‘É preciso mudar a estrutura da Fifa’, diz Figo, rival de Blatter em eleição

O português Luís Figo, 42 anos, tem percorrido o mundo para divulgar a sua candidatura à presidência da Fifa. A sua última parada foi no Paraguai, onde participou do Congresso da Conmebol. E de lá falou por telefone com o jornal O Estado de S. Paulo.

Eleito melhor jogador do mundo em 2001, Figo enfrentará o presidente Joseph Blatter e mais o holandês Michael van Praag e o jordaniano Ali bin Al-Hussein no pleito marcado para o dia 29 de maio. Confira a entrevista publicada nesta segunda-feira:

Estadão – Por que o senhor pretende ser presidente da Fifa?

Figo – Em primeiro lugar por achar que alguma coisa tem de mudar na Fifa e por acreditar que, com as minhas propostas, posso alterar essa situação e ajudar no desenvolvimento no futebol pelo mundo. Para isso acontecer, está muito claro que tem de haver uma mudança de direção na Fifa.

Estadão –Qual será a sua prioridade?

Figo – As primeiras coisas a serem feitas são devolver credibilidade à Fifa e dar transparência à administração. Isso só se consegue com a mudança das lideranças que hoje estão lá. Quero trabalhar para aumentar o número de praticantes do futebol, partindo do princípio de que a Ásia é extremamente importante para conseguirmos ter cada vez mais jovens jogando futebol. Depois disso, acredito que a distribuição dos recursos financeiros da Fifa tem de ser muito mais eficiente porque atualmente os valores repassados para todas as instituições estão muito aquém do que eu proponho.

Quero também fazer uma mudança na estrutura da Fifa com consulta a todas as federações filiadas. Outra proposta é aumentar o número de seleções participantes da Copa do Mundo e intensificar a luta contra o racismo e o doping.

Estadão –Como o senhor pretende viabilizar uma Copa do Mundo com 48 seleções?

Figo – Proponho a possibilidade de ampliar o número de equipes para 40 ou 48. O que eu peço é que haja um debate aberto para que o Congresso da Fifa possa tomar uma decisão em relação a isso. O aumento no número de dias de disputa da Copa do Mundo não será tão significativo. Acredito que bastam apenas mais três ou quatro dias de competição. As vantagens em comparação com o modelo atual são muitas. A inclusão de novas equipes vai trazer diferentes federações de fora da Europa e abrir a possibilidade de vários países receberem o Mundial, o que vai diminuir os custos de organização e permitir o aumento de investimento no desenvolvimento do futebol.

Estadão –O senhor é a favor da tecnologia no futebol?

Figo – Hoje em dia, vivemos em uma sociedade muito dependente da tecnologia. E ela já é utilizada em vários esportes. Acredito que a tecnologia ajuda a arbitragem a tomar muitas decisões e diminuiria as polêmicas sobre lances importantes.

Estadão –Como o senhor pretende combater a corrupção dentro da Fifa?

Figo – Isso passa necessariamente pela mudança de estrutura da entidade. Minha proposta é dividir os organismos dentro da Fifa em responsabilidades e poder, diminuindo o peso do Comitê Executivo. Quero que a Fifa volte a ter uma comissão de auditoria que possa controlar os movimentos feitos pelo presidente e também pelo Congresso e o Comitê Executivo. Essa comissão de auditoria seria independente e daria à Fifa a transparência que nesse momento não existe.

Estadão –Como vê as críticas de que lhe falta experiência administrativa para comandar a Fifa?

Figo – Não estou de acordo com esse tipo de avaliação. Desde o dia em que parei de jogar acumulei várias cargos de dirigente. Trabalhei na Inter de Milão e junto com a Federação Portuguesa e a Uefa. Administro também a minha fundação. E digo que já vi tanta gente com experiência à frente de instituições que depois quebraram que esse pensamento na maioria das vezes não corresponde à realidade.

Estadão –Faltam jogadores e ex-jogadores dentro da Fifa?

Figo – Minha proposta dentro dessa mudança de estrutura da Fifa é criar um comitê que tratará de vários assuntos estratégicos, como calendário, formato das competições e regras. Esse grupo será formado com pessoas de qualidade, experiência e respeitadas no mundo do futebol para garantir sempre a credibilidade do comitê.

Estadão –Como conseguir apoio numa estrutura feita para beneficiar quem já está no poder?

Figo – Tenho conversado muito com os dirigentes e viajado o mundo para mostrar as minhas ideias na expectativa de que as pessoas percebam que não se pode mais perder tempo. Precisamos de uma mudança muito grande na Fifa.

Estadão –Como foi o encontro com os dirigentes da Conmebol?

Figo – Foi uma viagem extremamente positiva com relação à troca de ideias com os presidentes das federações da Conmebol. Tenho confiança de que eles possam me apoiar.

Estadão –Hoje a América da Sul envia muitos jogadores jovens para a Europa. É possível, a médio prazo, fortalecer o futebol no continente para que os atletas não saiam tão cedo para a Europa?

Figo – A América do Sul sempre foi e continuará sendo um mercado importante em termos de produção de talento e jogadores de grande qualidade. É uma região onde as pessoas são apaixonadas por futebol. É lógico que temos de incrementar em todas as federações o número de praticantes do futebol. Para isso, é necessário fazer um trabalho de desenvolvimento em todos os sentidos. Mas essa questão de exportação de atletas depende muito do mercado e do interesse dos clubes.

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