Após pedir demissão do São Paulo, o técnico Cuca explicou por que tomou a decisão de deixar o comando da equipe. Em entrevista coletiva ao lado do diretor-executivo de futebol Raí, nesta quinta-feira, o treinador afirmou que seu estilo não deu liga com o elenco. Cuca se despede do clube após 26 jogos: nove vitórias, 10 empates e sete derrotas, com 47% de aproveitamento. O time está em sexto lugar no Campeonato Brasileiro.
“Lógico que não é em cima de uma partida. Conversamos ontem (quarta-feira) à noite com Raí e (gerente Alexandre) Pássaro, hoje (quinta) expus mais uma vez meu pensamento em cima do que tem sido essa sequência de jogos e eles entenderam. Neste momento, não estou pensando em mim no lado profissional, estou pensando mais no próprio São Paulo. Acho que o melhor hoje é minha saída para que possa ser criado um fato novo para esse grupo. Teve um investimento alto e foi formado um grande elenco. É fácil falar que faltou isso ou aquilo, mas para mim não faltou nada. Eles me deram tudo que eu pedi, mas o trabalho infelizmente não fluiu”, afirmou Cuca.
“Tivemos uma arrancada, depois uma caída. Após a Copa América, a mesma coisa. Pelo grupo, o São Paulo pode estar em uma posição melhor e eu senti que era o momento que eu deveria sair em cima dos jogos que não têm sido contundentes em termos de desempenho, principalmente, e acabamos por entender assim. Quero agradecer a Pássaro, Raí e (presidente) Leco. Se as coisas não deram certo, não foi por culpa deles. Não deu uma liga sobre o que eu penso de futebol e o que pude produzir. Esperei muito tempo pra vir pro São Paulo, esperava sair vencedor, mas infelizmente não ocorreu. São coisas da vida. Desejo sorte ao São Paulo, tenho certeza de que esse grupo vai dar uma resposta positiva até o fim do ano, vai classificar o São Paulo de forma direta para a Libertadores, que era o nosso projeto”, acrescentou.
Cuca também se mostrou chateado com os xingamentos de torcedores durante e após a derrota para o Goiás, na noite de quarta-feira, no estádio do Morumbi. Na entrevista coletiva logo depois da partida, o técnico falou que também protestaria se estivesse nas arquibancadas do estádio. Nesta quinta, ele ainda lamentou não ter conseguido conquistar um título em sua segunda passagem pelo clube (a primeira tinha sido em 2004).
“Estou muito triste. Esperei 15 anos para voltar aqui. Mas são coisas do futebol. É a primeira vez em todos os clubes que estive que eu fui xingado. Foi a pior coisa que existe, dói demais. Até dei risada de um cara que me chamou de cabelo de boneca. Já passei duas vezes por Flamengo, duas no Fluminense, por Botafogo, Cruzeiro, Atlético-MG, Santos… Isso dói demais. A ideia de ir embora não é só minha. Se perguntasse para grande parte da torcida, ela ia querer. Se as coisas não estão fluindo, tem que dar espaço para outro. E minha vida vai continuar”, disse.
Cuca retornou ao São Paulo em abril e pediu demissão na tarde desta quinta-feira. Em outras respostas de sua entrevista coletiva no CT da Barra Funda, o treinador voltou a falar que a falta de padrão, cobrada até pelo lateral-direito Daniel Alves, foi ocasionada porque seu estilo não casou com o do São Paulo.
Confira abaixo as outras respostas do técnico:
Diversos técnicos passaram pelo São Paulo nos últimos anos. Qual é o maior problema?
Não sei dizer ao certo qual é o problema. Se eu soubesse, teria resolvido. Eu tentei fazer meu trabalho. Cada um tem uma característica. Vocês (jornalistas) bateram muito no padrão de jogo. Todo ser humano tem sua característica, em qualquer função, e eu tenho a minha, assim como outros treinadores têm seus métodos. Eu gosto de marcação alta, time rápido. Não gosto de time com morosidade para construir jogadas. Infelizmente, meu estilo não casou com o estilo do São Paulo, e isso é a falta do padrão de jogo. Não combinou, mas não é por isso que os caras não são bons, eles são ótimos jogadores. Até por isso estou saindo, para vir outro profissional e tirar o que os jogadores podem dar. Ou vocês acham que eles estavam contentes comigo? Tenho certeza de que os jogadores vão vingar e dar uma arrancada, como já deram outras vezes.
Não acha que a decisão de sair foi precipitada?
Se hoje for perguntar para todos, não é o caso de eu estar me demitindo. Se eu estou colocando meu cargo à disposição e a diretoria aceita, é que eles não estão contentes com meu trabalho, assim como o torcedor. O investimento foi muito grande. Vocês mesmo têm cobrado padrão de jogo. É característica de cada um. É a minha característica, mas não combinou. Foi isso que conversei. Em um outro modelo, pode ser que o São Paulo dê uma arrancada nesta reta final. Não era o que eu queria. Demorei muito tempo para vir para cá, queria uma conquista aqui, mas não foi possível e vida que segue.
Você sai com qual sentimento?
Saio com sentimento ruim. Você passar seis meses em um grande clube não é o ideal. O São Paulo é especial, mas as coisas não fluíram, não deu aquela liga. Tem um momento do futebol que as coisas precisam ir indo por conta própria, mas, mesmo nas vitórias, tivemos que fazer muita força. Não é feio falar isso. Naturalmente, foram poucas vezes. Sentimento é de que poderia ter sido melhor, mas não aconteceu. Peço desculpas.