clube. Mas não foi suficiente. O Paraná chegou ainda com chances à última rodada, mas foi massacrado pelo Vasco (3×0), vendo o seu destino se confirmar. Em 2008, o clube disputará a Série B, sem o dinheiro da tevê e sem o status de ?grande? que ostentou nas últimas temporadas. Uma volta às origens.
Miranda foi o grande personagem da queda
Valquir Aureliano |
Negociações suspeitas e falcatruas foram reveladas em setembro e contribuíram decisivamente no rebaixamento da equipe pra Série B. |
Os erros do Paraná Clube foram inúmeros. E, diante desse fato, é difícil detectar qual foi o fator determinante para o rebaixamento à Serie B. Porém, diante de tudo o que veio à tona do final de setembro em diante, é impossível não vincular o fracasso do clube aos deslizes morais do seu comando. O Tricolor, pela primeira vez em sua história, teve um presidente oficialmente afastado e sob investigação.
José Carlos de Miranda se diz inocente, mas contratos duvidosos assinados com o empresário Léo Rabello e cheques que foram parar em sua conta indicam o contrário. O caso vai se arrastar no mínimo até fevereiro, quando o conselho deliberativo promete julgar o ex-presidente. Até lá, o vexame se mantém como um fantasma, arrastando suas correntes nos corredores de Vila Capanema. Deslizes administrativos à parte, não se pode negar que o Paraná não foi o mesmo de anos anteriores no que diz respeito à avaliação de seu grupo.
Talvez sob os holofotes da Libertadores, o Tricolor tentou mudar o seu perfil, dar um salto de qualidade para o qual não estava preparado. Porém, mesmo reformulando quase que integralmente seu elenco, o Paraná teve bons momentos no primeiro quadrimestre. Tinha uma zaga sólida – com Daniel Marques e Aderaldo, que logo trocaria o clube pelo futebol chinês -, um meio-de-campo pegador e um ataque veloz, com destaque para o habilidoso Dinelson, o rápido Henrique e o matador Josiel. Só que esse time – que ainda carecia de reforços – foi desfeito. Aderaldo, Xaves, Dinelson e Henrique saíram e a reposição foi falha.
No fim, o Paraná teve, só no Brasileiro, 44 jogadores. Pior do que isso, cinco treinadores. Uma matemática perigosa e que se confirmaria como o fator de maior peso para a queda do clube. Um revés emblemático para o Tricolor, que sempre se orgulhou por jamais ter sido rebaixado em campo. Agora, por deslizes em todos os fundamentos – da administração ao grupo de jogadores -, o Paraná terá que reencontrar seu norte na Segundona.