O dia 1º de dezembro de 1997 marcou o início da mais profunda mudança que o estádio Joaquim Américo Guimarães passou durante os seus cem anos de existência. Nesta data, saiu de cena a acanhada, modesta, mas aconchegante Baixada, para dar lugar a Arena da Baixada, ao verdadeiro caldeirão atleticano, que menos de dois anos depois foi inaugurado e passou a ser o estádio mais moderno do futebol brasileiro. O sonho do presidente Mário Celso Petraglia finalmente saia do papel e, a partir de 1999, o Furacão passava a desenhar a sua história com letras douradas. Junto com a sua nova casa vieram grandes e inéditas conquistas que ficaram marcadas para sempre na memória do torcedor rubro-negro.

continua após a publicidade

Do início de 1997, quando a Baixada começou a ser demolida, até junho de 1999, quando o Furacão inaugurou o remodelado Joaquim Américo, o Atlético passou a mandar seus jogos na Vila Capanema, na Vila Olímpica do Boqueirão e no Pinheirão. Também nesta época, o clube comercializou, junto aos torcedores, os tijolos e restos do antigo estádio para que os seus mais fanáticos torcedores pudessem colecionar e guardar para sempre na memória as conquistas e lembranças memoráveis da velha Baixada.

Até meados de 1998, o torcedor atleticano, que ajudou a construir a Arena da Baixada, orçada em R$ 35 milhões, através dos planos de sócios lançados na época, acompanhava diariamente sua nova casa ser construída, tijolo a tijolo, peça a peça. Um mirante, construído pela diretoria atleticana na época, chamou a atenção de muitos torcedores, que passaram a se encontrar semanalmente para acompanhar a evolução das obras no local que, mais tarde, estaria de pé o estádio mais moderno do Brasil. O fanatismo foi tanto, que foram criados círculos de amizade entre os torcedores rubro-negros e até um grupo, chamado de “Amigos do Mirante”.

“Nós batíamos ponto toda a semana e acabamos formando muitos amigos. Até depois, quando a diretoria retirou o mirante o grupo continuou se encontrando sempre para falar do Atlético e quanto esse novo estádio seria importante para o crescimento do clube”, disse Alexandre Oliveira, que acompanhava semanalmente a evolução das obras da Arena da Baixada.

continua após a publicidade

A inauguração

Cada vez mais empolgado, mas ansioso na mesma proporção, o torcedor atleticano não via a hora de poder entrar na nova Arena da Baixada, projeto ambicioso e ousado comando pelo presidente Mário Celso Petraglia, por Ênio Fornéa e Ademir Adur. Enfim, em 24 de junho de 1999, aconteceu a tão esperada inauguração da nova, reformada e moderna casa do torcedor atleticano. Com direito a alguns shows de luzes e som, discursos e execução do hino do clube, o Furacão recebeu o Cerro Porteño, do Paraguai e, a vitória por 2×1, conquistada nos minutos finais de partida, marcava o início de uma era vitoriosa do Rubro-Negro. O primeiro gol do novo e moderno estádio atleticano foi marcado pelo atacante Lucas, que mais tarde brilhou defendendo as cores rubro-negras.

continua após a publicidade

No mesmo ano em que reabriu a sua nova casa, o Atlético já mostrava a seus concorrentes a sua força jogando na Arena da Baixada. No final da temporada, o Furacão, depois de terminar o Brasileirão na nona posição, conquistou a seletiva para a Libertadores ao derrotar o Cruzeiro na decisão. No ano seguinte, além de disputar a primeira vez a competição mais importante das Américas de clubes, o Rubro-Negro conquistou seu primeiro título na sua nova casa. O time atleticano foi campeão paranaense sobre o Coritiba e pela primeira vez ergueu um troféu na Arena da Baixada.


Arquivo
Matéria da Tribuna de 1999 destaca a inauguração da Arena da Baixada.

Pode-se dizer que, a década de 2000 foi um dos melhores momentos da história do Atlético. O Furacão soube utilizar bem a força da Arena da Baixada e, um a um, foi derrubando seus concorrentes para, em 2001, conquistar pela primeira vez o Brasil. O time comandado então pelo técnico Geninho, conquistou o Campeonato Brasileiro e garantiu o direito de mais uma vez disputar a Libertadores do ano seguinte.

Com boas participações nos anos seguintes, mas sem emplacar bons resultados na Libertadores de 2002, o Atlético voltou a brilhar em 2004, quando por pouco não conquistou o bi-campeonato do Brasileirão. O time atleticano, vice-campeão da Primeira Divisão, garantiu, pela terceira vez na sua história, o direito de disputar a competição sul-americana, mas com uma missão diferente: desta vez chegar nas fases decisivas do torneio.

Polêmica

Desafio feito, desafio cumprido. Em 2005, o Atlético, além de ser mais uma vez campeão paranaense, chegou longe na Libertadores da América. O Furacão, que tinha no seu elenco Fernandinho, Dênis Marques, Aloísio e companhia, chegou à grande final da competição sul-americana. Foi aí então que surgiu a primeira grande polêmica com a Arena da Baixada. Com cinco vitórias em seis jogos disputadas no seu estádio, o Rubro-Negro foi impedido de disputar a decisão do certame, contra o São Paulo, no Joaquim Américo.

A Conmebol impediu o clube de realizar a partida dentro da Arena da Baixada pois a capacidade do estádio, para 24 mil pessoas, era inferior ao exigido para a decisão, que é de no mínimo 40 mil torcedores. O clube até tentou fazer uma obra relâmpago e instalar arquibancadas tubulares onde se encontra hoje o setor Brasílio Itiberê, mas o jogo de ida da finalíssima foi marcado mesmo para o Beira-Rio, em Porto Alegre. Depois do empate por 1×1, na capital gaúcha, o Rubro-Negro, comandado pelo delegado Antônio Lopes, sucumbiu no Morumbi e perdeu o título ao ser goleado pelo São Paulo por 4×0.

Intruso

Dois dias depois de inaugurar a nova Arena da Baixada para o seu torcedor, o estádio atleticano recebeu a seleção brasileira para um amistoso contra a Letônia. Com o Joaquim Américo novamente lotado, o selecionado brasileiro venceu por 3×0, mas o primeiro gol brasileiro na nova Arena foi marcado por um coxa-branca. No primeiro tempo, depois do cruzamento de Ronaldinho Gaúcho, Alex abriu o marcador com gol anotado de cabeça.

Primeira tristeza

Daí em diante até 2011, quando a Arena da Baixada foi mais uma vez fechada para receber nova reforma e ampliação, o Furacão, dentro de casa, conquistou somente mais um título do Campeonato Paranaense, em 2009, e colecionou a sua primeira tristeza dos quase doze anos da inauguração do seu novo estádio. O dia 4 de dezembro de 2011, além de marcar a despedida do torcedor atleticano do estádio, que seria fechado para, em 2014 ser palco de quatro partidas da Copa do Mundo, foi também a data em que o Furacão foi rebaixado para a Série B do Campeonato Brasileiro em plena Arena da Baixada.

A vitória no clássico contra o Coritiba por 1×0 nunca foi tão decepcionante para o torcedor atleticano. Apesar de vencer o maior rival e de impedi-lo de ficar entre os quatro primeiros no Campeonato Brasileiro, o triunfo não amenizou em nada a situação complicada do clube na competição nacional. O Furacão, dentro de casa, foi rebaixado para a Segunda Divisão e sabia que, nos anos seguintes, teria que tentar conseguir o acesso fora da Arena da Baixada.

Ciciro Back
Primeira tristeza ocorreu no final de 2011, com o rebaixamento do time.