No sonho dos dirigentes, esta semana iria começar com mais um passo para a volta do futebol. A Federação Paranaense de Futebol esperava o aval da secretaria estadual de Saúde para a realização de treinos coletivos, e botava fé no retorno do Campeonato Paranaense no dia 28 de junho. Mas o infelizmente inevitável crescimento no número de casos do novo coronavírus criou um impasse que pode inviabilizar os planos dos cartolas.

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Isto porque a prefeitura de Curitiba acionou no sábado (13) a chamada bandeira laranja e apertou o cinto para diversas atividades econômicas. Segundo o Município, os clubes também entram na restrição de funcionamento – o que impediria o Athletico de treinar. Coritiba e Paraná Clube, por oficialmente treinarem em Colombo e Quatro Barras, respectivamente, por ora continuam com seus treinos liberados.

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Só que agora pode acontecer um ‘efeito dominó’ – afetadas pela decisão de Curitiba, as prefeituras da Região Metropolitana também podem dar um passo atrás nas decisões de flexibilização. E ainda há a posição do governo do Estado – na sexta-feira (12), o secretário de Saúde Beto Preto disse que seriam anunciadas novas medidas na segunda-feira (15).

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Esse recuo das autoridades era previsível. No momento em que se afrouxam as restrições, mais gente circula nas ruas e principalmente em lugares fechados. Somando a isso a sensação de ‘liberou geral‘ que tomou conta de Curitiba e chegamos na escalada de novos casos e óbitos registrados. E ainda não tivemos o efeito total da reabertura de quase todo o comércio, incluindo aí os shoppings.

A ameaça à volta do futebol

Clubes e FPF sabiam dos alertas emitidos por especialistas nos últimos dias – mesmo os mais favoráveis à realização de partidas com a adoção de um protocolo médico rigoroso passaram a ser pessimistas com a volta do futebol. Não é à toa que clubes usaram as redes sociais para dizer que estava tudo bem com as precauções tomadas no reinício dos treinos. Era uma espécie de defesa preventiva.

Giovanni Augusto passa por exames no Coritiba. Foto: Divulgação/CFC

Só que havia preocupação com o aumento dos casos e com a dificuldade de manter a conduta de dentro dos CTs para fora. Como muita gente falou, os clubes podem ter a estrutura capaz de evitar contágio e de realizar treinamentos, mas da porta pra fora o mundo continua girando. E os riscos da pandemia só cresceram, não diminuíram.

O que é certo é que se realmente o Athletico não puder treinar a partir desta segunda, aparece um grande ponto de interrogação sobre a volta do futebol paranaense. Com três dos oito clubes que estão nas quartas de final parados, como marcar ou mesmo prever o retorno do Estadual?

Estratégias

A movimentação dos clubes paranaenses, em especial do Trio de Ferro, começou ainda no sábado, numa reação em polvorosa poucas vezes vista recentemente. Dirigentes tentavam ao mesmo tempo tomar pé da situação e garantir para todos que perguntavam que não há risco nos treinamentos. Articulou-se até uma raríssima união (que geralmente não acontece por conta das rusgas entre Athletico e Coritiba) em torno da volta do futebol.

O posicionamento que a FPF levará às autoridades é que clubes de futebol são diferentes dos clubes sociais. Além disso, vai se usar o exemplo dos shoppings, que no plano original de bandeiras de alerta feito pela prefeitura de Curitiba tinha o fechamento em bandeira laranja, o que não se confirmou.

A realização dos testes, como no Paraná Clube, será usada como argumento pelos cartolas. Foto: Divulgação/PR

Aí vai valer – ou não – o lobby do futebol. A força de entidades patronais segurou a abertura dos shoppings, mas não evitou o fechamento dos bares. A grita foi generalizada, e quem gritar mais alto pode aproveitar a incoerência das decisões oficiais para levar vantagem.

Mas vale a pena?

Só não sei se é o caso. A condução oficial desta pandemia é esquizofrênica – toda hora as decisões mudam. Nosso isolamento social foi pra inglês ver. Infelizmente foram sendo usadas as brechas permitidas para arrombar a porta. Nessa onda de levar vantagem só se olhou para o próprio nariz, mesmo que isso significasse a ameaça à saúde pública.

Essa é pra mim uma das imagens mais marcantes do futebol em tempos de pandemia. Dorival Júnior com máscara e face shield no treino do Athletico. Foto: Divulgação/CAP

E bato de novo em uma tecla que foi ressaltada pelo Casagrande na semana passada. Por que a pressa? Por que não esperamos mais pela volta do futebol mas voltando com mais segurança? Somos como aquele cara que quebrou a perna e tinha que esperar quatro meses pra se recuperar totalmente, mas como dava para andar com dois meses e meio da lesão ele saiu saracotear por aí, e acabou mancando pelo resto da vida.

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As autoridades têm a obrigação de liderar um enfrentamento sério e consciente da pandemia do coronavírus. Não se pode abrir por pressão, e também não dá para fechar por pressão. Apoio na ciência, opinião de quem entende e foco na conscientização – é o que precisamos neste momento. Inclusive pensando na volta do futebol.


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