Arequipa, Peru – Carlos Alberto Parreira convive com dois problemas graves para a estréia do Brasil na esvaziada Copa América, hoje. O time enfrenta o Chile, às 21h45 (horário de Brasília), nos 2.330 metros de altitude de Arequipa, no Peru. As suas preocupações não têm nada a ver com os chilenos. São elas o desentrosamento total da equipe e o egoísmo dos jogadores.
Todos, sem exceção, antes de pensar no título, querem é provar que merecem pertencer à outra seleção, a de verdade, que disputa as Eliminatórias. Ninguém nem se lembra do vexame que o Brasil deu na última Copa América, em 2001, disputada na Colômbia. A eliminação diante de Honduras não tem o menor significado.
“Cada jogador tem de aproveitar ao máximo a Copa América para tirar proveito para a sua carreira. Sairemos valorizados por vestir a camisa do Brasil. Desde que cheguei ao Peru me sinto outro jogador, muito mais respeitado. É isso que importa”, diz Gustavo Nery.
“O Brasil só tinha um volante canhoto, o Zé Roberto. Vou provar na Copa América que existe outro”, decreta Edu. “Estou aqui para marcar os meus gols e ganhar espaço nas Eliminatórias”, assume Luís Fabiano.
A filosofia do cada um por si ficou retratada nos coletivos em Arequipa. Sentindo a falta de entrosamento com os companheiros, os jogadores tentaram decidir com a bola dominada. O que se viu foi uma equipe desestruturada e egoísta. Sem conjunto, sem tabelas e sem solidariedade. A explicação é que todos são jovens e sonham com a seleção principal e não com o título do sul-americano de seleções.
Parreira, inteligente, percebeu o que está acontecendo. Os coletivos de preparação foram péssimos. Ele se irritou diversas vezes com a falta de conjunto, com a falta de tabelas e troca de passes no time. Ele não vai assumir nunca, mas está com medo da desmoralização internacional. Não se atreve em pensar em título, teme a desclassificação na primeira fase. Vivido, tratou de aprimorar a defesa contra os velozes chilenos.
A contusão muscular de Kléberson serviu como desculpa para escalar Dudu Cearense, muito mais defensivo. Ele deverá ficar à frente da lenta zaga formada por Juan e Luizão. Renato também foi orientado a quase não passar do meio de campo. Assim como Edu pelo setor esquerdo.
“Quero sete, oito jogadores atrás da linha de bola quando o Chile estiver atacando. Esses atletas que selecionei nunca atuaram juntos. E o time precisa adquirir confiança. Por isso não há a necessidade de se expor. O Brasil vai atacar como sempre fez, mas não será pego de surpresa”, resume Parreira. Os laterais Mancini e Gustavo Nery atacarão bem menos do que fazem na Roma e no São Paulo.
“Sem entrosamento, não posso arriscar e prejudicar o time”, antecipa, preocupado, Gustavo Nery.
O desafogo do time está também na fragilidade do time chileno. As fitas e observação do ?espião? oficial Jairo Leal detalharam um adversário cujo maior trunfo é o contragolpe em velocidade.
“Do meio para a frente, o Chile tem atletas baixos, rápidos, oportunistas. A saída é começar a Copa América de forma segura. Brasil é sempre Brasil. Se o time perder as cobranças serão fortes”, antecipa Parreira. Sem total confiança com a bola rolando, o Brasil tentará utilizar a sua alta estatura para buscar gols com ela parada. Escanteios e faltas laterais foram treinadas à exaustão.
A população peruana já percebeu que tem como visitante a Seleção B do Brasil. Por isso as entradas estão sobrando para o estádio da Universidad Nacional de San Agostin. Embora tenha capacidade para 45 mil torcedores, 40 mil entradas foram colocadas à venda.
Jogo de alto risco para os músculos
Arequipa, Peru
– O preparador Moraci Sant?anna não esconde que a partida de hoje contra os chilenos é de alto risco. Não para a classificação do Brasil no grupo C, mas para os músculos dos jogadores. As contraturas de Júlio Baptista, Júlio César e de Kléberson no Peru são os sinais de que algo de muito errado pode acontecer durante a Copa América.“O grande problema é que o grupo é completamente desigual fisicamente. Isso não poderia acontecer. Temos os atletas da Europa que estavam parados, de férias, há mais de 25 dias. Eles não podem ser forçados. Outros estão em plena disputa do Campeonato Brasileiro e querem ser forçados. Qual será o ritmo ideal para a equipe jogar?”, pergunta, tenso.
“Eu nunca tive um problema muscular na minha carreira. O fato de o Campeonato Inglês ter terminado há algum tempo me deixou descansar um pouco. Estou me recuperando agora. Sei que o normal seria uma pré-temporada. A preparação para a Copa América foi bem diferente.
“A altitude de 2.300 metros de Arequipa faz com que o ar fique rarefeito, a bola corra muito mais. O Parreira sabe que o tempo ideal de preparação seria três semanas, 21 dias. Estamos aqui há seis dias. Muito pouco tempo.” Acompanhando de perto todas as conversas de Parreira, Moracy sabe que os chilenos tentarão aproveitar as deficiências físicas do Brasil e jogarão com muita velocidade.