Disputa pelo poder no Coxa ainda não terminou

A batalha ainda não terminou, só mudou de lugar. Após o anúncio do resultado do recurso pedido pela oposição, e que mudou o resultado da eleição do Coritiba, dando a vitória para José Antônio Fontoura, o caso saiu da esfera do clube e partiu para a Justiça. A atual diretoria entrou com um pedido de medida cautelar para suspender os efeitos da decisão da mesa diretora do Conselho de Administração. O imbróglio, que parecia encerrado, ganhou mais um capítulo.

Pela manhã, o ?conselhão? apresentou às chapas e à imprensa o resultado do recurso. Os oposicionistas foram beneficiados por conta da participação dos nove atuais dirigentes na eleição – segundo o ?princípio da presunção?, alegado pela acusação, ao menos cinco deles teriam votado na chapa de Giovani Gionédis, pelo fato deles estarem na chapa que concorria à reeleição.

O documento apresentado pela diretoria, a autorização para licença dos ?cardeais? por 24 horas (das 12h do dia 5 de dezembro, data da eleição, às 12h do dia 6), não foi considerado. Segundo os membros da mesa diretora, ?se juntado ou referido na oportunidade própria, teria motivado manifestação diversa?. Portanto, caso a licença fosse registrada no dia da eleição, Gionédis e seus aliados seriam proclamados vencedores. Para exemplificar o caso, são lembradas eleições anteriores, quando a licença (ou mesmo a renúncia) foi apresentada dias antes do pleito.

A decisão foi tomada seguindo os artigos do Estatuto do Coritiba. É lá que estão as regras para o convívio entre a Diretoria Executiva e o Conselho de Administração -este último é o responsável pelas deliberações e são seus conselheiros que têm direito a voto nas eleições. Três membros do ?conselhão? votaram pela impugnação dos nove votos: Júlio Militão, João Gualberto de Sá Scheffer e Jair Cirino dos Santos. O voto vencido foi de Dirceu Lamóglia, que pretendia anular a eleição. O quinto membro da mesa, Pierre Alexandre Boulos, não participou da decisão porque está viajando.

Com o resultado, Tico Fontoura passou a pensar no futuro. ?Agora é o momento de prepararmos a transição e entrarmos em entendimento?, comentou o presidente eleito -que pretende entrar rapidamente em contato com o atual presidente. Fontoura disse estar tranqüilo, esperando que Giovani Gionédis o receba nos próximos dias como amigo. ?Eu e ele temos um convívio sereno e acredito que continuará assim?, disse.

A posição de Tico Fontoura baseia-se no despacho do Conselho de Administração. A decisão de ontem é definitiva dentro das instâncias do clube. Não há possibilidade de recurso na esfera jurídica do Coxa, mas nada impediria qualquer dos lados a entrar na Justiça.

Foi o que aconteceu. Ainda pela manhã, o grupo de Giovani Gionédis entrou na 5.ª Vara Cível de Curitiba com um pedido de medida cautelar – o presidente estava em São Paulo, onde participou de reuniões com dirigentes de clubes que disputam a Série B, e negociou contratos de fornecimento de material esportivo.

A peça jurídica foi entregue ao juiz Sigurd Roberto Bengtsson, mas depois de passar a noite estudando o caso, ele afirmou que vai dar o parecer hoje, às 11h. Tico Fontoura reagiu à manifestação da situação. ?Acho que isto só atrapalha, é um desserviço ao Coritiba. Vamos para uma situação complicada, muito complexa, que não fará bem ao clube?, afirmou. A atual diretoria do Coxa não falou sobre o caso – por meio da assessoria de imprensa, foi informado que nenhum membro da Diretoria Executiva dará entrevistas, e que um pronunciamento oficial acontecerá na segunda.

Os desdobramentos de uma batalha judicial são incertos. Para alguns juristas, é possível até a suspensão da posse de qualquer um dos dois candidatos (pela decisão do ?conselhão?, Tico Fontoura assumirá o Coxa no dia 5 de janeiro), com a nomeação de um interventor. E como as duas chapas se consideram vencedoras, é possível que dois caminhos diferentes para o Coritiba estejam sendo traçados, com conseqüências imprevisíveis.

Turma de Fontoura não pode anunciar nada

Em meio a tanta confusão, José Antônio Fontoura realizou a primeira reunião de trabalho como presidente eleito (após a decisão do Conselho de Administração) na tarde de ontem. E, apesar de já ter feito contatos e discutido os planos para o clube com os seus companheiros de chapa, nada foi anunciado. A intenção é não falar nada antes do contato de Fontoura com o presidente Giovani Gionédis, para o início do processo de transição.

Fontoura disse estar feliz com o desfecho do caso na esfera do Conselho de Administração. ?Recebi com satisfação a decisão, que creio ser a mais justa. Nós sempre nos consideramos vencedores da eleição?, comentou. Segundo ele, a posição adotada pelo ?conselhão? era natural. ?Havia uma presunção óbvia dos votos. Se formos minimizar a situação, ao menos cinco dos nove votantes iriam optar pela chapa do presidente Giovani Gionédis, pois eram integrantes da mesma.?

Ele reuniu seus companheiros em seu escritório e retomou o planejamento para 2006. ?Nós não paramos, continuamos trabalhando pois tínhamos certeza da decisão favorável?, afirmou o vice-presidente Ricardo Gomyde. Assim como a situação se posicionou dias atrás, os oposicionistas pretendem dar ênfase total ao futebol. ?No ano que vem, esta tem que ser a nossa prioridade máxima. Teremos que deixar algumas idéias em segundo plano, porque o objetivo principal é fazer o Coritiba voltar para a primeira divisão?, disse Tico Fontoura.

Não foi descartada a permanência do técnico Márcio Araújo, que renovou com o Coritiba na terça. ?Nas conversas que tive com o presidente Gionédis antes de todo este processo eleitoral, apoiei a decisão dele em contratar o Márcio, que é um profissional de caráter, com liderança e que acabou fazendo um bom trabalho?, disse o presidente eleito. ?Mas não podemos decidir nada. Precisamos conversar com os atuais dirigentes, definir uma linha de trabalho nesta transição para depois anunciarmos os nossos planos?, completou. Comenta-se que Levir Culpi seria um dos nomes que poderiam assumir a equipe.

A mesma posição foi apresentada quando foram citados o assessor da presidência José Hidalgo Neto, o diretor de futebol Almir Zanchi e o superintendente Odivonsir Frega. ?São todos pessoas de reconhecida capacidade, que são ligadas ao Coritiba e que podem ser úteis. Mas, mesmo parecendo repetitivo, tenho que reforçar que não podemos anunciar nenhuma decisão por enquanto?, finalizou.

Membros

Os nove componentes da chapa Campeão de Novo são José Antônio Fontoura, Ricardo Gomyde, Marcos Hauer, Francisco Araújo, Nadir Elache Filho, Jurandir Marcondes Filho, André Macias, Homero Halila Pereira e Jocler Jéferson Procópio – este último foi preso ontem, acusado de extorsão.

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