Desmanche ameaça Corinthians

Vivendo uma das piores crises financeiras de sua história, após o fim da parceria com a Hicks Muse – a separação está sendo resolvida de forma litigiosa na Justiça norte-americana -, o Corinthians está diante do difícil desafio de manter a base do elenco atual, visando principalmente a disputa da Taça Libertadores da América do ano que vem.

Do grupo de jogadores que disputou o Campeonato Brasileiro, três correm o risco de não continuar: o atacante Guilherme, o volante Vampeta e o zagueiro Scheidt, cujos contratos de empréstimo terminam no dia 31. Os três até gostariam de permanecer no Parque São Jorge, mas a crise financeira pode obrigá-los a sair.

Os contratos de Marcinho e Juliano também vencem no fim do mês, mas o empréstimo dos dois meias deve ser prorrogado, porque tanto o Jundiaí (dono dos direitos federativos de Marcinho) quanto o União São João (clube ao qual Juliano está vinculado) entendem que seus jogadores podem se valorizar disputando o torneio sul-americano. Melhor para o Corinthians, que não teria condições de pagar agora R$ 6 milhões para ter Marcinho em definitivo e US$ 4 milhões por Juliano.

Scheidt deve ser devolvido ao Celtic, da Escócia, pela mesma razão: o Corinthians não tem como pagar US$ 5 milhões pelo “passe” do zagueiro. Já em relação a Guilherme, o problema é o custo-benefício. O atacante não rendeu o esperado, apesar de seu salário estar entre os mais altos do elenco.

No caso de Vampeta, cujos direitos pertencem ao Flamengo, resta uma esperança. No começo da semana, o procurador do jogador, Reinaldo Pitta, transferiu a seu cliente a responsabilidade de decidir o futuro. “É o Vampeta que vai decidir onde jogará em 2003.” O jogador garante que quer permanecer no Parque São Jorge e admite até não ter aumento salarial. O problema será conseguir um acerto com o Flamengo.

Outro problema, são os jogadores vinculados à Hicks Muse. Segundo Adhemar Magon Júnior, principal executivo da empresa no Brasil, se a Hicks receber boas propostas por alguns de seus jogadores a chance de sair negócio é grande: “A Hicks não tem nenhum interesse em prejudicar o Corinthians, tirando nossos jogadores de lá. Mas é evidente que se houver proposta por algum de nossos jogadores o Corinthians terá de liberá-lo. De um jeito ou de outro.”

Deivid

Dos jogadores vinculados à Hicks, a situação de Deivid é a mais complicada. O Nova Iguaçu, que detém 50% dos direitos federativos do atacante (a outra metade pertence à ex-parceira), cobra na Justiça US$ 1,25 milhão que a Hicks não teria pago. Se o Corinthians não quitar a dívida pode perder o jogador. Os outros atletas que pertencem à Hicks são Fabinho (São Caetano tem 50%), Doni, Leandro e Luciano Ratinho (o Botafogo de Ribeirão detém 50% dos direitos federativos dos três), Rogério e Fábio Luciano.

Parreira é fã de Romário e gostaria de ver o atacante no Corinthians no ano que vem, o que não deve acontecer. Embora o empresário do jogador tenha manifestado o suposto interesse de Romário em defender o Corinthians na Libertadores, o vice-presidente de futebol, Antônio Roque Citadini, afastou essa possibilidade. “É o empresário do Romário que está plantando essas notícias.”

Independentemente das questões jurídicas, a diretoria do Corinthians se mexe para conseguir recursos. O primeiro passo foi substituir a Topper pela Nike como fornecedora de material esportivo. Essa mudança ainda não foi anunciada oficialmente, mas as negociações estão adiantadas. Com a Nike, o Corinthians quer tornar sua marca mais conhecida internacionalmente e, conseqüentemente, ganhar mais dinheiro em médio prazo.

Por outro lado, a Pepsi estuda a diminuição dos investimentos no clube. Em vez de estampar sua logomarca no espaço nobre da camisa (peito e costas), a multinacional de refrigerantes faria uma discreta inserção nas mangas, com substancial economia.

Parreira culpa derrota na primeira partida

Após nova derrota para o Santos, dessa vez por 3 a 2, o técnico Carlos Alberto Parreira acabou admitindo: “O campeonato foi definido na primeira partida”. Segundo o treinador do Corinthians, ao ganhar por 2 a 0 no domingo passado o time santista ficou com uma vantagem muito grande.

O treinador se mostrou conformado com o vice-campeonato, ainda mais depois que o adversário ganhou maior vantagem psicológica ao abrir o placar na final de ontem. Mesmo assim, Parreira ressaltou que seu time mostrou virtudes, ao não desistir da disputa, chegando a ter chances de vitória quando conseguiu fazer dois gols. Parreira ressaltou a boa atuação do goleiro santista Fábio Costa. “Tivemos quatro ou cinco chances de marcar, mas o Fabio realmente fez defesas milagrosas, que poderiam ter mudado o rumo da partida”, elogiou o técnico corintiano.

Outro jogador que desequilibrou, na opinião de Parreira, foi o atacante Robinho. Ele acredita que a conquista do Brasileiro pelo Santos foi um resultado justo, especialmente porque a equipe do técnico Emerson Leão venceu cinco das seis partidas da fase final da competição.

“Foi um resultado merecido. O título está em boas mãos e a equipe do Santos está de parabéns, mas acho que o resultado da partida em si não refletiu a realidade”, disse Parreira. Para o treinador, pelo que o Corinthians produziu em campo, poderia não ter saído com o título, mas merecia melhor sorte.

O técnico também considerou que o Corinthians acabou sentindo o desgaste de ter disputado tantas decisões nesta temporada. Mas ele considerou o ano positivo, uma vez que o time chegou a três decisões de título, conseguiu vencer duas (Copa do Brasil e Torneio Rio-São Paulo) e ainda garantiu presença na Copa Libertadores de 2003.

Sobre o futuro, o técnico afirmou que ainda não fez planos, embora tenha a intenção de pedir reforços para 2003. “Já posso considerar positivo ter chegado à final do Brasileiro. A última vez foi há 12 anos”, afirmou Parreira. Uma primeira reunião com a diretoria para determinar as mudanças no grupo ainda não foi marcada.

Parreira considera que a Libertadores será um grande desafio para ele e para o Corinthians no ano que vem. “É um título que o clube ainda não tem”, lembrou o treinador, que, assim como quase toda a comissão técnica que trabalhou com o time este ano, já tem contrato renovado para toda a próxima temporada.

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