São Paulo – Ontem, dez dias antes de encerrar o inquérito sobre a morte do zagueiro Serginho, o delegado Guaracy Moreira Filho, do 34.º DP de São Paulo, tornou público o resultado de sua investigação. "O São Caetano tem responsabilidade pela morte do jogador. O presidente do clube, Nairo Ferreira de Souza, e o médico Paulo Forte serão indiciados por homicídio. Isso eu tenho certeza. Só me resta saber se será por homicídio doloso ou culposo", disse o delegado.
Se confirmado, o indiciamento será pelo fato de o clube saber, desde fevereiro, do problema cardíaco do jogador e, mesmo assim, ter deixado que ele participasse de mais de 40 jogos desde então. Os advogados do São Caetano e do médico transferem a responsabilidade ao Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (Incor), onde Serginho fez os exames que atestaram a doença. O hospital, por sua vez, diz ter feito seu papel e passado os resultados ao clube.
Serginho morreu no dia 27 de outubro, de parada cardiorrespiratória, durante o jogo contra o São Paulo, no Morumbi. O jogador tinha a doença conhecida popularmente como "Coração de Atleta", uma hipertrofia do miocárdio que provoca arritmias cardíacas e pode levar à morte.
Serginho, Forte e Ferreira sabiam da doença, detectada em fevereiro, nos exames no Incor. A diferença entre as versões estaria no conteúdo do diagnóstico. O São Caetano diz jamais ter recebido qualquer indicação de que Serginho corria risco grave. "Como o clube, sabendo dos problemas do jogador, não exigiu um laudo dos exames? Seria uma segunda negligência", disse à Agência Estado uma fonte interna do Incor que preferiu permanecer anônima.
Na manhã de ontem, o cardiologista do Incor, Edimar Bocchi, que examinou Serginho em fevereiro, prestou depoimento no 34.º DP. "Já ouvi 30 pessoas. Todos que eu precisava. O São Caetano sabia do problema", afirmou o delegado.
O jornal Diário de São Paulo, em sua edição de ontem, publicou trecho de um suposto laudo dos exames de Serginho, assinado por Bocchi: "Caso continue exercendo atividades esportivas, Sérgio precisará contar com a sorte para não incorrer em óbito." Este laudo não foi tornado público, mas seria a peça crucial para levar Moreira a indiciar o médico e o presidente do clube.
O Incor, em nota divulgada, disse que permanecerá sem divulgar detalhes dos exames de Serginho em respeito à ética médica. Na mesma nota, a instituição diz que "todos os resultados da avaliação cardiológica do jogador foram informados integralmente ao atleta e também ao clube". Estes resultados, bem como o prontuário médico de Serginho, foram encaminhados pelo Incor ao delegado.
Defesa
Luiz Fernando Pacheco, advogado do São Caetano, diz não acreditar no indiciamento. "Não há fundamento. O clube se cercou dos cuidados necessários levando seus atletas a uma instituição de primeira linha. O resultado dos exames do Serginho tranqüilizaram o clube e deram a segurança de que ele poderia atuar."
Segundo Pacheco, o clube pretendia levar todos os atletas periodicamente ao Incor, portanto, o resultado dos testes ficaria arquivado no hospital junto com os prontuários médicos. Essa seria a explicação para o clube não possuir em suas mãos nenhum laudo médico, seja atestando só o problema ou recomendando a aposentadoria ao jogador.
"O procedimento do Incor é um expediente para isentar o hospital. Mulheres e colegas do jogador confirmam a versão de que ninguém foi informado de que havia risco de vida", diz Leônidas Ribeiro Scholz, advogado de Paulo Forte.