?Só estou na prova ainda porque quero chegar ao final?. A frase resume a raça e a determinação do piloto brasileiro Jean Azevedo, da equipe Petrobras Lubrax, que está disputando o Rali Paris-Dakar com fortes dores no ombro. Ele já pensou em abandonar a prova várias vezes.
O momento mais difícil foi durante a etapa entre Tidjikja e Nema, na Mauritânia, na sexta-feira. O trecho era o mais longo deste ano, com 736 km cronometrados. Também era o mais duro. ?Em dois momentos eu quase acionei a baliza, mecanismo que emite um sinal para a organização. Eles iriam me buscar no meio no trajeto, mas eu seria automaticamente desclassificado. Eu não estava agüentando mais?, disse Jean.
Azevedo vem sentindo fortes dores no ombro em virtude de um acidente no Rali dos Sertões, em julho. Ele quebrou o úmero e precisou passar por cirurgia para a colocação de dois pinos. Devido ao grande esforço exigido em vários dias de prova, ele não tem mais forças para segurar o guidão da moto, que pesa quase 200 quilos com os tanques cheios.
?Fico revoltado porque sou ultrapassado por vários pilotos menos experientes e com motos inferiores. Isso acaba me estressando?, lamentou o paulista de São José dos Campos, que está correndo com uma KTM 700 cilindradas. Para suportar as dores, ele precisa tomar analgésicos antes de cada largada.
O cancelamento de duas etapas da competição, a de ontem a de hoje, na véspera do dia de descanso (amanhã) devido a ameaças de ataque no deserto do Mali, caiu do céu para Jean. Ele terá três dias para repouso. ?Tenho raça. Vou lutar até o último minuto para conseguir pelo menos completar a prova?, disse Jean.