Um informante que descobriu a existência de um esquema sistêmico de doping na equipe de atletismo da Rússia, em escândalo que estourou no ano passado, acusou o país de ter acobertado casos de medalhistas dos Jogos de Inverno de Sochi, em 2014, que teriam testado positivo para substâncias proibidas.

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Em entrevista ao famoso programa “60 Minutes”, da rede de TV CBS, Vitaly Stepanov revelou, na noite do último domingo, que chegou a enviar 200 e-mails e 50 cartas à Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) com evidências destas práticas ilegais de atletas russos. Ex-funcionário da agência antidoping russa (Rusada), ele disse que, na época em que mandou os documentos, a Wada lhe respondeu que não tinha poder para promover uma investigação dentro da Rússia.

Stepanov afirmou ao “60 Minutes” que esteve em contato com o ex-diretor da Rusada, Grigory Rodchenkov, e este último lhe disse que a lista de atletas que usaram esteroides incluía a presença de quatro medalhistas de ouro em Sochi.

E Stepanov reclamou que a Wada só resolveu começar a investigar os russos, no ano passado, depois que ele e sua mulher, a corredora russa Yuliya Stepanova, acabaram se tornando peças fundamentais de um documentário realizado pelo canal de TV alemão Das Erste. O documentário revelou o acobertamento sistemático de doping de atletas russos, que depois veio a ser confirmado pela Wada.

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Porta-voz da Wada, Ben Nichols disse que, antes de 2015, a entidade não tinha autoridade para conduzir suas investigações e estava muito preocupada com a possibilidade das informações passadas colocarem Stepanov em perigo. Nichols destacou que apenas após a criação de um novo código antidoping, que aumentou o poder da Wada a partir do ano passado, é que a agência “agiu sem hesitação formando uma comissão independente” que passou a investigar o escândalo.

Stepanov afirmou ter gravado mais de 15 horas de conversas com Rodchenkov, que acabou renunciando ao seu cargo na Rusada em novembro passado, um dia depois de a Wada suspender a acreditação do laboratório russo. O dirigente, por sinal, avisou ao informante que oficiais do serviço de segurança da Rússia “tentaram controlar cada passo do processo antidoping em Sochi”.

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Com sua segurança ameaçada, Rodchenkov hoje mora nos Estados Unidos, em endereço não revelado, depois de ter passado ao seu ex-empregado, no caso Stepanov, o que chamaram na conversa entre eles de “a lista de Sochi”, que incluiria atletas dopados que participaram dos Jogos de Inverno de 2014.

MINISTRO VÊ APENAS ESPECULAÇÃO – Antes mesmo de a entrevista com Stepanov ter ido ao ar na noite do último domingo, o ministro de Esporte russo, Vitaly Mutko, afirmou que as acusações de Stepanov não são nada mais do que especulações.

Já nesta segunda-feira, por meio de um comunicado oficial, o ministério russo afirmou que estava “certo” sobre a transparência dos controles antidoping da Olimpíada de Sochi, ressaltou que os mesmos eram independentes da ação do governo e contavam, inclusive, com a presença de especialistas estrangeiros.

Após a revelação do escândalo de doping, a Associação das Federações Internacionais de Atletismo (Iaaf, na sigla em inglês) suspendeu a Rússia das competições em novembro do ano passado, sendo que a entidade ainda irá decidir, no próximo mês, se o País poderá estar presente nesta modalidade nos Jogos Olímpicos do Rio, em agosto.