Cury acredita que em dois anos coloca a FPF em ordem

Há cerca de quatro meses à frente da Federação Paranaense de Futebol (FPF), Hélio Pereira Cury garante que já começou a colocar a casa em ordem. Pagar contas e negociar com credores de uma dívida milionária podem não ser tarefas das mais agradáveis, mas ele nem pensa largar o trabalho pela metade.

Cury assumiu a presidência da FPF no dia 21 de novembro de 2007. Ganhou o cargo na Justiça, após longa disputa com Onaireves Moura, o polêmico cartola que dirigiu a entidade por 22 anos. Agora, Cury tenta conquistar um mandato completo, desta vez com vitória nas urnas.

A eleição está marcada para o dia 18 e a parada não será nada fácil para o atual presidente. Seu principal adversário é o secretário-chefe da Casa Civil do governo do Paraná, Rafael Iatauro, que entrou na disputa com o respaldo do governador Roberto Requião e toda a força política que o cargo lhe dá.

Mas Cury garante que não teme a concorrência e está confiante que terá a chance de dar seqüência ao trabalho. ?Tem que haver uma inversão de valores. A FPF tem que servir, e não se servir de seus filiados?, afirma, ao antecipar parte de seus planos em entrevista à Tribuna.

Tribuna: O senhor está no comando da FPF há quatro meses. Quais foram suas principais realizações?

Hélio Cury: Conseguimos colocar a casa em ordem. Desde o dia 22 de novembro, todas as contas estão pagas. INSS, fundo de garantia dos funcionários, salário, vale-transporte, luz, água, telefone… A dívida anterior está sendo negociada. As contas são muito grandes. R$ 22 milhões para o INSS, R$ 8 milhões de IPTU, R$ 8 milhões para o Atlético. Só aí já são quase R$ 40 milhões.

Tribuna: Quais os principais desafios do próximo presidente?

Hélio Cury: Eu não sou vendedor de ilusões. Temos que restabelecer a credibilidade da FPF. Nós temos um total de 59 processos cíveis, 56 tributários, três criminais e 53 trabalhistas. Não temos nem conta bancária. Estão todas bloqueadas. Toda a renda que entra é penhorada. Temos que dar um fim no Pinheirão, que é um elefante branco. Acredito que em dois anos dá para deixar a coisa bem encaminhada.

Tribuna: Quais os seus planos para o Pinheirão?

Hélio Cury: Como metade da área é da prefeitura e metade da FPF, o caminho é uma composição. A prefeitura ficar com a área seria ideal, porque ela tem necessidade de um ginásio de esportes. Na área do Pinheirão há a condição de fazer um ginásio de primeiro mundo e um espaço comercial, para que se tenha uma arrecadação. Seria 75% para pagar as dívidas e 25% para a federação trabalhar e melhorar sua condição.

Tribuna: Qual a fórmula ideal para o Campeonato Paranaense?

Hélio Cury: Vamos tentar enxugar o campeonato, a partir do ano que vem caindo quatro equipes e subindo duas, até restar apenas 12. Assim, o calendário ficaria mais tranqüilo e a verba de televisão, distribuída entre menos participantes, daria uma situação melhor aos clubes, que poderiam montar melhores equipes e fazer um campeonato mais forte.

Tribuna: Nos últimos anos de mandato de Onaireves Moura, o senhor brigou muito para conquistar esse espaço. Agora surgiram outros grupos interessados. Esperava uma disputa tão intensa?

Hélio Cury: O que me surpreende é que o Rafael Iatauro estava aqui, há quatro anos, apoiando o Moura. Já como conselheiro do Tribunal de Contas e sabendo que ele era um deputado cassado, que tinha um histórico nada aconselhável. Estamos sentindo uma pressão muito grande no pessoal do interior, em todas as ligas, com prefeitos e deputados pressionando. Por outro lado, outros políticos estão temerosos com a situação e têm nos procurado para ajudar, dizendo que esperavam que isso ficasse no campo esportivo e não fosse para o campo político. Quando o governador lança um candidato, não tem como dizer que não é político.

Tribuna: Nos primeiros anos de Moura, o senhor participou da diretoria. Em que momento decidiu se afastar?

Hélio Cury: Em 1984, eram três chapas e convidaram-me para compor a que tinha o Moura como presidente. Ele vinha de um bicampeonato pelo Atlético e todos apostavam em uma virada na FPF. Entrei e o primeiro mandato foi ótimo. Reestruturamos todo o futebol amador. Mas no segundo mandato, o caminho começou a se direcionar em outro sentido. Aí me afastei e passei a ser crítico. Num belo dia, escutei ele falando que só sairia da FPF quando quisesse e achei que era hora de alguém fazer alguma coisa. E foi o que fizemos, mostrando que era viável administrar de outra maneira. Em 2004, vendo que poderia perder a eleição, o Moura instituiu o voto aberto em cima da hora. Muitos, pressionados, desistiram de votar. Depois disso, foi criado no mínimo mais uns R$ 15 milhões em dívidas.

Tribuna: Acredita em uma disputa mais tranqüila este ano?

Hélio Cury: Vamos respeitar o direito de todos e não e usar a força. Nossa intenção é que o voto seja secreto, pois o filiado tem que ter autonomia, votar sem pressão.

Tribuna: O trabalho na FPF toma quanto tempo de seu dia?

Hélio Cury: Tenho ficado aqui em torno de oito horas por dia. Poderia ser menos, mas, na situação que está, não tem como ser diferente. Hoje, para administrar uma federação de um estado do tamanho do Paraná, um presidente tem que ficar ao menos seis horas por dia à disposição.

Tribuna: Rafael Iatauro diz que pretende continuar na Casa Civil e dar expediente na FPF depois das 18h. Acha que é viável?

Hélio Cury: É completamente impossível. Tem campeonato andando ao longo de toda a semana. Os problemas são sérios. O presidente tem que ter uma equipe forte, preparada, e estar presente diretamente, por pelo menos seis horas por dia. Tem que chegar às 14h e sair às 20h, no mínimo.

Tribuna: Nos últimos dias, causou polêmica a isenção e descontos de taxas para ligas e clubes amadores. Ficou a impressão de uma jogada eleitoral. Por que tomou essa decisão?

Hélio Cury: Esse ato só valerá a partir de 2009, quando as ligas não pagarão mais alvará. Os clubes pagarão somente 25% do salário mínimo. Também baixei a taxa de registros dos atletas. O futebol amador não tem fins lucrativos. A arrecadação é mínima e as taxas estavam muito altas. É uma reivindicação antiga. O que fizemos foi efetivá-la para o futuro. Seria eleitoreira se fosse a partir de agora. Mas é para 2009.

Tribuna: Em breve teremos a confirmação das sedes da Copa do Mundo de 2014. Qual é o papel da FPF na candidatura de Curitiba?

Hélio Cury: A federação está mantendo contato com o Ricardo Teixeira (presidente da CBF). Estivemos na posse dele e mostramos todo o quadro da FPF. Ele não vem aqui há muito tempo, desde que a renda de um jogo do Brasil não foi repassada à CBF. Nós restabelecemos as relações e passamos a pagar todas as taxas, que não eram pagas. Nessas conversas, percebemos que Curitiba e o Paraná têm tudo para ser uma sede. Na minha visão pessoal, a Copa virá para cá.

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