Respondendo “não sei” à maior parte das perguntas que lhe foram direcionadas, Marco Polo Del Nero, presidente licenciado da CBF, deixou a CPI do Futebol sem convencer os senadores. Ele alegou desconhecimento sobre quaisquer questões relacionadas ao Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014 ou à CBF em período anterior ao seu mandato.

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Antes mesmo de ser sabatinado pelos senadores em Brasília, nesta quarta-feira, Del Nero leu um comunicado em que se defendia das acusações do FBI, de que estaria envolvido em um esquema de corrupção. Ele quis fazer suas considerações de forma escrita, “para que ficassem registradas” e se comprometeu em “tratar de todas as questões, inclusive as mais delicadas.”

Apesar de não ter se recusado a responder nenhuma questão e ser poucas vezes interrompido pelo advogado José Roberto Batochio, que o acompanhava, Del Nero não deu respostas satisfatórias para os senadores, que chegaram a zombar de seu conhecimento sobre contratos firmados pela CBF e de sua memória quanto a acontecimentos pessoais, como telefonemas, conversas privadas e viagens.

No início de dezembro, Del Nero foi um dos 16 dirigentes indiciados pela Justiça dos Estados Unidos, fato que o levou a se licenciar da CBF. Ele também é alvo de investigações no Conselho de Ética da Fifa e, se punido, pode ser suspenso do futebol. Del Nero afirmou que as acusações são injustas e que irá provar sua inocência. “As pessoas podem ser indiciadas e ter o direito de fazer sua defesa e, na minha defesa, vou provar que há um equívoco muito grande nesse indiciamento da justiça americana.”

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Ele também desacreditou as acusações de que teria desviado dinheiro do COL e negou que tivesse feito parte do Comitê durante a Copa do Mundo. “Posso assegurar que é inverídica a informação de que entrei no COL em 2012. Entrei em abril de 2015, quase um ano depois da Copa”, alegou.

TENSÃO – O senador Romário (PSB-RJ), presidente da CPI, assumiu o interrogatório com uma série de perguntas sobre corrupção e a culpa da CBF pelo momento “ridículo” em que o futebol brasileiro se encontra. As questões geraram desconforto e fizeram Del Nero gaguejar. “Vi alguns contratos, mas não todos. Não dá para ver todos”, respondeu Del Nero sobre quando assumiu a CBF.

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Romário afirmou ter percebido que o presidente licenciado não possui “muita noção” do que acontece na entidade. Del Nero se defendeu, alegando que não era o presidente no período. “Eu era vice. Vice é vice, vice não manda nada”, afirmou. Um dos presentes que acompanhava a sessão gritou que o “vice é decorativo”, em referência à carta de Michel Temer à presidente Dilma Rousseff. A situação arrancou risadas de alguns senadores.

Por fim, Romário pediu que Del Nero se afastasse definitivamente da CBF. “O senhor é para mim uma das pessoas que mais fazem mal ao futebol brasileiro e internacional. Gostaria de fazer um pedido público para que o senhor se retirasse definitivamente da CBF, para que possamos ter uma CBF séria”. Ele também afirmou que, assim como os dois últimos presidentes da confederação, Ricardo Teixeira e José Maria Marin, Del Nero é um “câncer” do futebol.

Del Nero também enfrentou dificuldades para responder por que não viaja mais para o exterior, para acompanhar jogos da seleção brasileira. “O senhor tem medo de ser preso?”, questionou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Del Nero afirmou que não haveria motivos para isso. Ele também negou que tenha visitado paraísos fiscais e afirmou jamais ter visitado Barbados, contrariando a informação da Anac, responsável pelo controle aéreo no Brasil, que foi trazida à CPI pelos senadores.

VICE-PRESIDÊNCIA – Durante a realização da CPI, foi eleito no Rio de Janeiro como um dos cinco vice-presidentes da CBF o coronel Antônio Carlos Nunes. Ele passa ser o vice-presidente mais velho da entidade, assumindo o cargo de Marco Polo del Nero, caso ele seja afastado definitivamente. A eleição aconteceu após a CBF derrubar liminar que obstruía o pleito.

Romário anunciou a decisão na sessão como um “golpe na CBF” e questionou se, agora, Del Nero deve renunciar. “Estou de licença e, assim que responder às acusações, eu volto. Não vou renunciar”, garantiu Del Nero. Na saída, no elevador, Del Nero afirmou que não houve golpe e que a decisão foi democrática. Romário fechou a sessão afirmando que já sabia que Del Nero é “ladrão e corrupto, hoje descobri que ele também é mentiroso.”