Valdiria, Maria de Fátima e Léia. Para os torcedores do Atlético, do Coritiba e do Paraná Clube, essas mulheres podem até ser desconhecidas, mas se não fosse todo o esforço e a determinação das três, o mundo da bola não teria conhecido esses jogadores que são a representação dos times que defendem: Deivid, jogador do Furacão, Thalisson Kelven, zagueiro do Alviverde, e Leandro Vilela, volante do Tricolor da Vila.
Ainda que sejam rivais em campo, todos têm em comum a formação na base de seus clubes e a dedicação de mulheres guerreiras, que fizeram muitos sacrifícios para que os filhos pudessem realizar o sonho de se tornar jogadores de futebol.
Em homenagem ao Dia das Mães, a Tribuna do Paraná conversou com “as rainhas” da vida desses atletas. Confira:
Ela disse não ao Santos
Desde que tinha cinco anos e morava em Londrina, Deivid já mostrava habilidade com a bola nos pés. Um pouco maior e já treinando em uma escolinha do bairro, veio o primeiro convite para que o menino iniciasse uma carreira no mundo do futebol, contou a mãe Valdiria Pires da Silva, 51 anos, ou dona Dila, como é conhecida pelos amigos.
“Ele tinha só dez anos e um olheiro do Santos viu o Deivid jogar e queria levá-lo. Eu não deixei. Disse não! Ele era muito pequeno, mas foi aí que percebi que ele seria um jogador de futebol”, falou a mãe, que apenas adiou a separação que acabou sendo inevitável.
Aos 13 anos Deivid foi jogar pelo PSTC. Por dois anos ele morou no alojamento do clube, tendo apenas os finais de semana para visitar a família. E aos 15 seguiu rumo à capital do estado, para treinar no Atlético.
“Foi complicado, porque ele sempre foi muito família. Me ligava todo dia, todos nós sofríamos com a saudade”, contou, lembrando do período difícil em que conseguia ver o filho apenas duas vezes no ano. “A gente não tinha condições financeiras para ir para Curitiba, então ficávamos seis meses sem nos vermos. Só via meu filho nas férias, quando ele voltava para casa”, disse.
Valdiria criou os três filhos sozinha e apesar de todos os problemas que enfrentou, orgulha-se do caminho que percorreu. “Foi uma época muito difícil, mas graças a Deus venci. Fiz dos meus filhos dois homens e uma mulher de caráter, excelentes filhos”, falou.
Apesar de ainda morar em Londrina, dona Dila já não sofre com a distância. Hoje ela conta com a ajuda de Deivid para se manter e consegue estar perto do filho com frequência, o que é motivo de muita alegria.
“Dependo dele para tudo, ele me ajuda muito. Fico muito feliz que agora podemos estar sempre juntos. Sempre que quero posso ir visita-lo ou ele vem me ver”, comemorou a mãe coruja, que é só elogio ao volante atleticano, capitão da equipe de aspirantes na conquista do Campeonato Paranaense deste ano.
“As pessoas conhecem ele como jogador, mas antes de qualquer coisa Deivid é uma excelente pessoa. É um filho bom, responsável e dedicado”, disse, orgulhosa pela trajetória do filho. “Fico feliz que ele esteja conquistando tudo que sempre desejou, ele é uma bênção na vida de toda a família e merece o melhor”, se “derreteu” dona Dila.
Superou 2763 km pra que o filho vivesse seu sonho
Foi quando o filho tinha seis anos que Maria de Fátima Silva, 42 anos, percebeu que o pequeno Thalisson Kelven era bom de bola. Os jogos no campinho do time da vila, o São Bernardo, em Ji-Paraná, Rondônia, eram para ser apenas uma brincadeira entre os meninos, mas acabavam sendo oportunidade para que o pequeno jogador já se destacasse entre tantos.
O garoto foi crescendo e a cidade foi ficando pequena para ele. Acreditando no sonho do filho, mas com muito “aperto no coração”, Maria de Fátima permitiu que Thalisson viesse morar em Curitiba aos 12 anos. Mãe e filho foram separados por 2763 km de distância.
“Ficar longe do filho não tem explicação. Senti muita saudade e aflição por não saber o que acontecia no dia a dia dele”, lembra a mãe, que apesar das conversas diárias por telefone chegou a ficar oito meses sem ver o filho. Thalisson chegou à capital paranaense para treinar no Trieste e, aos 14, tornou-se um “Piá do Couto”.
Passado o período de dificuldades em razão de não poder estar ao lado do filho, hoje Maria de Fátima é só alegria. Ela veio para morar com o seu “rebento” em Curitiba. Recém-chegada à cidade, agora Maria de Fátima pode cuidar de perto do filho.
