Grande responsável pela crise financeira que assola o Paraná nos últimos anos, a dívida milionária envolvendo a transferência do meio-campo Thiago Neves, na última década, pode ganhar novos rumos nos próximos meses. O clube, no último dia 30 de julho, entrou com uma ação para tentar reaver os prejuízos causados na negociação do jogador, sacramentada em 2007. O clube busca receber indenização de aproximadamente R$ 9 milhões dos ex-presidentes José Carlos de Miranda e Aurival Correia, que foram os responsáveis por toda a transação e negociação dos direitos econômicos do jogador com a LA Sports e a Systema, do empresário Léo Rabelo, além dos advogados que representaram o clube neste caso. A Tribuna 98 teve acesso exclusivo ao processo.
O advogado do Paraná Clube, Juliano Tetto, frisou que depois de uma análise administrativa do caso, o Conselho Deliberativo autorizou o departamento jurídico tomar as medidas judiciais cabíveis. ‘Inicialmente o prejuízo desse caso foi reduzido depois de um acordo e chegou a um patamar de aproximadamente R$ 10 milhões. Internamente, uma comissão dentro do Paraná solicitou um parecer e, depois de uma análise administrativa de tudo, decidiu, através do Conselho Deliberativo, entrar com as medidas judiciais cabíveis diante desse prejuízo causado no caso do Thiago Neves’, explicou.
O advogado que representa o Tricolor nesta ação detalhou ainda a culpa que cada ex-dirigente e os advogados tiveram no caso. ‘O Paraná Clube pede que sejam responsabilizados os dois presidentes (José Carlos de Miranda e Aurival Correia), um por ter iniciado toda a questão e ter assinado documentos cedendo os direitos econômicos que pertenciam o Paraná, sem obedecer o estatuto do clube. O outro presidente, ao contrário da determinação judicial expressa, foi intimado para que levantasse os valores do processo, mas acabou desobedecendo a ordem, mesmo sabendo da multa de R$ 100 mil por dia. Os advogados envolvidos de Curitiba e do Rio de Janeiro, que não acompanharam o processo como deveriam também precisam ser responsabilizados’, emendou Tetto.
Mesmo que consiga reaver os valores pedidos na ação, o advogado do clube ressaltou que o prejuízo será grande para o Paraná, sobretudo com o risco de perder outras sedes em caso de não pagamento da dívida à empresa de Léo Rabelo. ‘O clube corre esse risco sim. Há uma dívida e essa dívida em algum momento deve ser paga, voluntariamente, ou por leilão de imóveis ou de penhora. Por isso o clube pede o ressarcimento desse prejuízo e a intenção da ação é justamente essa. O prejuízo já foi causado, já que o Paraná acaba tendo que pagar antecipadamente. Essa antecipação dos valores é muito prejudicial, mesmo que se obtenha vitória no processo’, concluiu Tetto.
Entretanto, o processo ainda está na sua fase inicial e, se obtiver vitória, o Paraná Clube deverá demorar para ver a cor do dinheiro. Ainda de acordo com o advogado, todas as partes serão citadas e os diversos réus deverão apresentar suas defesas. O julgamento, no entanto, ainda não está marcado.
Entenda o caso
Em 2006, na gestão do presidente José Carlos de Miranda, o então mandatário paranista negociou 30% dos direitos econômicos do meio-campo Thiago Neves com a empresa Systema. A LA Sports, que detinha 50% dos direitos do jogador, negociou com a empresa de Léo Rabelo outros 30% dos direitos econômicos da revelação paranista. O jogador, então, depois de uma temporada irregular no futebol japonês, voltou para o Brasil e foi atuar no Fluminense.
A discussão, no entanto, começou quando Thiago Neves, ainda defendendo o tricolor carioca, assinou um pré-contrato com o Palmeiras. Porém, o jogador voltou atrás e acabou acertando a sua permanência no Fluminense que pagou a multa rescisória no valor de R$ 2,6 milhõ,es para contar com o armador. Depois de José Carlos de Miranda pedir afastamento da presidência, Aurival Correia assumiu o comando do clube.
O pagamento referente a venda de Thiago Neves feito em juízo, foi sacado por Correia, mas o clube pagou somente a parte da LA Sports na negociação e o percentual da Systema não foi repassado à empresa. Assim, Léo Rabelo entrou na justiça para receber os valores e, apesar da determinação judicial para que o Paraná fizesse o pagamento, em 2008, o clube não cumpriu, não fez a defesa e, por causa dos juros, a dívida do Tricolor com o empresário acabou virando uma bola de neve e chegou a casa dos R$ 27 milhões.