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Defesa de Marin diz que Fifa e Conmebol foram ‘cúmplices’ em casos de corrupção

A Fifa e a Conmebol foram “cúmplices” na corrupção do futebol e a prática de pagamento de propinas fazia parte da “estrutura” destas entidades. A denúncia faz parte da posição adotada pelos advogados do ex-presidente da CBF José Maria Marin. Eles questionam numa corte norte-americana a iniciativa da Fifa de se apresentar como vítima e pedir ressarcimento aos condenados pela Justiça.

Marin foi condenado por corrupção no final de dezembro de 2017 e, no dia 22 de agosto, conhecerá sua sentença. A promotoria americana pede dez anos de prisão e uma multa de pelo menos R$ 26 milhões. Mas a defesa do brasileiro deixa claro que não considera a Fifa e outras entidades do esporte como vítimas do ex-cartola.

O Estado revelou com exclusividade na semana passada que a CBF não fez solicitações para reaver o dinheiro que teria sido fraudado por Marin. Mas, apresentando-se como vítimas, a Fifa e a Conmebol querem recuperar pelo menos US$ 120 milhões (cerca de R$ 466 milhões) de Marin e dos demais dirigentes que já admitiram os crimes.

“Marin abusou de forma grosseira de sua posição de confiança na comunidade do futebol para se enriquecer, enquanto causava dano para a Fifa e seus membros”, disseram os advogados da Fifa, numa carta ao tribunal em Nova York. “Marin conspirou para fraudar a Fifa, ao aceitar pagamentos ilícitos”, insistiram os advogados.

Assim, a Fifa quer recuperar cerca de US$ 97 mil (R$ 376 mil) em gastos que teve com viagens e salários ao brasileiro entre 2012 e 2014. Isso inclui o pagamento de US$ 17 mil (R$ 66 mil) que a entidade teve com dirigente durante a Copa do Mundo no Brasil. A entidade também quer que o brasileiro pague pelos custos de advogados, no valor de US$ 125 mil (R$ 485 mil), apenas durante os dias do julgamento, no final de 2017. A defesa preparada pela Fifa ao longo de três anos ainda custou um total de US$ 28 milhões (R$ 108 milhões) em honorários para advogados, valor que a Fifa também quer recuperar.

Numa resposta à corte, os advogados de Marin rejeitaram os pedidos. Segundo eles, não existem evidências do dano causado às entidades que supostamente seriam vítimas. Se algo tiver de ser pago, o brasileiro admite que tal volume não poderia ser superior ao salário que ele recebeu enquanto ocupou cargos.

Mas, acima de tudo, a defesa de Marin insiste que “a Fifa e organizações subsidiárias não deveriam receber uma restituição por conta de terem sido cúmplices nas ofensas denunciadas”. Ao se defender, o brasileiro ainda argumenta que “não se pode exagerar o grau no qual a conduta sob julgamento nesse caso era enraizada no tecido (estrutura) da Fifa”.

A versão de Marin se contrasta com a posição que a Fifa do presidente Gianni Infantino tem tentado assumir, mostrando que ela, assim como a comunidade do futebol, foram vítimas de cartolas que fariam parte do passado. O gesto da Fifa ainda tem como objetivo dar uma sinalização aos patrocinadores, preocupados em não se envolver com uma entidade ainda com problemas na Justiça.

Mas seu tom de vítima vem sofrendo fortes abalos. Nesta semana, entrou em vigor um novo código de ética na entidade em que a palavra “corrupção” foi eliminada. Para completar, um eventual crime teria apenas dez anos para ser investigado e, qualquer ato fora desse prazo, precisaria ser arquivado.

“A preocupação da nova Fifa é a de fazer o combate à corrupção mais difícil”, atacou Miguel Maduro, ex-presidente do Comitê de Governança da Fifa e que pediu demissão sob a gestão de Infantino depois de ter sido pressionado a fazer vistas grossas para certas irregularidades.

Para a promotoria norte-americana, “o fato de a corrupção no futebol ser endêmica não faz de Marin menos culpado”. Num documento entregue à corte, os procuradores dos Estados Unidos deixam claro que, ao assumir a CBF, Marin “imediatamente estendeu a mão para propinas”.

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