São Paulo ? No desembarque da seleção sub-23 no Aeroporto de Cumbica, ontem à noite, Diego evitou assumir a culpa pelo fracasso no torneio pré-olímpico do Chile. Em nenhum momento o meia se disse responsável pelo Brasil ficar de fora dos Jogos Olímpicos de Atenas. Porém, deixou no ar a impressão de que não é mais certeza nas futuras convocações, tanto para a seleção principal quanto para a sub-23.
“Se depender de mim, passarei por outros jogos de pressão pela seleção brasileira. Vou continuar me dedicando para permanecer no grupo”, disse o meia, cercado por dois seguranças do Santos.
Ao lado do amigo Robinho, Diego foi o primeiro a dar as caras no saguão principal. Logo percebeu que não seria fácil escapar da imprensa. Mesmo escoltado, parou para se explicar. Robinho escapou por um corredor formado por três seguranças grandalhões enviados pelo Santos.
“Talvez tenha tido um excesso de brincadeiras mesmo. Agora, é a hora de colocar a cabeça no lugar e escutar o que todos têm a dizer”, redimiu-se Diego, sobre as brincadeiras que irritaram a cúpula da CBF.
“Da próxima vez, temos que encarar com mais seriedade. Pode ter certeza de que voltei muito mais maduro e experiente.” Apesar dos 18 anos, Diego sabe que era um dos mais ‘rodados’ do clube.
No entanto, evitou comparar a desclassificação para Atenas com a desilusão da perda da Libertadores da América, para o Boca Juniors, em pleno Morumbi. “É completamente diferente quando se veste a camisa da seleção. A responsabilidade aumenta. Infelizmente, não alcançamos o nosso objetivo. A oportunidade foi dada a cada um de nós e não fomos capazes”, assumiu. “O Ricardo Gomes é um grande treinador, mas que ainda não ganhou o reconhecimento devido.”
A mesma agilidade que Robinho demonstra em campo foi usada para escapar da imprensa. O atacante não parou. Só diminuia as passadas rápidas para atender os pedidos de autógrafos de alguns curiosos que apareceram para recepcionar a seleção. Falava rápido enquanto seguia a orientação do segurança: “Mais rápido! Mais rápido!” “Perder faz parte do futebol. O Ronaldinho também perdeu uma Olimpíada com o Brasil e depois foi campeão do mundo”, lembrou.
Menos assediado pela imprensa, o volante Paulo Almeida, que passou de titular absoluto para uma das opções no banco de reservas de Ricardo Gomes em apenas um jogo, parecia mais preocupado em já servir o Santos no campeonato paulista. “Se o Leão quiser, eu estou à disposição para quarta-feira – contra o Mogi Mirim, em Santos”, garantiu o jogador, que deixou claro que em nenhum momento faltou vontade do grupo.
Ricardo Gomes fora da seleção
Rio – Ricardo Gomes não é mais o técnico da seleção brasileira sub-23. Sem a vaga nos Jogos Olímpicos de Atenas, o treinador ficou sem função dentro dos quadros da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e o presidente da entidade, Ricardo Teixeira, aguardava seu desembarque no Rio, ontem à noite, para lhe dar a notícia pessoalmente, evitando assim mandá-lo embora por telefone.
Durante a reunião de cerca de duas horas, ontem à tarde, na sede da CBF, na Barra da Tijuca, zona oeste, entre Teixeira, o técnico da seleção principal, Carlos Alberto Parreira, o coordenador-técnico Zagallo e o supervisor Américo Faria, o ex-treinador da sub-23 foi isento de culpa por todos e ainda teve o seu trabalho elogiado. O grande problema foi o de que não existe um lugar para “encaixá-lo”.
“Desde quando cheguei aqui existiam dois projetos: um da Copa do Mundo de 2006 e o outro das Olimpíadas. O Ricardo (Gomes) estava envolvido no projeto olímpico que acabou. “Agora, o que o presidente vai fazer com ele, eu não sei”, despistou Parreira. Em seguida, o técnico da seleção principal teceu os mais diversos elogios ao ex-treinador da sub-23.
“O Ricardo (Gomes) tentou e não teve culpa no processo. Ele é jovem, tem apenas 39 anos, e está no comando da seleção por merecimento”, frisou Parreira. “Acho que isso não será uma mancha em sua carreira, apenas um obstáculo a ser superado. Tem tudo para dar a volta por cima.” Parreira disse acreditar que a situação poderia ser ainda pior, caso estivesse no comando do time durante o pré-olímpico e também fosse eliminado. Para o técnico da seleção principal, desde que o profissional seja de qualidade, como Gomes, não haveria motivos para mudar a filosofia de trabalho.
“Ser técnico no Brasil é muito desgastante. A cobrança é muito grande”, disse Parreira.
Ao contrário do dia 16, data de sua posse, quando fez pesadas críticas ao desempenho da seleção no pré-olímpico do Chile, o presidente da CBF preferiu o silêncio ontem e se limitou a publicar uma declaração no site oficial da entidade. O dirigente enfatizou que o desempenho da equipe na competição ficou “muito aquém do esperado” e que “a não-classificação para as Olimpíadas de Atenas frustrou a todos”.
Desde que assumiu a seleção em dezembro de 2002, Gomes comandou o time por 20 partidas. No total conquistou doze vitórias, quatro empates e foi derrotado por quatro vezes. A única chance de ele permanecer no cargo seria a criação, pela Fifa, do mundial sub-23, caso o futebol não participe mais dos Jogos Olímpicos.
Parreira diz que sub-23 serve de alerta
Rio – “Muito oba-oba”, “excesso de brincadeiras”, “falta de experiência” e “imaturidade” foram os principais problemas detectados para a não-classificação do Brasil aos Jogos Olímpicos de Atenas, durante a reunião entre o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e a comissão técnica da seleção principal, ontem à tarde, na sede da entidade, na Barra da Tijuca. De acordo com o técnico Carlos Alberto Parreira, também faltou uma “consciência de grupo”.
“Ficou provado que só com talento e qualidade não se vai a lugar nenhum”, frisou Parreira. “A tônica da nossa reunião foi a de que este episódio sirva de alerta para todos, inclusive, à seleção principal.” Tanto Parreira quanto o coordenador-técnico Zagallo afirmaram que os jogadores não ficarão “marcados” por deixarem de obter a classificação olímpica. Zagallo recordou o insucesso nos Jogos de Atlanta, em 1996, quando foram eliminados na morte súbita, pela Nigéria, após o Brasil vencer a partida até os dez minutos finais, por 3 a 1.
“Aquela seleção tinha Rivaldo, Roberto Carlos e Ronaldo Fenômeno. Eles perderam e depois foram campeões do mundo. Isso acontece na carreira de jogador”, lembrou Zagallo. Ele e Parreira ainda frisaram que o meia Diego e o atacante Robinho, do Santos, “não tinham” a responsabilidade de comandar o time.
“Uma coisa é o projeto olímpico que não deu certo e a outra é a seleção principal. Por isso, sempre optamos por esperar que esses jogadores sejam maturados, porque a camisa amarelinha pesa”, disse Parreira. “Ninguém desse grupo está queimado e amanhã pode voltar à seleção.”
Já Zagallo foi enfático ao afirmar que o excesso de brincadeiras também foi prejudicial. “Brincadeira tem limite e ela tem que ser mais contida”, frisou.