A chapa continua cada vez mais quente no caso envolvendo a máfia do apito paranaense. Além das várias denúncias de manipulação de resultados, contaminação de partidas, ameaças e pressões dos envolvidos e testemunhas, novos e graves escândalos foram revelados ontem no julgamento realizado no Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná (TJD). Os depoimentos colocam em dúvida inclusive as finais do Paranaense 2003 e 2004.
Após os denunciados, começaram a falar as testemunhas de acusação convocadas pela Procuradoria. O primeiro foi o ex-presidente da Comissão de Árbitros da FPF, José Carlos Marcondes, que relembrou o inquérito instaurado em 2004, quando denunciou a existência de uma caixinha para beneficiar seu sucessor na direção de arbitragem, Fernando Luís Homann. Disse, também, que Homann se apoderou ilegalmente da taxa de arbitragem de algumas partidas, como Prudentópolis x Londrina e Londrina x Botafogo-RJ (Série B em 2003), e que o dinheiro só foi repassado aos árbitros depois da abertura de inquérito.
No depoimento mais contundente, revelou que muitas escalas para os jogos do Estadual foram feitas no bar do ex-árbitro Amoreti Carlos da Cruz, embaixo do Couto Pereira, ?mediante interesse de alguns árbitros?. Citou que até o primeiro Atletiba decisivo do Estadual-2004 tinha cartas marcadas: ele soube na segunda-feira que antecedeu o clássico que Marcos Tadeu da Silva Mafra e Carlos Jack Rodrigues Magno iriam para o sorteio. Como prova, disse que avisou o fato no mesmo dia para Evandro Rogério Roman e Sérgio Ramirez, supervisor do Coritiba. As escalas eram divulgadas de forma oficial só às quintas-feiras, e esse vazamento gerava um clima de desconfiança, segundo o ex-diretor. À época, Valdir de Souza era o chefe do apito.
Marcondes confirmou ainda que tirou Antônio de Oliveira Salazar Moreno do jogo Batel x Rio Branco, em 2000, porque recebeu denúncia da ex-esposa do árbitro, dizendo que Salazar e Amoreti haviam vendido a partida para o time de Guarapuava. A denúncia já havia sido feito por Evandro Roman. Marcondes conta que, após o episódio, falou com Salazar e voltou a escalá-lo em jogos ?sem nenhum risco?, mas preferiu não levar o caso ao TJD. A defesa alegou que não trouxe a ex-mulher de Salazar a pedido do cliente.
O ex-diretor inocentou a FPF de interferência nas escalas quando comandou o departamento de arbitragem.
Depois falou o árbitro Evandro Rogério Roman, que primeiramente corrigiu uma informação equivocada de seu depoimento anterior. Ele confirmou que foi Roberto Lopes, e não Mafra, o árbitro de um jogo da Série Prata citado por ele há 20 dias. Lopes, porém, não foi incriminado.
Roman trouxe um envelope com anotações e documentos, mas foi impedido de consultá-los. Depois de confirmar as acusações contra os seis colegas de apito citados anteriormente, mas novamente sem apresentar provas, ele soltou outra surpreendente acusação. Disse que na semifinal do Paranaense de 2003, apitada por ele, um dirigente do Coritiba, acompanhado de Carlos Jack Magno, procurou um dos assistentes pouco antes do jogo contra o Londrina. O objetivo do encontro seria uma tentativa de facilitar as coisas para o Coxa em campo. Roman disse que o assistente tem uma fita gravada dessa conversa.
Em tom irônico, Roman indagou a Domingos Moro advogado de defesa de Magno, Sandro, Salazar e Mafra se sabia quem era este dirigente. Moro reagiu indignado, lembrando que comandava o futebol do Coxa na época, questionando a autenticidade da denúncia e negando qualquer culpa, mesmo sem ser citado nominalmente. O defensor disse que entendeu ser o alvo do recado. Roman afirmou que falará o nome do dirigente e do assistente assim que conseguir essa fita.
Bomba
O depoimento bombástico só aconteceu a uma da madrugada. O supervisor do Prudentópolis, Nelson Boreiko, confirmou que Johelson Pissaia entrou em contato e pediu R$ 60 mil pela vaga na Série Ouro. Segundo o depoente, Pissaia afirmou que Boreiko deveria se encontrar com Marcos Tadeu Mafra, que era o intermediário na negociação, no Shopping Curitiba.
O supervisor foi ao encontro de Mafra e este teria anotado na agenda de Boreiko, de próprio punho, seu telefone e o de outros árbitros envolvidos no esquema. A agenda foi juntada aos autos como prova da acusação.
Adiamento
O julgamento foi interrompido de madrugada, após depoimento das testemunhas de acusação e de defesa. Segundo o presidente do TJD, Bôrtolo Escorsin, a defesa oral dos acusados e o voto dos auditores deve acontecer na quinta-feira. Hoje, a Comissão Disciplinar do TJD julga o caso do Engenheiro Beltrão, que pleiteia a anulação de seu rebaixamento no Estadual de 2005.