O plano é audacioso: transformar Curitiba na sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Mas, para o presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Clodualdo Pinheiro Júnior, tem tudo para dar certo. Curitiba Human 2016 – A Estratégia do Menos foi apresentado no último dia 18 de março, ao presidente interino do Comitê Olímpico Brasileiro, André Richer, no Rio de Janeiro, ao presidente interino do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), André Richer.
?A proposta foi muito bem recebida e os membros do comitê se disseram impressionados e afirmaram que Curitiba tem grandes chances de disputar a vaga. Mas o projeto só estará pronto em 2008. Até lá, vamos amadurecendo as idéias?, explica Pinheiro.
Para o presidente do Ippuc, Curitiba leva vantagem sobre dois fortes concorrentes – Rio de Janeiro e São Paulo – porque é uma cidade que sofre menos com a violência. Além disso, Pinheiro aponta a distribuição logística da cidade como ponto forte. Tanto é que, já por duas vezes, a cidade recebeu a visita de comitivas chinesas que vieram conhecer os sistemas de transporte e zoneamento urbano da capital para aplicá-los em Pequim, sede dos próximos Jogos Olímpicos, em 2008.
?Na conversa com os chineses, ficou claro o objetivo deles: ganhar todas as medalhas de ouro e mostrar ao mundo o que eles chamam de Netos de Mao. A intenção é utilizar as Olimpíadas para mostrar o peso e a importância da China no cenário internacional?, afirmou Pinheiro.
Pinheiro afirma ainda, que na corrida para 2012, Paris deve vencer a batalha pela capacidade da cidade em desenvolver programas e construção de locais adequados para receber os Jogos em tempo hábil. ?Paris já mostrou, em outras oportunidades, que consegue fazer isso numa rapidez muito grande. E a cidade é candidata forte porque não é alvo de terrorismo, conta com esportes olímpicos de excelência e, filosoficamente, a França quer passar ao mundo, através dos Jogos, ser o berço da democracia contemporânea?, disse.
COB espera caderno de encargos do COI
Embora tenha considerado interessante a proposta de Curitiba, o presidente em exercício do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), André Richer, afirmou que este não é o momento de analisar o tema.
Richer revelou ontem, a O Estado, que o encontro foi informal e que o COB aguarda a definição, pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), sobre a sede dos Jogos Olímpicos de 2012. Só depois desta definição e da divulgação do Caderno de Encargos do COI para a candidatura aos Jogos de 2016 é que o COB vai decidir se irá destacar uma cidade brasileira para concorrer à sede das Olimpíadas de 2016. E, sendo o caso, o COB ainda definirá todo o processo desta candidatura.
Por determinação do COI, a candidatura de uma cidade aos Jogos Olímpicos tem que passar obrigatoriamente pelo Comitê Olímpico nacional em questão.
Proposta na contramão
Curitiba, em 2016, entraria na contramão destas idéias. Fugindo das mega-construções, as Olimpíadas aqui realizadas buscariam um resgate dos Jogos Olímpicos para a esfera do homem. ?Nossa intenção é fazer a olimpíada mais espartana. Com o mundo vivendo diversas transformações climáticas, grandes tragédias, é hora de parar e discutir certos valores do ser humano que estão sendo deixados de lado?, explicou. O objetivo é promover um evento que mostre a capacidade do homem em vencer obstáculos, com eventos paralelos para discussão de temas pertinentes para a melhoria do planeta.
Pinheiro acredita que a idéia do projeto curitibano deva agradar o Comitê Olímpico Internacional (COI) como agradou ao COB. Como nunca um país da América do Sul recebeu os Jogos, Pinheiro acredita que isso pode contribuir ao pleito curitibano. Além disso, ele afirma que Curitiba é conhecida internacionalmente pelo exemplo de sucesso de planejamento urbano. ?Isso também é um ponto positivo. A União Internacional de Arquitetos já se mostrou interessada e vai realizar um concurso internacional de projetos para a cidade olímpica?, afirmou.
Detalhes sobre os locais onde aconteceriam os jogos e instalação de ginásios, ainda não estão definidos. O que se sabe é que a vila olímpica ficaria na área entre o Colégio Militar e o Jockey Clube.
Apoio dentro do Brasil
Curitiba está adotando duas estratégias básicas para conseguir ser candidata aos Jogos em 2016. Em primeiro lugar, a cidade está buscando o apoio de outras cidades brasileiras para a candidatura de Curitiba.
A segunda estratégia é trazer para a cidade esportes olímpicos pouco desenvolvidos no Brasil. A idéia é formar centros de excelência a exemplo do que foi feito com a ginástica olímpica e com o vôlei feminino.
As visitas em busca de apoio de outras cidades devem começar ainda neste mês. Pinheiro afirma que o Rio de Janeiro – potencial concorrente – já mostrou interesse por apoiar Curitiba na disputa.
Preparo
Como ainda faltam cerca de onze anos para os Jogos de 2016, a cidade está desenvolvendo projetos e políticas públicas que tenham como foco as Olimpíadas. ?Sediando os Jogos, teremos que ter um sistema de segurança impecável. Por isso, o programa prevê a criação de corredores de segurança. Será feito um mapeamento dos bolsões de violência para saber como acabar com eles. Independente se a cidade sedie ou não os Jogos, as melhorias serão muito benéficas?, afirma o presidente do Ippuc.
Também estão previstas melhorias em todos os serviços de infra-estrutura da cidade – viária, água, esgoto – para que esteja compatível e suficientemente estruturada para receber uma comitiva olímpica.
O programa prevê também uma mudança na alimentação das crianças em idade escolar. A educação nutricional, como está sendo chamada, vai promover mudanças na merenda escolar, de forma a potencializar o desenvolvimento físico e intelectual dos futuros atletas.