O Coritiba venceu o Paranavaí por 2 a 0, ontem, no Alto da Glória e conquistou seu 31.º título da história. E não só isso: repetiu a mesma façanha de 1935, quando foi campeão invicto. Desta vez foram 13 partidas sem derrota. |
O Coritiba vestiu a faixa de campeão paranaense de 2003 ao vencer ontem o Paranavaí por 2 a 0, no Couto Pereira. O Coritiba iniciou a partida de ontem partindo para cima do Paranavaí. Jogando em casa, com o apoio de mais de 45 mil torcedores – o número oficial não foi divulgado – o Alviverde deu mostras de que iria tentar resolver a parada rapidamente.
Sem dar espaços ao adversário, que só protagonizou o primeiro lance ofensivo aos 12?, o Coritiba fez jus ao seu favoritismo e abriu o marcador aos 21?. Em um lance confuso envolvendo o lateral Maurício, o árbitro Héber Roberto Lopes assinalou pênalti. Na visão do árbitro, o atleta interceptou a bola lançada a Edu Sales com a mão. “A bola bateu na minha mão após resvalar na coxa. Não foi proposital”, lamentou Maurício.
Convicto da marcação, Héber autorizou a cobrança de Marcel, que bateu com precisão. Com o gol, o prata da casa alcançou a artilharia, com 10 gols.
Com a vantagem no marcador, o Coxa reduziu o ritmo e passou a chamar o adversário para o jogo. Mas apesar de algumas boas chances, especialmente pela direita, o Paranavaí não empatou. “Nós até que estamos criando, mas há muitos erros de passe. Se corrigirmos isso, reverteremos o placar”, disse o atacante Aléssio.
Preocupado com o aumento do volume de jogo do adversário, o técnico Paulo Bonamigo deu a dica do “puxão de orelha” que daria. “Temos que aumentar a pegada no meio”.
No entanto, como acontecera na primeira partida, o Paranavaí mostrou que não estava morto. Jogando nos espaços do adversário, o time do Noroeste incomodou, com destaque para Neizinho. Para complicar a vida do Coritiba, o capitão Reginaldo Nascimento foi expulso, aos 17?, após receber o segundo amarelo. Os efeitos da exclusão só não foram nefastos porque logo depois, num lance infantil, o zagueiro Rodrigo também foi expulso.
Em uma tentativa de retomar a supremacia no jogo, o técnico Bonamigo sacou o meia Lima e deu passagem a Willians, que recompôs a defesa com três zagueiros. Mais seguro, o Coritiba passou a esperar um erro do adversário para aumentar o marcador. Aos 34 minutos, Juninho roubou uma bola na defesa e lançou para Marcel. Com boa visão, ele serviu Edu Sales, que limpou de um zagueiro e acertou um petardo da entrada da área, fazendo a torcida explodir no coro de “É campeão!”. Sob as luzes de sinalizadores, que iluminaram todo o estádio, o Coritiba conseguiu manter a vantagem e só esperou o apito final de Héber Roberto Lopes para comemorar o 31.º título da história do clube, com sabor de invencibilidade.
Campeão com a cara do técnico
Cristian Toledo
O técnico Paulo Bonamigo olha para o interlocutor e confessa: “Está na hora de ganhar um título. O trabalho que está sendo feito aqui é maravilhoso, mas não vai dar em nada se não formos campeões”. Esse desejo intrínseco de conquistar o campeonato paranaense moveu o Coritiba até ontem, transformando a luta pelo título na mola-mestra do que foi feito e do que será feito no campeonato brasileiro. Programado para o título e arriscando a temporada, o Coxa conseguiu terminar o paranaense invicto. E campeão.
Por isso o trabalho foi intensificado desde dezembro do ano passado, quando o Cori retomou seus trabalhos após a triste eliminação no campeonato brasileiro. Aquela frustração fez Bonamigo perceber que era importante ter uma equipe forte psicologicamente, que absorvesse as pressões e soubesse usá-las a seu favor. Isso fez com que ele sempre aproveitasse os momentos mais improváveis para reunir o elenco para longas conversas, que ele usava para manter o grupo mobilizado.
Colaborou muito para isso o trabalho de toda a comissão técnica. A cada momento, os pontos mais delicados eram citados e ?atacados? por Robson Gomes, Cassius Hartmann e pelos três auxiliares de Bonamigo: Édson Gonzaga, Alciney de Miranda e Hércules Venzon. Tendo o respaldo da direção depois de quase um ano de trabalho, o staff de Bonamigo tinha força para tomar decisões e tranqüilidade interna para resolver problemas.
O primeiro deles aconteceu ainda antes do paranaense. Jabá, pouco tempo antes liberado do clube, acabou acusando indiretamente outros jogadores de estarem participando de noitadas. A diretoria e a comissão técnica sabiam disso, mas pouco fizeram fora dos limites do clube. Enquanto o presidente Giovani Gionédis partia para o ataque, o secretário Domingos Moro, o coordenador de futebol Oscar Yamato e o coordenador técnico Sérgio Ramirez preparavam o ambiente para que Bonamigo ?prensasse? alguns dos notívagos. Alguns dias depois, o lateral Ezequiel foi dispensado – aviso claro para quem quisesse ouvir.
