Em um gesto de aproximação com os jogadores de futebol às vésperas da Copa do Mundo, a presidente Dilma Rousseff recebeu nesta segunda-feira, no Palácio do Planalto, representantes do Bom Senso FC para acertar a criação de um grupo de trabalho para elaborar um plano nacional de desenvolvimento do esporte. Entre as propostas apresentadas pelo movimento na reunião estão o fortalecimento da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte e a regulamentação da participação de atletas em assembleias gerais de entidades.
“A reunião foi muito mais proveitosa do que a gente imaginava”, comentou o jogador Ruy, um dos representantes do Bom Senso no encontro desta segunda-feira. “Foram palavras da presidente: ela está estarrecida com a falta de compromisso dos clubes brasileiros em relação a salários. A presidente não imaginava que existisse no Brasil, país do futebol, tantos clubes com salários atrasados.”
Criado no ano passado, o Bom Senso reúne jogadores de todo o Brasil. Os dois principais pontos defendidos pelo movimento para o futebol brasileiro são a adoção de um calendário de jogos mais equilibrado e do fair play financeiro (punição para os clubes devedores).
O movimento chegou a realizar protestos em algumas rodadas do Campeonato Brasileiro do ano passado para chamar a atenção da CBF e dos dirigentes dos clubes para suas propostas. Também já se posicionou contra a violência no futebol e os atrasos salariais, ameaçando até mesmo parar competições.
No ano passado, os líderes do movimento chegaram a se reunir com dirigentes de clubes e a direção da CBF para apresentar suas propostas, mas sempre reclamaram de um certo descaso dos cartolas. Agora, o Bom Senso teve a chance de conversar com a presidente Dilma para defender sua causa.
REUNIÃO – O meia Alex (Coritiba), os zagueiros Cris (sem clube), Gilberto Silva (sem clube, pentacampeão com a seleção brasileira em 2002) e Juan (Internacional), o atacante Marcinho (Ituano) e o goleiro Dida (Internacional, também da seleção do penta) participaram da audiência de uma hora e dez minutos com a presidente e o ministro do Esporte, Aldo Rebelo.
Com o fortalecimento da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, seriam reforçados mecanismos referentes ao pagamento de salário dos jogadores, explicou o secretário do Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor, Antônio Nascimento. “É tentar direcionar o pagamento dos clubes que devem ao governo para que o pagamento dos salários atrasados tenham certa prioridade”, comentou ele.
Outro item da discussão, comunicou Antônio Nascimento, é regulamentar medida provisória que pressupõe que clubes que recebam dinheiro público permitam aos atletas votar em entidades, confederações e federações.
“A ideia é usar a regulamentação para tornar os atletas, no caso o Bom Senso e os atletas de modo geral, com uma participação maior dentro das entidades e clubes, coisa que não acontece neste momento em que os atletas não participam de votação nem nada”, disse o secretário.
O grupo de trabalho a ser formado terá representantes do Ministério do Esporte, Bom Senso e provavelmente do Ministério do Trabalho, informou Antônio Nascimento. “A presidente foi clara para que a gente tentasse concentrar em poucas ideias que sejam factíveis imediatamente, em vez de tentar criar a roda de novo”, comentou.
ADESÃO – De acordo com Ruy, o Bom Senso é um “movimento revolucionário” que conta com a adesão de pelo menos 1,2 mil jogadores. “Esperamos que após a Copa do Mundo o movimento se fortaleça ainda mais”, comentou.
A decisão de se reunir com representantes do Bom Senso foi tomada pela presidente Dilma Rousseff após receber no Palácio da Alvorada repórteres e colunistas que trabalham na cobertura esportiva. Ao se aproximar da pauta de reivindicações do movimento dos jogadores, ela se distancia da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Para Alex, não houve problema nenhum no fato de a CBF não ter sido convidada para a audiência desta segunda-feira. “A CBF sempre nos tratou bem, mas de concreto não vimos nem uma mínima mudança. Não vejo problema nenhum (na ausência da CBF), porque os convidados por enquanto foram os jogadores”, disse o jogador. Para Antônio Nascimento, a reunião no Planalto “não foi contra ninguém” e sim “a favor do futebol”.