O ex-volante César Sampaio se despediu de uma carreira de sucesso dentro de campo em 2004. Desde então, segundo ele mesmo, passou a estudar futebol a fim de repetir o êxito como dirigente. Dez anos depois, o superintendente do Joinville conseguiu chegar ao objetivo traçado há 13 meses, quando chegou ao clube. A equipe é o primeiro representante da Série B deste ano garantida na elite do Campeonato Brasileiro de 2015.

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Em entrevista ao Estado de S.Paulo, César Sampaio revela os detalhes do trabalho desempenhado do Joinville desde outubro do ano passado. Desde então, o ex-jogador da seleção brasileira viu a equipe chegar ao vice-campeonato estadual e ao acesso à Série A do Brasileirão – fato que não acontecia desde 1986. O dirigente, além de destacar as experiências da nova carreira – como a passagem pelo Palmeiras -, exaltou o conjunto do clube catarinense. “Todo mundo abraçou a causa e se comprometeu com a ideia”, disse.

Qual o grande trunfo da gestão do Joinville?

Nós temos vários fatores para essa campanha de sucesso. O presidente (Nereu Antônio Martinelli) tem sido enfático no trabalho a médio e longo prazo. Oscilamos em determinados momentos da competição, e a manutenção da comissão técnica foi importante. Trabalhamos em cima do nosso orçamento, consequentemente cumprimos o prometido aos atletas em relação aos salários e premiações. Em termos de planejamento, nós entendemos que cada jogo é um evento. A preparação para cada jogo tem sido específica, para a comissão técnica e os atletas entrarem em campo com a melhor condição possível para a conquista de uma vitória. A cidade também abraçou o projeto. Os torcedores têm feito um espetáculo à parte, principalmente nesses jogos decisivos. Além disso, o Hemerson Maria é um treinador estrategista, de uma nova geração. Ele estuda muitos os adversários. Enfim, é uma somatória de fatores, cada um no seu departamento. O Joinville é hoje um modelo interessante a ser observado em termos de gestão no futebol brasileiro.

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O clube conseguiu três acessos em cinco anos. Como isso foi possível?

O futebol virou um negócio. Toda a parte de planejamento é importante. Nós temos especialistas em cada departamento, procurando informações para se atualizar naquilo que o mercado apresenta e colocando em prática no dia-a-dia. O Joinville é um todo. Os profissionais trabalham bastante. O futebol não é uma ciência exata. Há vários fatores que contribuem. E os atletas também estão executando muito bem o trabalho dentro de campo. Entendemos a competição, os riscos dela, pois a logística é algo desgastante.

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Você chegou em outubro do ano passado. Como ocorreu esse entrosamento?

Nós temos um presidente bem atuante, que conseguiu vários acessos. Eu incorporei ao grupo. Desde que parei de jogar, há dez anos, estou estudando e me preparando. Tive uma passagem pelo Palmeiras, isso me ajudou muito. A conquista da Copa do Brasil e a queda no Brasileiro me deram, como gestor, muitas informações e muita experiência. Nós, como administradores, temos que trabalhar em cima de algumas verdades que são absolutas na gestão de um grupo. Nós aplicamos tudo isso no Joinville. Todo mundo abraçou a causa e se comprometeu com a ideia. Não há um destaque na equipe, somos um grupo mesmo.

A equipe mudou muito em relação ao ano passado?

Saíram muitos atletas. Há alguns remanescentes no time. Quando eu assumi, fizemos um diagnóstico e montamos um modelo de jogo e o perfil dos atletas para a competição deste ano. Ficamos felizes em ter acontecido como planejamos. Usamos o estadual como laboratório para que pudéssemos entrar forte no Brasileiro. Chegamos ao vice-campeonato estadual, e na principal meta a equipe respondeu muito bem.

Como se dá o trabalho na base do clube?

O trabalho na base é a médio e longo prazo. Temos seis meninos que irão incorporar o elenco profissional no ano que vem. A sustentabilidade está aí. Nós não temos orçamento para ir para o mercado e adquirir grandes nomes. É fundamental a formação de atletas. Temos um exemplo interessante. O atual centro de treinamento foi construído com verba da transação do Ramires do Benfica para o Chelsea (o Joinville é o clube formador do volante).

Qual o teto salarial da equipe?

Temos uma média de R$ 20 mil de salário para cada atleta. A folha salarial é de R$ 702 mil. Para cada setor de campo temos um orçamento: há uma referência, um jogador de médio porte e uma aposta. O sócio-torcedor ajuda bastante. É nossa maior fonte de receita. São 11 mil sócios, o plano mínimo é de 58 reais por mês. Eles têm acesso aos jogos e ganham desconto em algumas lojas de varejo, que são parceiros do Joinville. Isso nos dá uma segurança financeira. Os jogos estão sempre cheios. O cenário é muito propício e interessante. É um modelo dentro das limitações e da nossa realidade.

E os planos para o ano que vem? Como segurar os atletas?

Eu já tenho o meu planejamento, mas ainda não fechei com os diretores. Vamos esperar ainda para definir. Temos cinco ex-atletas nos cargos de gestão de campo. Vamos fechar até o fim do ano o planejamento, esperar o fim do campeonato. Mas a intenção é segurar os jogadores com boa performance, a maioria deles, pois o time está bem. Faremos de tudo, mas é precoce ainda para falar disso. Não fechei com ninguém ainda. Nós temos vivido muito o presente, 100% o presente.