“Como é bom estar perto, poder ver quando ele chega todos os dias dos treinos e dos jogos. É um alegria imensa”, falou a mãe do jogador, que tem uma admiração enorme pelo filho, que estreou no time profissional este ano, foi um destaques no time no Estadual e tem dois gols na temporada.
“Tenho muito orgulho, não só por ele realizar o sonho dele, mas também pela pessoa que se tornou. Mesmo tão jovem, é um adulto de muitas responsabilidades”, elogiou a mãe.
Abriu mão de seus sonhos pelo sonho do filho
“Sou aquela mãe maluca, fico sempre nervosa e no jogo então, tenho que me segurar para não falar bobagens! Quando ele está em campo é um momento mágico: sofro e torço sempre!”, contou Léia Vilela, mãe do volante Leandro Vilela, jogador do Paraná Clube.
O que ela mais admira em seu filho é a determinação que Leandro sempre teve para correr atrás do seu sonho de se tornar um jogador de futebol. Hoje com 42 anos, Léia relembra a trajetória de sua “cria”, que com cinco anos já começou a tomar gosto pelo esporte e não quis mais pensar em outro destino para sua vida que não fosse a bola nos pés.
“Com seis anos, o Leandro foi destaque em uma competição, então foi convidado para treinar futebol de salão na categoria ‘mamadeira’. Foi a partir daí que começou a luta”, lembrou.
Os treinos começaram a ficar sério, pois o menino já estava decidido que jogar bola seria seu futuro. Mas até que o desejo de criança se tornasse uma realidade da vida adulta, muita coisa aconteceu. A mãe teve que se desdobrar para conseguir manter o filho jogando bola.
“Tivemos que fazer vários sacrifícios. Precisamos pedir empréstimos várias vezes para que ele pudesse fazer as viagens com o time. Eu sempre trabalhei fora e precisava dar um jeito para leva-lo e busca-lo nos treinos. Minha filha era pequena e tinha que acompanhar toda a rotina. Era uma batalha diária”, lembra.
Ainda que toda a família fizesse muitos sacrifícios, a mãe não se arrepende de ter transformado a rotina da casa pelo bem do filho mais velho. “Mesmo com todos os obstáculos, ele ficava cada vez mais apaixonado pelo que fazia”, contou Léia, lembrando que chegou a deixar o filho ir para São Paulo, com 12 anos, tentar ganhar seu espaço. “Eu sofria muito, mas ele continuava forte e determinado”, recordou a mãe.
De volta a Curitiba alguns meses depois, o filho passou por um momento em que a mãe chegou a pensar que, pelo bem de Leandro, desistir poderia ser uma possibilidade. “Quando ele tinha treze anos, ficou sem clube e foi uma fase muito complicada. Começamos a pedir para ele treinar em qualquer lugar para dar continuidade no seu sonho, foi triste. Então, diante de todas as dificuldades, perguntamos a ele se realmente era o queria e evidenciamos o seu amor pelo futebol”, relembrou a mãe, que naquela situação viu o quanto o desejo de Leandro em se tornar um atleta profissional era maior que qualquer problema e por isso, continuou abrindo mão de suas prioridades pelo sonho do filho.
Aos 14 anos Leandro chegou ao Paraná Clube. Ganhando seu espaço até o profissional, em 2017 ele foi um dos nomes importantes do time no acesso à Série A. “Tenho muito orgulho do meu filho, não foi fácil chegar e conquistar o que ele conquistou. Sempre dedicado, ele nunca faltou a um treino. É filho amoroso, parceiro, amigo e profissional”, finalizou.
Homenagem
Os três jogadores são muito gratos a tudo que as mães já fizeram por eles e não escondem a admiração por suas “guerreiras”.
“Só tenho que agradecer a Deus, não teria mulher melhor para ser minha mãe. Ela é o pilar da minha base familiar, mulher guerreira, batalhadora, defensora de seus filhos, uma mulher muito especial em minha vida, por tudo que fez e faz em minha vida. Não foi só mãe em minha vida, mas também o pai que não tive, então ela teve essa dupla função dentro de casa, principalmente se tratando de um filho homem, responsabilidade muito maior, ela é a maior responsável por me tornar a pessoa que sou hoje, junto dos meus familiares. Te amo, mãe”, falou Deivid.
“Minha mãe é o amor da minha vida, é a pessoa mais importante para mim, agradeço a Deus por ter colocado essa mãezinha na minha vida. Tem um amor incondicional por todos seus filhos. Uma mulher batalhadora, guerreira que abriu mão de tudo para ver seus filhos felizes. É um exemplo que eu tenho. Amo muito”, disse Thalisson.
Ela é a pessoa quem eu mais amo, quem eu admiro seu jeito de ser, pois é uma pessoa carinhosa, dedicada, amável e minha admiração por ela é inexplicável. Agradeço a ela por todas as adversidades que enfrentou para poder me dar as melhores coisas, os melhores ensinamentos, a amo demais”, declarou Vilela.