Rio de Janeiro (AE) – O destino da Série A do campeonato brasileiro de 2005 será definido hoje, às 11h, em entrevista do presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), Luiz Zveiter, em sua residência, em Niterói.
Qualquer decisão que não seja a anulação dos 11 jogos sob suspeita será surpreendente.
A hipótese ganhou mais força nas últimas horas, principalmente depois que Zveiter abriu mão do trabalho de uma comissão formada por ex-árbitros, cuja função era analisar as partidas dirigidas por Edilson Pereira de Carvalho, um dos pivôs da máfia do apito.
Na noite de sexta-feira, o presidente do STJD já tinha ouvido os três integrantes de uma outra comissão, encarregados de acompanhar a investigação do esquema de corrupção com a Polícia Federal e o Ministério Público de São Paulo. Marcus Basílio, Luiz Geraldo Lanfredi e Antônio Gaspar, do quadro de auditores do tribunal, informaram a Zveiter sobre a probabilidade de "contaminação" de todas as partidas apitadas por Edilson no brasileiro.
Eles, inclusive, também levantaram suspeitas a respeito de três jogos que, inicialmente, pareciam estar livres da ação de manipuladores de resultados: Juventude 1×4 Figueirense; São Paulo 3×2 Corinthians; Fluminense 3×0 Brasiliense.
Zveiter deve anunciar neste domingo que as novas partidas podem ser disputadas com os portões abertos e que os atletas suspensos e, por isso, impedidos de participar anteriormente dos jogos em discussão continuariam sem condições de voltar a campo para a repetição dos confrontos. No entanto, aqueles contratados depois dos jogos manipulados e que não estiverem suspensos automaticamente poderão atuar.
Conforme antecipado, as datas das rodadas especiais já foram escolhidas pela Confederação Brasileira de Futebol: nos dias 19 e 20 de outubro e em 9 e 10 de novembro. A partir do anúncio oficial de Luiz Zveiter a pontuação dos clubes no brasileiro sofrerá alteração imediata.
O escândalo já provocou a demissão do presidente da Comissão Nacional de Arbitragem da CBF, Armando Marques. Ele se indispôs com a direção da entidade por não vir a público para explicar as denúncias de manipulação de resultados. O esquema, comprovado a partir de grampos telefônicos, tem a participação direta dos árbitros Edilson Pereira de Carvalho e Paulo José Danelon, que trabalhou este ano no campeonato paulista.
Os dois estariam ligados a um grupo de apostadores, donos de bingos de São Paulo e Piracicaba, que desde o início deste ano estaria fraudando resultados para lucrar com apostas realizadas em sites ilegais. Edilson foi preso na madrugada de sábado em operação da Polícia Federal (PF) e confirmou seu envolvimento no esquema nos 11 jogos em que apitou no atual brasileiro. Solto cinco dias depois, chegou a ser agredido por um torcedor que dizia ser corintiano, ao deixar a sede da PF.
O árbitro Paulo José Danelon, por sua vez, também manipulou resultados de quatro partidas do campeonato paulista de 2005: Corinthians 3×0 Ponte Preta, Guarani 1×1 Atlético Sorocaba, Portuguesa Santista 0x1 União São João e Santos 0x0 Guarani. Ele, no entanto, responderá o processo em liberdade. A fraude também já levou à prisão os empresários Nagib Fayab, o Gibão, libertado na mesma noite que Edilson, e Vanderlei Pololi, detido em uma cela individual na sede da PF, em São Paulo.
Torcedor entra no Procon para ser ressarcido
São Paulo (AE) – A Fundação Procon-SP, órgão da Secretaria Estadual da Justiça e da Defesa da Cidadania, recebeu na sexta-feira a primeira reclamação de torcedor que adquiriu ingresso para partida de futebol do campeonato brasileiro apitada pelo árbitro Edilson Pereira de Carvalho – que confessou participar de um esquema de manipulação de resultados. O torcedor – um corintiano, cujo nome não foi revelado pelo órgão – quer receber de volta os R$ 25,00 que pagou para ver a partida entre Corinthians x São Paulo, realizada no dia 7 de setembro, no Morumbi.
O Procon entende que nesses casos de partidas com arbitragem comprometida, os consumidores terão direito à restituição da quantia paga ou assistir ao jogo sem pagar, na hipótese de a partida ser dispudada novamente. Segundo a assessoria do Procon, CBF e empresas (TV por assinatura) que comercializaram as partidas são responsáveis pelo ressarcimento ao consumidor. O órgão também está estudando medidas de caráter coletivo.