Uma conta-poupança do Banco Itaú pode ser a chave que faltava para esclarecer as suspeitas de corrupção na arbitragem do Paraná. O Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Paranaense de Futebol (TJD-PR) vai anexar ao inquérito do ?caso Bruxo? o número da conta bancária na qual clubes teriam feito depósitos para receber benefícios no apito.

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Conforme denúncia recebida pelo auditor Octacílio Sacerdote Filho, que preside o inquérito, nesta conta estariam centralizadas as propinas pagas no esquema de ?venda? de arbitragens. Pelo menos duas equipes – uma que disputou a Série Ouro e outra da Série Prata de 2005 – estariam sob suspeita. ?Se algum clube realmente fez depósitos, terá que explicar o motivo?, falou o auditor. Há possibilidade de outras agremiações terem usado o mesmo recurso para bancar o suposto suborno.

Sacerdote não revela o nome do titular da conta e solicita sigilo para que as investigações não sejam prejudicadas. Mas a reportagem da Tribuna teve acesso ao número e simulou uma transferência de R$ 10,00 para o suposto ?Bruxo?. A transação não foi concretizada propositadamente, mas o nome do dono da conta aparece na tela – é o mesmo de uma pessoa que teve ligação direta com a arbitragem no Estado, mas que não é vinculado diretamente ao presidente Moura. Este seria apenas o operador do dinheiro – uma espécie de Marcos Valério do esquema, que tinha suposta participação de outras pessoas. ?Até agora, os depoimentos que colhemos foram pouco conclusivos. Faltava uma prova material, que pode ser esta movimentação bancária?, espera Sacerdote.

Outro ponto que deve ser apurado pelo TJD: desde que estourou o ?caso Bruxo?, um grupo de cinco a seis árbitros deixou de apitar jogos da Série Prata e Campeonato Brasileiro. Alguns deles foram para a ?geladeira?, e outros designados para partidas de categorias de base ou da amadora Taça Paraná. Um possível indício de que a FPF já tinha suas suspeitas.

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Como membro do TJD, o auditor não tem autoridade para pedir a quebra de sigilo bancário. Mas o número da conta será incluído no relatório final do inquérito, a ser enviado à Promotoria de Investigação Criminal (PIC) – o órgão do Ministério Público, que deve assumir as investigações a partir da semana que vem, e que pode solicitar judicialmente qualquer histórico de movimentações em banco. O auditor, que também é Promotor de Justiça na Comarca de Campina Grande do Sul, identificou indícios de crimes comuns como estelionato, formação de quadrilha e sonegação fiscal ao investigar o caso.

Cidão

Sacerdote também intimou ontem os presidentes dos seis clubes que tiveram jogos apitados por José Francisco de Oliveira, o ?Cidão?, na Série Ouro do Paranaense-2005. O depoimento dos comandantes de Atlético, Império do Futebol, Nacional de Rolândia, Rio Branco, Engenheiro Beltrão e Paranavaí está marcado para segunda-feira, a partir das 9h.

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O auditor tentou contato via e-mail com Cidão, que mora na Inglaterra, mas não obteve resposta até a tarde de ontem. O ex-árbitro da FPF confessou extra-oficialmente que participou de ?maracutaias? no futebol do Estado. Rogério Luder, que foi assistente de Cidão no jogo Atlético x Império, do famoso ?gol que não foi?, também foi intimado a depor.

Outra medida de Sacerdote foi solicitar a conta telefônica dos aparelhos celulares que a FPF fornece a alguns funcionários, com objetivo de identificar ligações suspeitas. A entidade se comprometeu a enviar os documentos até segunda-feira.

Três dirigentes devem ser indiciados

O inquérito do caso Bruxo só será entregue na semana que vem, mas o responsável pela investigação antecipou que três dirigentes devem ser indiciados. O auditor Octacílio Sacerdote Filho deve propor que Valdir de Souza e Antônio Carvalho, presidente e vice demissionários da Comissão de Arbitragem da FPF, e Sílvio Gubert, ex-presidente do Conselho Deliberativo do Operário, sentem-se no banco dos réus.

Gubert deu origem à investigação ao falar à ESPN Brasil que um certo ?Bruxo? recolhia dinheiro para o que parecia ser o ?caixa 2? da arbitragem. O indiciamento dele era dado como certo nos corredores da FPF.

Souza e Carvalho eram os comandantes do quadro de árbitros, que agora está sob suspeita. ?Ambos se isentaram de culpa, mas há contradições no depoimento deles?, justifica o auditor, afirmando apenas que estas contradições se referem à forma do pagamento das taxas de arbitragem. Sacerdote confirma, porém, que não há provas incriminando os dois ex-dirigentes da comissão.

Geladeira também na CBF

Os árbitros paranaenses correm o risco de pegar uma ?geladeira? coletiva no quadro nacional. A afirmação é do presidente da FPF, Onaireves Moura, que revelou ontem o autor da recomendação de escalar arbitragens de fora na Série Prata. ?O Armando Marques está acompanhando as denúncias e nos orientou a escalar apitadores de outro Estado. Ele também falou que, dependendo das investigações, os árbitros paranaenses do quadro da CBF podem ser afastados?, disse, em entrevista à Resenha Esportiva, da Rádio Paraná.

O quadro paranaense na CBF é composto por 14 árbitros e 19 assistentes.

Sindicato vai à Justiça. Associação reage

Os árbitros paranaenses reagiram com revolta ao afastamento dos jogos da Série Prata do Estadual. O presidente do Sindicato dos Árbitros, Amoreti Carlos da Cruz, vai entrar hoje com uma medida cautelar contra a atitude do presidente da FPF Onaireves Moura, de trazer árbitros catarinenses para apitar a segunda fase da Série Prata.

O presidente da Associação Profissional dos Árbitros de Futebol do Paraná (Apafpr), Henrique França Triches, considerou a escalação de catarinenses para comandar jogos da Segundona do Paraná uma atitude ?radical? de Onaireves Moura e prometeu contestar oficialmente a medida.

Triches sustenta que ainda não surgiram provas de corrupção contra apitadores paranaenses. ?O Cidão (ex-árbitro da FPF) e o dirigente do Operário (Sílvio Gubert) falaram sobre suborno, mas jamais citaram o nome de qualquer árbitro. Muitos me ligaram indignados. Não se pode afastar todos e generalizar as suspeitas sem que haja provas?, sustenta. Triches, que é médico na cidade de Terra Roxa (Sudoeste do Estado), disse não acreditar no envolvimento de colegas em maracutaias. ?Se houver, espero que os nomes surjam logo.?

O comandante da Apafpr também criticou o presidente da Federação por recomendar aos árbitros que apontem aqueles que ?não prestam?. ?A única lista que posso fornecer é a de nossos 263 associados. Como dizer que alguém é inapto sem poder comprovar??, indaga.

Na segunda-feira, Triches virá a Curitiba para se reunir com Moura e pedir a revisão do afastamento. Ontem, a FPF sorteou os árbitros catarinenses que apitarão os quatro jogos da segunda fase da Série Prata.