O presidente afastado da CBF, Marco Polo Del Nero, alegou na Fifa que não esteve na reunião no Paraguai citada por testemunhas em que subornos foram supostamente negociados em relação a contratos de TV para torneios sul-americanos. As informações foram passadas ao Estado com exclusividade por fontes em Zurique que acompanham a investigação. Nesta semana, a Fifa ainda convocou o assessor da CBF, Alexandre da Silveira, para prestar seu depoimento.
Em Nova York, durante o julgamento de cartolas do futebol em dezembro, o empresário argentino Alejandro Burzaco revelou na condição de testemunha que foi em outubro de 2014 ao Paraguai. Lá, negociou propinas com Del Nero e com o ex-presidente da Conmebol, Juan Napout.
Acusado nos Estados Unidos de ter recebido US$ 6,5 milhões (aproximadamente R$ 20,7 milhões) em propinas, Del Nero foi suspenso temporariamente do futebol, enquanto a Fifa realiza investigações. Se punido agora na Fifa de forma definitiva, ele pode ver sua carreira na gestão do futebol terminar.
Mas, na esperança de reverter a decisão, Del Nero tentou provar com documentos de imigração que não viajou ao Paraguai para o suposto encontro citado por Burzaco, chefe de uma das empresas que pagava a propina em troca de contratos de TV.
Fontes responsáveis pelo caso admitem que os novos documentos “embaralham” o processo. Os documentos foram apresentados durante o interrogatório que Del Nero foi alvo, em meados de janeiro. Por cinco horas e meia, ele teve de responder a perguntas detalhadas da Fifa sobre os indícios apresentados no tribunal de Nova York. Consultado, o advogado do presidente afastado da CBF, Marcos Motta, afirma que não pode fazer comentários, pois o processo segue sob sigilo.
O interrogatório se prolongou por conta da quantidade de evidências. Cada um dos detalhes apresentados na corte norte-americana contra Del Nero foi questionado, entre eles os acordos com José Maria Marin para repartir o dinheiro.
Em uma das evidências, os investigadores apontaram como revelou que Del Nero herdou a propina que, até 2012, era paga a Ricardo Teixeira. Mas o montante de US$ 600 mil (R$ 1,9 milhão) foi aumentado para um total de US$ 1,2 milhão (R$ 3,8 milhões).
O argumento sobre a viagem a Assunção foi similar ao que Napout usou na semana passada para tentar convencer a corte nos EUA a cancelar seu julgamento e realizar um novo processo. Para tentar provar isso, os advogados apresentaram documentos do voo e da imigração citado pelo executivo. Mas, na ficha das autoridades aeroportuárias, Burzaco não apareceria como um dos viajantes em um avião que, de fato, levava vários cartolas argentinos para Assunção. Ele aparece apenas em uma declaração da imigração paraguaia, apontando sua entrada no país uma só vez em 2014. Mas apenas no mês de dezembro.
ASSISTENTE – Na Fifa, a opção escolhida pelos investigadores foi a de ampliar o número de testemunhas e evidências colhidas para que uma decisão seja tomada sobre Del Nero.
Para isso, a entidade decidiu convocar na última segunda-feira Alexandre da Silveira, um ex-funcionário de Ricardo Teixeira na CBF e que foi mantido nas administrações seguintes. Silveira foi citado na corte em Nova York como sendo a pessoa para qual eram feitas as ligações para falar com os dirigentes brasileiros para tratar de propina.
Segundo Burzaco, propinas foram pagas a Ricardo Teixeira, no valor de US$ 600 mil (R$ 1,9 milhão) por ano entre 2006 e 2012. “em contas bancárias indicadas por ele ou seu secretário pessoal, Alexandre [Silveira]”.
O assistente da CBF, apesar de percorrer o mundo com seus chefes nos últimos anos, não viajou até Zurique para o interrogatório. A audiência ocorreu por videoconferência.