Na esteira da medida provisória que muda a forma de negociação dos direitos de transmissão, voltou-se a falar na união dos clubes para ter mais poder de barganha com os grupos de mídia. É bom ouvir o assunto de novo na boca dos dirigentes, mas infelizmente há mais motivos para acreditar que é pra inglês ver. Não se vê há muito tempo – sendo generoso – uma união real dos clubes brasileiros.
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Vejamos pela própria MP. A medida altera radicalmente a forma como se trata dos direitos de transmissão do futebol brasileiro. Tem impacto gigante nos contratos futuros, e deixa a porta aberta tanto para uma recomposição de forças quanto para uma concentração ainda maior em poucos clubes. Ela foi discutida com vários cartolas? Não, apenas entre a presidência da República e o Flamengo.
Só um ganha?
Qual era o interesse dessa medida provisória nesse momento por parte do governo federal? Apenas tumultuar as coisas, inclusive sendo anunciada no mesmo dia da prisão do notório Fabrício Queiroz. A sensação de que foi uma ação casuística foi reforçada pela Câmara dos Deputados, que a trata como “MP do Flamengo”.
Do outro lado, qual é a postura dos dirigentes do clube carioca? Prega união para a mudança dos direitos de transmissão, mas atropelou as decisões das autoridades de saúde, voltou a treinar antes do permitido, pressionou a federação do Rio de Janeiro para o retorno dos jogos, colocou Fluminense e Botafogo como inimigos e lutou pela MP sem tratar com outros clubes.
É possível imaginar que o Flamengo possa ter um futuro bem vantajoso de negociações de direitos de transmissão. Afinal, é a maior marca do nosso futebol, tem audiência nacional e interesse até mesmo dos rivais. E alguém aqui vê o Flamengo liderando uma união de clubes para que a grana seja melhor dividida? O interesse é dividir o bolo ou aumentar ele e ficar com a maior parte?
Aqui no Paraná
A famosa ‘lei de Gérson’, que diz que é preciso levar vantagem em tudo, é levada ao extremo no futebol. Ficou claro nestes 100 dias sem partidas que não há articulação para que tenhamos a melhora no esporte. Cada um ficou lutando pelo seu lado, tentando adaptar em seu benefício o retorno gradual às atividades e deixando os atletas em segundo plano.
E o que deveria acontecer, a união dos clubes para melhorar as competições, arrumar nosso calendário e dar força ao produto futebol? Não se vê isso. As picuinhas são mais fortes que o que realmente importa. É só ver o que houve essa semana.
Em entrevista ao Fernando Rudnick, o presidente do Athletico Mário Celso Petraglia disse assim: “Tenho uma visão, mas posso estar enganado, claro, que a única forma de melhorar essa condição, de trazer dinheiro mais forte, é a união dos clubes”. Mas apenas quatro dias depois vem a notícia de que o Athletico está processando o Coritiba por conta da polêmica da “torcida humana”. Acima dos méritos das questões, que ideia de união é essa?
E os direitos de transmissão?
A medida provisória agora será discutida no Congresso Nacional. Já há mais de 90 emendas dos deputados federais. Dificilmente ela será aprovada sem alterações – isso se for aprovada. De qualquer forma, o texto precisaria ser o pontapé inicial de uma discussão séria sobre direitos de transmissão que trate de diminuir o abismo financeiro entre os clubes. Mudar só por briguinha não rola. Tem que ser bom pra maioria.
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