Depois veio a saída de Reginaldo Araújo. O lateral estava para ser emprestado ao Santos, mas mesmo assim viajou para Londrina na segunda rodada. Negócio fechado, o jogador rapidamente foi colocado em um vôo para Curitiba, surpreendendo até a imprensa que acompanhava o clube no Norte. Reginaldo saiu sem falar nada, e evitou que alguma rusga fosse criada. Ao mesmo tempo, abriu-se o caminho para que Ceará fosse o titular, o que já estava programado desde o início da temporada.
Passados os percalços, o Cori rumava tranqüilo com 100% de aproveitamento. Mas Bonamigo não gostava da história, preocupava-se com a possibilidade do elenco começar ou a sentir a pressão da campanha ou a se animar demais com a liderança. Para incutir isso no elenco, ele aproveitou-se de toda oportunidade: após as partidas, mesmo que elas fossem contra equipes fracas como a ADAP, o treinador dizia que “a preocupação não é com a invencibilidade, mas sim com o título”.
Deu tudo certo, mas os sustos aconteceram. A série semifinal contra o Londrina foi sofrida, e o Cori só passou por causa da vantagem dos empates. O 2×2 dentro do Couto Pereira não foi bem recebido pela torcida e pelos jogadores. Fernando, por exemplo, chegou a dizer que o time não poderia jogar daquela forma, “senão perde o campeonato”. De novo, o incêndio foi apagado internamente. A mesma coisa aconteceu com as declarações de Tcheco, que afirmou que era “a hora de lavar a roupa suja” depois do empate contra o Paranavaí, no primeiro jogo da final. Na reapresentação, segunda passada, o meia mudara o discurso, dizendo que às vezes fala “demais”.
Apesar de uma ou outra declaração, o clima no elenco do Coritiba era extremamente favorável. Ao contrário de 2002, quando havia um racha entre grupos, o grupo formado se fecha em momentos decisivos. Mesmo os atrasos salariais não atrapalharam a campanha alviverde. “O que estes jogadores estão fazendo precisa ser premiado. Eles não reclamam, treinam e apostam no futuro do clube”, elogiou Bonamigo, ainda antes do Paranaense.
Sabendo administrar os problemas tão comuns em um grupo de pessoas e aproveitando o desejo comum de sucesso que envolvia os jogadores, o Coritiba chega ao título. “Esse título era fundamental. Se perdêssemos, não recuperaríamos psicologicamente o grupo a tempo do início do Brasileiro. Tudo estaria contra”, reconhece um membro da comissão técnica. A primeira parte da aposta foi cumprida com sucesso. A segunda parte começa no domingo, no Maracanã, contra o Flamengo.
A bola agora é do Alviverde
Ao conquistar ontem o 31.º título da história do clube, o Coritiba retomou ontem, ao derrotar o Atlético Clube Paranavaí, a hegemonia do arqui-rival Atlético Paranaense nos campeonatos estaduais. Desde a última conquista do Alviverde, em 1999, o Rubro-negro ganhou três títulos consecutivos, alcançando o tricampeonato inédito.
Além de reencontrar a conquista paranaense e voltar ao primeiro lugar do pódio com uma expressiva vitória por 2 a 0, após empatar em 2 x 2 em Paranavaí, o título deste ano tem um sabor especial. Há exatos 67 anos, o alviverde não conquistava um campeonato estadual sem perder sequer uma partida. Foram 13 jogos, nove vitórias e quatro empates, com 31 gols marcados e 11 gols sofridos. De quebra, o goleiro Fernando levou o troféu Caju, de goleiro menos vazado, e o atacante Marcel, com 10 gols, ficou com o troféu Duílio, de artilheiro da competição. No futebol paranaense, o último título invicto havia sido conquistado em 1936, pelo Atlético Paranaense.
Todos os aspectos positivos do título tiveram um brilho a mais pelo fato de ter sido decidido no Couto Pereira, o reduto da nação alviverde. A última vez que o torcedor paranaense pôde fazer a festa em casa foi em 89 -no século passado. Em 99, o título veio em uma decisão com o Paraná Clube, que terminou em um empate em 2 a 2, no Pinheirão.
Para os volantes Reginaldo Nascimento e Willians, o título teve sabor de bicampeonato. “Somos bi”, vibrava o jovem Willians, que em 99 recém subira do profissional. Reginaldo Nascimento, que chegou a ser emprestado após a conquista do final dos anos 90 comemorava também o reconhecimento de seu espírito de luta. “É maravilhoso tudo o que está acontecendo”, disse após receber sua medalha. Quem quase não pôde receber a sua foi o zagueiro Edinho Baiano, que chegou a impressionante marca de hexacampeão – quatro vezes pelo Paraná, uma pelo Atlético e esta pelo Coritiba. O jogador, assim como parte da imprensa, ficou detido no portão de acesso ao gramado. “Fiquei com o coração na mão, mas deu tempo de fazer a festa com meus companheiros”, comemorou.
O secretário do conselho administrativo do clube, Domingos Moro, aproveitou o momento para desabafar. “É a resposta para quem duvidou na competência da nova diretoria. É a retomada do sucesso e o primeiro resultado do projeto de revelar jogadores”, disse o dirigente, visivelmente emocionado.
Já paea o comedido técnico Paulo Afonso Bonamigo, que comemorou sua mais expressiva conquista jogando a camisa para a galera alviverde, o caminho do sucesso está aberto, mas ainda há ajustes a serem feitos. “Vamos comemorar hoje essa conquista maravilhosa. No entanto, amanhã (hoje) já começaremos a pensar no Brasileiro e em alguns reforços para a equipe. Concluímos um projeto com sucesso, mas temos outro, grandioso pela frente: o campeonato brasileiro”.